O Estado de S. Paulo |
19/9/2007 |
Não há nada nem ninguém que provoque mais ira e rejeição dentro do Congresso Nacional do que o chamado “parlamentar ético”. Nesse grupo, atualmente aparecem toda a bancada do PSOL e mais aqueles partidariamente desgarrados que estão sempre prontos a confrontar as regras de convivência da grande família. Em público recebem alguns elogios, obrigam os outros a segui-los, mas nos bastidores são alvo de toda sorte de insinuações e de uma campanha difamatória sub-reptícia que visa, num primeiro movimento, a qualificá-los como os interesseiros do holofote. O segundo movimento é disseminar a versão de que ninguém “agüenta mais” suas investidas em prol dos bons costumes, e o terceiro, partir para o confronto de forma a desacreditá-los como meros produtores de espetáculos inconseqüentes. No Senado, são basicamente cinco os alvos desse ódio: Pedro Simon, Eduardo Suplicy, Demóstenes Torres, Jarbas Vasconcelos e Jefferson Peres. Na Câmara, os de sempre: Fernando Gabeira, Raul Jungmann, Luciana Genro, Chico Alencar e agregados. Exatamente os deputados criticados ontem pelo presidente da Casa, Arlindo Chinaglia, por fazerem campanha pelo voto aberto ao molde de um “factóide político”. Na visão de Chinaglia, em vez de espernear, deveriam “articular com o colégio de líderes” a votação do segundo turno do fim do voto secreto, aprovado em primeiro turno há um ano. Não parece ocorrer - só na aparência, porque na realidade ocorre sim - ao presidente da Câmara que a esse tipo de deputado conhecido como “de opinião” não resta alternativa a não ser o uso das câmeras e microfones da imprensa para tentar romper a proposital inércia do “colégio de líderes”, estes sim com força e poder de decisão. São bem aceitos internamente, a despeito de exercerem seus mandatos na base da clientela. Fazem de seus eleitores clientes a quem prometem a entrega de bens tangíveis e são eles mesmos clientes das benesses do Estado. Os outros vivem da defesa de outro tipo de bem: valores materialmente intangíveis. Não contam com outro instrumento a não ser a palavra, que só chega à população se for transmitida pela imprensa. Precisam provocar interesse e, por isso, criam fatos. São herdeiros de uma turma que na Constituinte de 1988 fazia um pouco esse papel de reserva moral, logo depois assumido pela representação do PT, cuja história mais recente dispensa novas apresentações. Provocam rejeição não só por atrapalharem os planos da maioria - não raro silenciosa e quase sempre licenciosa -, mas principalmente por se apresentarem como um contraponto ao que se convencionou entender como normal nas práticas políticas. Funcionam como uma espécie de desmentido ao dogma do “todo mundo faz”. Pagam, por isso, um preço. Fazem sucesso na opinião pública, mas nas internas do Parlamento têm acesso vetado aos postos de comando, às viagens de representação, às relatorias de projetos importantes e aos lugares nas melhores e mais importantes comissões. O precursor foi o petista, hoje ex-deputado, Paulo Delgado. Na Constituinte ele resolveu levar a sério a norma da perda do mandato do parlamentar que faltar a determinado número de sessões e conseguiu a cassação de dois deputados, Felipe Cheidde e Mário Bouchardet, em 1989. A Casa cassou os faltosos, mas nunca permitiu a Delgado integrar a Mesa Diretora como ele desejava. Ao mesmo processo de isolamento agora são submetidos os deputados e senadores cujo crime de lesa-paz interna é o de levantar bandeiras tidas externamente como representativas das causas nobres, mas, mais pelas manhas do que pelas artes da política, internamente rejeitadas como estandartes do mau combate. Seria uma inversão total de valores, se valores houvesse em vigor para serem invertidos. Novo rumo O PT quer agora suspender a segunda representação contra o senador Renan Calheiros - aquela que o acusa de fazer lobby para a Schincariol em troca da compra de uma fábrica de refrigerantes da família a preço superfaturado - e fazer um processo só, acrescentando à denúncia as outras duas: o uso de laranjas para comprar duas rádios e um jornal em Alagoas e o comando de um esquema de arrecadação de propinas em ministérios comandados pelo PMDB. Atende a dois objetivos. O primeiro, adiar um novo embate que leve o PT e o governo a se associarem a mais uma execrada absolvição. Semana passada, foi Aloizio Mercadante o articulador dos salvadores seis votos da abstenção. Agora, seria o petista João Pedro o autor da proposta de arquivamento do processo. O segundo, juntar tudo num bolo só, de modo a que uma acusação mais frágil (Schincariol) neutralize outras mais fortes (laranjas e propinas). O PT e o governo parecem ter percebido, um tanto tardiamente, que fizeram bobagem. Erraram feio ao se oferecer em sacrifício no altar da salvação do pescoço de Renan Calheiros. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, setembro 19, 2007
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