MEC distribuirá livro polêmico no ensino médio

Demétrio Weber

O Globo

21/9/2007

Versão da "Nova História Crítica", reprovada para a 8ª série, foi aprovada para estudantes secundaristas A coleção de livros didáticos "Nova Histórica Crítica", de Mario Schmidt (Editora Nova Geração), reprovada pelo Ministério da Educação para alunos de 5ª a 8ª série, será distribuída pelo governo federal a escolas públicas no ano que vem, em sua versão para o ensino médio. A obra foi selecionada pelo MEC, que vai enviar 407 mil exemplares a escolas públicas que já solicitaram a coleção. O custo será de R$8,7 milhões. Com 840 páginas, a edição em volume único é dedicada às três séries do ensino médio. Trechos polêmicos do livro reprovado para a 8ª série são reproduzidos, mas com ressalvas. Ao falar de Cuba, porém, diz: "Em Cuba todas as crianças têm garantido ensino gratuito de qualidade. A ausência de lanchonetes com hambúrgueres de marca mundial parece não ter afetado a capacidade de aprendizagem". O editor da Nova Geração Arnaldo Saraiva diz que a coleção do ensino fundamental foi avaliada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, enquanto o livro do ensino médio foi analisado pela Universidade Federal Fluminense. Segundo ele, só os avaliadores podem explicar por que houve aprovação num caso e reprovação no outro: - Na minha opinião, a reprovação foi política e não pedagógica. Essa pergunta só pode ser respondida pelos avaliadores. A exemplo do exemplar da 8ªsérie, o livro do ensino médio fala da derrocada soviética: "Um russo não precisava ir a Tóquio ou a Paris pra ficar maravilhado: um passeio num shopping do Brasil servia pra que ele ficasse babando (...). O fascínio pelo capitalismo era enorme." A publicação trata Stálin como ditador. Já o líder comunista chinês Mao Tsé-tung é citado como "grande estadista". Mas acrescenta um trecho novo: "Muitos historiadores e analistas políticos fazem restrições a Mao Tsé-tung. Ele foi um grande nacionalista, mas exerceu o poder de forma autoritária." O livro do ensino médio fala sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na página 830, diz: "O primeiro presidente operário da História do Brasil. Quantas pessoas, com nível de renda ou de instrução superior ao de um operário, não se sentiram ultrajadas por ter um governante que representa a ascensão da ralé? E se um dia a senzala nacional resolvesse ocupar a casa-grande da concentração de renda, como seria? A "boa sociedade" reagiu prontamente." A editora informou que o autor Mario Schmidt não falaria.