Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, setembro 04, 2007

Eliane Cantanhede - Jobim no Haiti





Folha de S. Paulo
4/9/2007

No vôo de ontem entre Miami e Porto Príncipe, no Haiti, havia umas duas centenas de negros e uma meia dúzia de gatos pingados brancos, inclusive eu. Já no desembarque, a primeira cena da arrogância americana: um sujeito louro e mal-humorado saiu aos berros apenas porque o funcionário lhe pedia algo simples, a etiqueta de bagagem. Imagine se fosse o contrário: o negro haitiano berrando com quem quer que fosse no aeroporto de Miami.
Logo depois, li no UOL que o conselheiro da OAB Aderson Bussinger redigiu um relatório condenando a missão militar no Haiti, liderada pelo Brasil, por ser "uma força de ocupação e não humanitária, que está validando os abusos de direitos humanos no país".
Mas a questão é mais complexa. Que os EUA querem mandar em todo o mundo, literalmente, não há dúvida. Mas o Brasil é o Brasil, o Haiti não é o Iraque e o continente não iria continuar de olhos fechados para a tragédia política, econômica e humana do Haiti, o país mais pobre do mundo fora da África.
Na prática, a missão não é dos americanos, é da ONU, que financia até os pêssegos e ameixas que os brasileiros comem no Haiti. E o papel dos brasileiros é bastante abrangente: combate às gangues assassinas, construção de estradas e poços, distribuição de água e comida para as crianças.
Enquanto o conselheiro da OAB e os partidos mais à esquerda criticam, os militares pedem o oposto: o aumento do efetivo brasileiro de 1.200 para 1.300 homens, principalmente na área de engenharia.
A liderança brasileira no Haiti é considerada estratégica por mil e um motivos, além de ter um caráter que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, deixou claro ontem: é um ótimo treinamento de tropas militares para a garantia da lei e da ordem. Está claro que o primeiro passo foi dado no Haiti, e a mudança está para chegar no Brasil.

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