Entrevista:O Estado inteligente

domingo, junho 08, 2008

Celso Ming O euro ocupa espaços


O euro está completando dez anos e, para perplexidade de um punhado de críticos de primeira hora, é um sucesso retumbante.

A melhor medida para isso é o quanto a moeda perdeu em valor para ela própria. Pois, nos últimos dez anos, a inflação média na área do euro foi de 2,1%, dentro do programado.

Aos poucos, o euro vai assumindo condições de moeda mundial de reserva, privilégio que até agora só era carregado pelo dólar. Prova disso é que em 1999 - ano do seu lançamento - as reservas dos bancos centrais do mundo tinham 18% dos ativos em euros. Agora, têm 26%.

Quando tudo começou, em 1992, com o Tratado de Maastricht, poucos acreditavam em que seria possível administrar uma moeda única em 11 países (hoje são 15) com economias tão heterogêneas como Alemanha, Itália e Portugal. Não havia exemplo de moeda cujo valor não fosse garantido por César, ou seja, pelo poder de Estado soberano.

O euro nasceu a partir da delegação de soberania do exercício da política monetária a uma instituição independente, o Banco Central Europeu (BCE), que trataria de administrar a moeda sem olhar para peculiaridades nacionais.

A principal conseqüência na política econômica provocada pela criação do euro e do BCE foi a renúncia ao uso do câmbio por parte dos países do bloco. Ficou impossível, por exemplo, desvalorizar a moeda local para dar maior competitividade ao produto nacional. A saída passou a ser dar mais flexibilidade às regras trabalhistas ou a introdução de reformas que garantissem redução de custos de produção - providências nem sempre prontamente adotadas.

Hoje, o BCE é um organismo de enorme credibilidade, cuja atuação não foi até agora seriamente questionada por nenhum chefe de Estado do bloco. Não se pode acusá-lo de excessiva ortodoxia na condução da política monetária. Nesses dez anos, os juros estão entre os mais baixos da história recente da Europa e, mesmo levando em conta que o bloco cresceu muito lentamente, foram criados 16 milhões de empregos em uma população inicial de 291 milhões e que hoje é de 319 milhões de pessoas.

A verdade é que o sucesso do BCE e do euro foi em grande parte facilitado pela feliz confluência de circunstâncias favoráveis. De um lado, a adoção maciça de Tecnologia de Informação reduziu substancialmente os custos de produção e ajudou a controlar os preços. De outro, o mercado de bens duráveis de consumo passou a contar com o fornecimento de mercadorias baratas produzidas por mão-de-obra asiática de baixo custo, que também ajudou a manter a inflação sob controle.

Hoje o BCE enfrenta realidades mais complexas. Empurrada pela alta dos alimentos, do petróleo e das commodities metálicas, a inflação volta a dar trabalho e a criar tensões. Ao mesmo tempo, a economia européia passa por uma fase de estagnação e o relativo fortalecimento do euro perante o dólar vai tirando competitividade do produto europeu no resto do Planeta. São elementos que multiplicam as pressões políticas sobre o BCE e sobre o euro. Os próximos dez anos podem não ser tão bem-sucedidos como os primeiros dez.

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