Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, junho 10, 2008

Clóvis Rossi - Contadores de histórias. E só



Folha de S. Paulo
10/6/2008

Lamento ter que saudar a incorporação de Marina Silva à equipe de colunistas desta Folha com uma discordância ainda que apenas parcial. Diz a ex-ministra: "O Estado cresceu, mas não amadureceu".
O problema é bem mais grave. O Estado cresceu, mas tornou-se impotente. Duvida? Eis o que diz Monique Canto-Sperber, intelectual francesa em "Le libéralisme et la gauche": "A evolução da realidade econômica, com a financeirização da economia, a autonomização dos mercados financeiros, a transformação do capitalismo industrial em capitalismo patrimonial, a agudização da concorrência mundial e a hegemonia da economia da informação e do conhecimento condenam à impotência os poderes públicos".
Continua duvidando? Voltemos então à bela entrevista que Sérgio Dávila fez com o sociólogo Immanuel Wallerstein, no trecho em que ele diz: "Não acho que as ações do presidente dos EUA nesse momento histórico importem muito para a economia mundial. Essa já tem uma dinâmica própria, que passa ao largo da Casa Branca". Se passa ao largo da Casa Branca, passa muito mais ao largo de qualquer outra casa de governo do planeta.
Restou aos políticos o papel de "contadores de histórias", diz o também francês Christian Salmon, para quem contar histórias é "a nova arma de distração em massa" dos políticos, segundo afirmou em entrevista para a "Foreign Policy", edição espanhola.
Trecho que me parece essencial: "Quando um político se convence de que não tem poder de influir na história, só lhe resta dedicar-se a relatá-la. (...) Se a política se torna cada vez mais um espetáculo, um cenário ou uma narração, é porque os políticos não têm nada de transcendente a contar".
Olhe ao redor, ouça os sons da política brasileira e decida se Salmon está certo ou errado.

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