Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 15, 2007

FERNANDO GABEIRA Em segredo, no escuro

ALI DENTRO, no Senado, havia duas teses em jogo, se é que podemos definir o conteúdo intelectual daquela sessão secreta. Uma delas é a de que a instituição deveria ser preservada por meio da busca de uma harmonia relativa com a opinião pública. Teria seus atritos, como em toda democracia. A outra também falava em preservação. Era de Renan Calheiros.
Quando um presidente é criticado, a instituição também o é. Logo, é preciso cerrar fileiras atrás da minha sobrevivência e enfrentar a mídia. Ela é que nos ameaça, tentando ocupar o espaço de partidos políticos, desalojando os eleitos.
Venceu a tese de que é preciso defender Renan e combater a mídia, como auto-afirmação. Quando o Senado adota uma tática consciente de enfrentar a mídia e a opinião pública, sobretudo nessas circunstâncias, teremos uma crise de longa duração, com momentos agudos.
O governo, ao apoiar Renan, cometeu o mesmo erro que, às vezes, se comete na oposição -supor que a escolha do adversário sempre deve ser combatida.
Havia um possível jogo ganha-ganha na renovação da presidência do Senado. Renan conseguiu turvá-lo com a tese de que outras cabeças poderiam rolar. Eu o senti como o pastor, na Guiana, que conduziu seu rebanho firmemente para a morte coletiva.
Cada indivíduo teve suas razões.
Mas a decisão do conjunto acabou resultando nisto, numa tática de resistência. Não tem sentido o Senado entrar em choque com o país por meio de seu confronto com a mídia. Um radialista me dizia que chegavam inúmeros torpedos de protesto ao seu programa. Certamente, iria falar mais do assunto.
Esse processo vai se alimentando cada vez mais. O que mais causava medo na tática de Renan pode acabar acontecendo a partir dela: mais cabeças rolando.
Quando perdemos na votação das eleições diretas, houve uma ressaca. Mas, depois, as coisas acabaram se resolvendo. Naquela época havia mobilização. As condições atuais são diversas.
Se não vencermos, seremos um pouco exilados dentro do próprio país, com um imenso abismo entre opinião pública e políticos que lhe dão as costas. Não significa a morte. Apenas tempos duros, desses em que é preciso buscar uma força interna para sobreviver e avançar.
Não é aconselhável fechar um texto com um clichê. A luta continua. Apenas precisamos rever seus métodos e premissas. Nas diretas, o país pulsava com uma nova energia; agora parece cansado e descrente, depois de duas décadas de democracia.

Arquivo do blog