Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, junho 06, 2008

Celso Ming O Copom, certo e errado

Quando sai uma decisão do Copom, os de sempre fazem questão de marcar posição contra ela pela imprensa, pela TV e por emissoras de rádio.

Para essa gente, o Copom está sempre errado. Se os juros caem, está errado porque foi covarde. Se sobem, está errado porque o Brasil já tem um dos juros mais altos do mundo e não teria de passar por mais um aperto descabido.

E há parlapatices para todos os gostos. Há aqueles que dizem que juro alto é coisa de neoliberal ou jogo de rendeiro. Outros preferem grasnar que os juros são uma indecência, como se ação monetária contra a inflação fosse política condenável.

É claro que, lá uma ou outra vez, o Banco Central pode equivocar-se. Pode ter feito a leitura errada do que acontece e pode ter errado na dose. Mas não pode estar errado sempre.

Assim, essas críticas não têm sentido, não porque se percam no vazio ou se repitam, mas porque são gratuitas e, goste-se ou não, desconsideram as funções institucionais do Banco Central e o mandato de que está investido.

A questão de fundo não é a decisão sobre os juros, qualquer que seja ela. A questão de fundo é o sistema adotado, o de metas de inflação. É saber se ele funciona nas condições do Brasil e, se tiver de mudar, em que direção deve ser essa mudança.

A regra não é segredo. Por meio do Conselho Monetário Nacional, o governo define a inflação que a sociedade poderá tolerar, e o Banco Central, por meio do Comitê de Política Monetária (o Copom), trata de calibrar os juros básicos (Selic) para manter a inflação dentro da meta. Se a inflação tende a escapar para cima do centro da meta, o Banco Central tem de puxar os juros. O pressuposto é o de que juros mais altos contêm o crédito, estimulam as aplicações financeiras e reduzem o consumo. Se a inflação perde força, o Banco Central pode reduzir os juros, o que, na prática, despeja mais dinheiro no mercado que, por sua vez, estimula o consumo. Qualquer mexida nos juros leva quase sempre entre seis e oito meses para se transmitir ao regime de preços da economia.

O efeito mais importante acontece nos corações e nas mentes. Um banco central com baixa credibilidade ou sem credibilidade é um peso morto. O sistema de metas só funciona se os agentes econômicos (fazedores e remarcadores de preços) estiverem convencidos de que ele controla o processo. Nesse caso, se fixarem seus preços a um ritmo superior ao comandado pela autoridade monetária, correm o risco de ser punidos pelo próprio mercado com encalhe de mercadorias ou, simplesmente, com a indiferença do consumidor.

Enfim, é assim que funciona. O sistema de metas de inflação não é o único instrumento de que dispõe um governo para combater a inflação. Uma administração equilibrada saberá dosar não apenas os juros, mas também a política fiscal (arrecadação e despesas do setor público) e, quando couber, a política cambial. E sempre haverá alguém que entenda que o sistema de metas não é a melhor maneira para administrar a política monetária.

Mas, nesse caso, a discussão terá de se deslocar para a substituição ou o aperfeiçoamento do sistema e não se o Banco Central está fazendo o jogo dos banqueiros e do Consenso de Washington.

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