Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 19, 2008

Clóvis Rossi - Contaminação




Folha de S. Paulo
19/6/2008

Algumas penúltimas palavras sobre envolver ou não os militares no combate ao crime:
1 - Mais de um leitor parte, em seus e-mails, da pressuposição de que sou a favor desse envolvimento. Não. O que defendi, lá atrás, quando começou a surgir o tema, foi a necessidade de um estudo profundo, sério, menos emocional, menos "palpiteiro" a respeito.
Que se estude qual o papel das Forças Armadas em um país como o Brasil. Não é lógico que o Brasil seja na América Latina o que mais gasta em Defesa, segundo recente levantamento do Centro de Estudos Nova Maioria, da Argentina, ou o país que, depois do Paraguai, mais aumentou o orçamento da área, sem que a sociedade saiba direito para que servem tais gastos.
2 - É respeitável, mas imensamente inconvincente, o argumento de que as Forças Armadas devem ficar fora do combate ao crime porque, se entrassem, seriam "contaminadas". Bom argumento, mas que demanda complementação. A seguinte complementação: a polícia pode ficar "contaminada"?
Por que, se são ambas instituições armadas a serviço da segurança do país e da sociedade?
Se é imperioso evitar a contaminação, então deveríamos retirar também a polícia do combate ao crime. O que usaríamos no lugar dela? Um batalhão de anjos capazes de voltar puros e imaculados dessa ingrata missão?
Mais: já não existe a tal de "contaminação"? As armas exclusivas das Forças Armadas, que, vira e mexe, são encontradas com criminosos, aparecem em tais mãos por milagre ou por conivência?
O fato é que o crime permeia toda a sociedade. Está no morro mas está também no asfalto. Está na periferia mas está também nos bairros de luxo. Para evitar, portanto, a "contaminação", só levando Exército, Marinha, Aeronáutica, PMs e polícias civis para, digamos, Fernando de Noronha.

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