Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, setembro 18, 2007

Eliane Cantanhede - Passo em falso




Folha de S. Paulo
18/9/2007

Ao ultrapassar a fronteira da Itália e pisar no solo de Mônaco, o ex-banqueiro Salvatore Cacciola selou seu próprio destino e corrigiu um erro da Justiça brasileira que o ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal, vai amargar o resto da vida.
Cacciola foi solto no Brasil em 2000 quando a torcida da seleção brasileira inteira sabia que era ser solto num dia e fugir no outro. E, como ele nasceu na Itália e tem cidadania italiana, não pode ser extraditado. Quer dizer, não podia. Preso no aprazível (e caríssimo) Mônaco, a tendência é que vá cair atrás das grades brasileiras. Só não se saber por quanto tempo.
A volta de Cacciola reacende as discussões sobre a decisão de Marco Aurélio de soltá-lo e vai deixar a Justiça brasileira na berlinda. Por que foi solto? E por que, ao contrário, foi o único condenado na nebulosa quebra dos bancos Marka e FonteCindam na desvalorização do real de 1999?
O risco, no final das contas, é Mônaco extraditar, Cacciola voltar e seguir o mesmo destino de todas aquelas centenas de presos das operações mirabolantes da Polícia Federal: preso algumas horas, depois solto por advogados pagos a peso de ouro e por um habeas corpus atrás do outro. Sem que o Brasil veja a cor do dinheiro.
Até a semana passada, Cacciola vivia feito nababo na Itália, passeando de moto, assistindo a jogos e a shows, curtindo a impunidade. O maior vexame será se, depois de extraditado, ele passar algumas horas no xadrez e recuperar a mesma rotina. Em vez de Roma, o Rio de Janeiro, com sua praias, belas mulheres, sol o ano inteiro.
O Brasil sabe exatamente por que lutar pela extradição, mas é preciso saber também para quê. Para deixá-lo livre, leve e solto, como a maioria, é melhor que fique por lá.
Nem mais em filme e em novela os bandidos se dão mal. Especialmente se ricos -e no Brasil.

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