Eles viram a guerra de perto | |
A milhares de quilômetros da zona conflagrada, entidades internacionais não precisaram de tradutores para assimilar as informações contidas na mais chocante reportagem produzida pelo jornal O Dia. A equipe composta por um repórter, um fotógrafo e um motorista estava na Favela do Batan para averiguar como sobrevivem os moradores dos morros controlados por "milícias" – suavidade semântica que identifica grupos de assassinos homiziados em quartéis da PM ou delegacias. Não importa se o texto será ou não publicado. A missão já foi cumprida. O Brasil agora sabe que os donos da favela governam com tamanho atrevimento que, sem esconder o rosto, seqüestram e torturam também jornalistas. Os habitantes dos 78 morros sob o jugo das "milícias" são submetidos aos mesmos horrores anexados ao cotidiano de todos os outros, controlados por chefões do tráfico de drogas e armas. "É motivo de profunda perplexidade saber que tais ações foram cometidas por agentes da ordem pública, supostamente encarregados de lutar contra a insegurança e os traficantes", espantou-se em Paris a ONG Repórteres sem Fronteiras. A entidade também reiterou a sugestão ouvida desde os tempos em que buracos no teto não eram feitos a bala, mas pela lua que, furando o zinco, salpicava de estrelas nosso chão. O presidente Lula e o governador Sérgio Cabral, recomendou a organização, precisam montar com urgência a contra-ofensiva destinada a reconquistar territórios flagelados pelo sumiço do Estado. "É preciso devassar as ligações entre os captores e a polícia", emendou em Nova York o Comitê para a Proteção dos Jornalistas. "Os autores do atentado pretenderam intimidar os jornalistas, para que não continuem investigando e denunciando o crime organizado", constatou a Associação Interamericana de Imprensa (SIP). O olhar estrangeiro estava apenas vendo as coisas como as coisas são, concluíram os brasileiros sensatos. Errado, apartearam o Sindicato dos Jornalistas do Rio e a Federação Nacional dos Jornalistas. Gringo vive valorizando irrelevâncias, como o abandono dos morros por todos os governos, a consolidação da ditadura da bandidagem, a transformação da crueldade em instrumento de poder, a decomposição do organismo policial, a corrupção endêmica, a sensação de insegurança que agride os cariocas, a inexistência de planos que permitam ao menos sonhar com a saída do inferno. A soma dessas angústias não resultava num gravíssimo problema de fundo político? A questão é trabalhista, esclareceu a dupla sindical numa Carta aos jornalistas distribuída a muitas léguas do cenário do crime. Os profissionais de O Dia foram seqüestrados e torturados por culpa do patrão, descobriu o panfleto. "É inaceitável a decisão da empresa de expor seus trabalhadores a tamanho risco", indignaram-se os inventores de uma tese que, se pegasse, congestionaria o beco do desemprego com a multidão de correspondentes de guerra. Concebido para provar que há um patrão metido em todo crime hediondo, o texto é um insulto a três profissionais que, além de terem subido o morro voluntariamente, foram muito além da pauta original. Eles comprovaram que, quando agentes da lei aparecem numa favela, os traficantes se afastam. Que tal engaiolar as milícias e instalar nos morros policiais de verdade? O colunista errou e pede desculpas A nota publicada domingo passado neste espaço não tem nenhum fundamento: o deputado Arlindo Chinaglia jamais contratou serviços de engraxataria. "Desde 2003, esse spam repetido pela internet atribui ao presidente em exercício informações falsas, com o intuito deliberado de difamar a instituição", informa a assessoria de imprensa da Câmara. "Apesar de reiterados desmentidos, tais mentiras continuam a prosperar na imprensa pelo fato de não serem checadas com quem está sendo acusado". O colunista pede desculpas a Chinaglia e aos leitores. Compadre só voa em céu de brigadeiro O Brasil acaba de saber que tem um Ministério da Aviação Civil. Chefiado pelo advogado Roberto Teixeira, funciona na semiclandestinidade para que o amigo e compadre de Lula continue entrando sem bater (e quando quiser) no gabinete do presidente da República. O ministro Teixeira não recebe salários. Ganha (de preferência em dólares) por tarefa cumprida. As missões mais recentes sugerem que só no papel a Agência Nacional de Aviação Civil é subordinada ao Ministério da Defesa. Quem dá as cartas na Anac é Teixeira, que joga em parceria com Dilma Rousseff quando nuvens escuras ensombrecem a mesa. Em junho de 2006, por exemplo, ex-diretores da agência resolveram enxergar as grossas ilegalidades que turvavam a compra da Varig pela VarigLog. Dilma forçou a troca do sinal vermelho pelo verde. Teixeira, advogado da compradora, embolsou US$ 5 milhões. "Não sei o que ele negociou", contou Marco Antonio Audi, um dos donos da VarigLog. "Só sei que sua influência foi 100% decisiva". Em março de 2007, agora a serviço da Gol, o bacharel dos ares facilitou a aquisição da Varig por US$ 320 milhões. O ministro da Aviação Civil anunciou o final feliz no gabinete presidencial. Lula sorria a seu lado. Ouçamos os lamentos da floresta Quando o deserto chegar, os livros sobre a destruição da Amazônia decerto lembrarão que o Brasil não soube avaliar as dimensões do salto registrado no outono de 2008. Contabilizada em campos de futebol até o mais recente levantamento do Inpe, a área amputada pelo desmatamento agora abrange tantos maracanãs que a medida mudou. O crime ambiental passou a ser medido em cidades. Em abril, a derrubada de 1.123 km quadrados de árvores reduziu a maior floresta tropical do planeta em um riodejaneiro. Somados os últimos 12 meses, o tamanho do estrago chega a quatro sãopaulos. E não há perigo de melhorar. "Os próximos meses serão piores", informou o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, com a placidez de quem foi incumbido de lidar só com os problemas do Saara. "Não adianta chorar a seiva derramada", sorriu. O que se deve fazer para conter o derramamento? "Rezar", sugeriu. "Essa parte do Brasil é importante demais para ser deixada aos brasileiros", advertiu o jornal inglês The Independent no editorial que lamentou a demissão da ministra Marina Silva. "A Amazônia é nossa", ofendeu-se o presidente Lula. Tem dono, confirmam os mapas. Isso não garante a sobrevivência de uma região sem pai nem mãe.
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Entrevista:O Estado inteligente
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