Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 15, 2007

Quarta-feira gorda

MELCHIADES FILHO


BRASÍLIA - Ministros, congressistas e lobistas apresentam-se às repartições na terça-feira, acertam as contas no dia seguinte e embarcam na quinta de volta às bases, o que quer que elas signifiquem.
Na segunda e na sexta, escritórios e entornos operam em marcha lenta, a cargo de apadrinhados políticos e funcionários de carreira. Aos sábados e domingos, a esplanada vira um parque fantasma. Os prédios fecham. As quadras hibernam. Da prancheta de Niemeyer, resta a planície de asfalto, seca e ensolarada, à espera de Mad Max.
Não demora para entender por que, nas noites de quarta-feira, até churrascaria rodízio é invadida por mulheres bonitas em trajes sumários. Restaurantes, comércio, hotéis, aeroporto, as ruas, tudo aqui obedece a esse biorritmo insólito. Por que a política fugiria à regra?
Nos fins de semana, a imprensa lançava mísseis: Renan Calheiros caiu em grampos da Navalha, intercedeu por empreiteiras, teve contas pagas por lobista de construtora, divulgou notas frias e lucros fictícios, meteu-se com a família em trambique no ramo de bebidas, ocultou dinheiro da Receita, usou laranjas para comprar rádios etc.
A cada segunda-feira pós-denúncia, vinha a conclusão, lógica e acabada: agora o homem se lascou. No entanto, toda terça, a máquina brasiliense engrenava. (Re)construía alianças, empastelava investigações, exercitava o toma-lá-dá-cá. Até o Tuminha cavou emprego!
Chegava a quinta-feira, o senador estava de novo de pé, pronto para o round seguinte de denúncias.
A dinâmica se repetiu nesta semana, a 16ª do calvário renanzista. O Senado, que saiu do domingo com promessas de cassação em atenção à opinião pública, cedeu aos encantos de Sarney e à enquadrada do Planalto. É sintomático que tenha liqüidado o assunto numa quarta-feira, o dia da farra na capital.
A semana em Brasília é mais curta, mas seu estrago vai longe.


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