Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 01, 2007

FERNANDO GABEIRA

A história e suas curvas

O LONGO julgamento no STF é um marco. De um lado, expressa o fim da tolerância com um sistema político apodrecido; de outro, indica para a história um traço decisivo do primeiro mandato de Lula e seus aliados.
Não é a primeira vez que vejo um fato histórico. Também não é a primeira vez que sinto um vazio no peito olhando o céu azul, o movimento dos carros: tudo corre no seu ritmo habitual, apesar dos esforços para mapear o tempo.
A compreensão de que o PT apenas radicalizou métodos e atraiu personagens já conhecidos de períodos anteriores pode nos dar uma idéia de um fim da história, versão brasileira. Em outras palavras: se o PT e seus aliados fazem a mesma coisa que outros fizeram, isso quer dizer que estaremos permanentemente sujeitos à alternância de quadrilhas, mais ou menos sofisticadas, mais ou menos discretas.
Se olharmos apenas para a dimensão da política profissional, as esperanças são pequenas. Não é possível confiar nos partidos, e o digo com certa tristeza, pois ajudei a criar um. No entanto, volto à minha tese habitual: o horizonte político petrificou-se, mas a sociedade continua em movimento. É esse movimento que dinamiza a apuração de escândalos, que empareda figuras como Renan Calheiros e encontrou eco no Supremo, como, de certa forma, também o encontrou nas instituições que fiscalizam o desvio de verbas públicas e outras modalidades de corrupção.
Os gatos pingados que resistem no interior do sistema político convencional são importantes. No entanto, a grande contradição explodiu na sociedade. Se era assim tão grande, como explicar que não tenha alterado o curso eleitoral?
A contradição entre a sociedade e um sistema político apodrecido teve importância, mas não foi decisiva. Os admiradores dizem que Lula paira acima de tudo. Isso é uma visão religiosa, que discutirei quando tratar da política como revelação de fé.
No Rio, o ex-governador Garotinho venceu uma e, na segunda, elegeu sua mulher. A fórmula era a mesma de Lula, embora sejam personagens com diferentes dimensões históricas. Garotinho dizia-se perseguido pelas elites, argumentava que seu governo cuidava dos pobres.
Essa formula tem um grande peso eleitoral. Mas não se eterniza. A sociedade continuará se movendo, e a grande incógnita é o surgimento de coalizão de novo tipo, que possa representar seus anseios. Como a história não é roteiro predeterminado, só nos resta trabalhar com o ânimo que a semana despertou.


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