Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, junho 18, 2008

Celso Ming - Rendimento negativo

Celso Ming - Rendimento negativo


O Estado de S. Paulo
18/6/2008

Quem está aplicando dinheiro em caderneta de poupança ou em um fundo de renda fixa já está retirando menos do que o que colocou. Esta é uma das perversidades produzidas pela esticada da inflação.

É bem verdade que a primeira e maior vítima é o assalariado, que não vai ter nunca seu poder aquisitivo reajustado na mesma proporção com que a inflação o dilapida. Isso significa que a mesma cesta de consumo vai ficando de fora do seu orçamento. Para manter o equilíbrio, todos os meses terá de abrir mão de algum gasto. Se o objetivo for preservar seu padrão de consumo, as opções se resumem a endividar-se ou deixar de aplicar as sobras no mercado financeiro.

A tabela ao lado mostra o quanto a inflação, medida pelo IPCA (a referência para a definição dos juros), ficou maior do que bom número de aplicações financeiras em maio e na alta acumulada deste ano até maio. A percepção do aplicador está correta: no dia do resgate, seu dinheiro, mesmo que engordado pelo rendimento, já está comprando menos do que comprava no dia da aplicação.

Por aí se vê que, entre as distorções provocadas pela aceleração da inflação, tal como vamos vivendo nesses dias, estão o desestímulo à poupança e o empurrão adicional ao consumo.

A inflação corrói uma das mais importantes funções do dinheiro que é a de servir de reserva de valor. E, se, além disso, o rendimento proporcionado pelo mercado financeiro é notoriamente insatisfatório, então por que poupar? Assim, sem razão para guardar, a formiga fica encorajada a deixar a vida dura e a se pôr a cigarrear.

O aumento do consumo que daí provém, por sua vez, tende a produzir mais inflação de demanda, que é uma das principais causas da atual inflação, o que acrescenta mais uma distorção às anteriores. (Apenas para pontuar, inflação de demanda é a produzida quando o consumo cresce mais depressa do que a capacidade da oferta de atendê-lo.)

É verdade que a percepção do aplicador não se forma de um dia para o outro. Sua transformação de formiga em cigarra também é um processo que precisa de tempo para maturação. Mas isso só dificulta o caminho inverso, quando as condições voltarem a mudar.

Parte do retorno negativo das aplicações se deve a outros dois fatores: à carga tributária, que nas aplicações de curto prazo morde até 22,5% (apenas o Imposto de Renda); e às altas comissões de administração cobradas pelos bancos nos fundos de investimento.

A resposta macroeconômica para essa situação de desequilíbrio é, obviamente, o aumento dos juros. Mas, enquanto essa providência não vem, quem não quer ou não pode deixar sua condição de formiga se pergunta o que fazer para defender seu patrimônio da corrosão.

É uma situação em que os aplicadores são naturalmente empurrados para assumir mais risco, especialmente no mercado de ações e nos imóveis - já que, por enquanto, não há indício de que as cotações do dólar e do ouro estejam em condições de reagir. Mas risco é risco, e sobre isso não é preciso dizer mais.

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