No Brasil, o BC dá as costas à oposição da equipe econômica. Não só elevou novamente o juro em 0,5 ponto como insinua que pode não parar aí, pois a inflação sobe a cada novo levantamento de preços.
Tudo piorou, então? Não. Afora o desafio da inflação, já antigo, nada mudou; os mercados financeiros americano e europeu continuam absorvendo bem as notícias negativas, outras positivas ajudam. No fundo, estamos passando por mais uma fase de ajuste gradual, sem choques, que deve durar mais alguns meses.
BRASIL, ATENTO, VAI BEM
E o Brasil? Vai continuar resistindo à crise? Há risco de ela se agravar, nos afetando ainda mais? A coluna conversou com o presidente do BNP-Paribas, o brasileiro Louis Bazire. Não o senti muito preocupado. O sistema bancário e financeiro nacional foi pouco afetado,está sólido, comporta-se bem, mas, sem dúvida, não ficamos imunes à desaceleração da economia mundial. Isso está evidente nos últimos indicadores.
"Temos que diferenciar entre o mercado internacional e o que está havendo no Brasil. Parece que o socorro ao Bear Stearns, pelo Fed, reabriu o mercado de dívida e crédito, mas ainda há alguns pontos fracos. O pior muito provavelmente passou, mas não podemos considerar a situação totalmente estabilizada", diz Bazire.
O estouro da bolha imobiliária teve um claro impacto, "e mesmo que alguns queiram evitar a palavra recessão, a economia americana está está desacelerando sem sinais claros de recuperação a curto prazo."
Isso repercutiu muito nas economias européias, ainda sentindo o choque, pois são basicamente exportadoras para os EUA. Elas estão hoje em desaceleração, acentuada por novas pressões inflacionárias.
Para Bazire, as economias asiáticas também sentirão o impacto. É verdade que isso poderá ser compensado pelo aumento da demanda interna. "Mas não se pode esquecer que os países asiáticos estão enfrentando uma nova onda de inflação, alimentos, energia. Isso significa que - por meio da taxa de juros - eles limitarão o aumento da demanda. Este é um fenômeno que será provavelmente sentido no Brasil a partir de 2009."
O QUE O BNP PREVÊ PARA NÓS?
"Nosso departamento de pesquisa econômica estima uma inflação de 5,9% neste ano, comparada com 4,5% em 2007, principalmente por causa dos alimentos e da energia. Em 2009, ela deve recuar. Esperamos uma taxa Selic de 13,25% no fim do ano. O BC está se antecipando às pressões inflacionárias, agindo ?adiante da curva?, sem necessidade de adotar medidas drásticas. Isso significa que o real deve permanecer valorizado, entre R$ 1,60 e R$ 1,70."
E o PIB? Nessas circunstâncias, ele deve crescer 4,8% neste ano, em comparação com 5,4% no ano passado e 3,5% em 2009. Afinal, não é tão ruim...
Bazire concorda com a coluna. O Brasil tem sido muito bem protegido do turbilhão financeiro global. Isso se deve à robusta situação macro e microeconômica, graças à forte posição das empresas e bancos.
E O INVESTIMENTO EXTERNO?
Aqui, o presidente o BNP-Paribas levanta um ponto pouco destacado pelos analistas. A obtenção do grau de investimento aumentou a confiança dos investidores que já estavam no País e nos que pretendiam vir. Mas, assinala Bazire, deve-se registrar que, por causa da boa conjuntura interna, os investidores já haviam se antecipado a ele. Os investimentos diretos já vinham entrando desde o início do ano, e continuarão entrando, até mais, nos próximos meses. O BNP-Paribas estima que neste ano eles ficarão em US$ 36 bilhões, comparados a US$ 34 bilhões em 2007.
"Em meio à turbulência financeira internacional, o cenário interno brasileiro é muito positivo. Isso me permite prever um ajuste da economia brasileira às crises externas sem grande choques ou traumas. Evidentemente, como disse o ex-presidente do Fed, Paul Volcker, que enfrentou crises enormes, não há clima para se acomodar. E, pessoalmente, não estou vendo acomodação ou condescendência com a inflação. Há desaceleração do PIB, sim, porém menor que nos países desenvolvidos, mais atingidos pela crise imobiliária e financeira", conclui Louis Bazire.
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