Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, setembro 20, 2007

Celso Ming - Não há o que segure




O Estado de S. Paulo
21/9/2007

Bastou que baixasse a intensidade da turbulência externa para que as cotações do dólar no câmbio interno voltassem a cair.

E, se o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) obtiver sucesso no combate à recessão, será inevitável nova revoada de dólares em direção ao Brasil. É o que o ex-ministro Delfim Netto quis apontar terça-feira no Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, quando disse que “o Brasil é o último peru para os estrangeiros”.

Alguns fatores apontam para a intensificação do afluxo de capitais e, portanto, para a rebaixa do dólar: (1) a fartura de capitais no exterior à procura de novas oportunidades, reforçada agora com a redução dos juros nos Estados Unidos; (2) a capacidade de resistência da economia brasileira demonstrada ao longo desta crise, fato que a torna mais atraente para quem busca estabilidade; (3) a alta das cotações internacionais das commodities brasileiras que devem continuar a puxar pelas receitas de exportação; e (4) o maior crescimento do PIB brasileiro, o que tende a desengavetar projetos de investimento.

A indústria e, até certo ponto, o agronegócio estão preocupados com essa previsão e voltam a pressionar o governo para que faça algo para impedir nova temporada de valorização do real.

O jogo do Banco Central vai ser decisivo para definir a trajetória do dólar pós-turbulência. Desde meados de agosto, as compras para formação de reservas estão interrompidas e não há sinais de que sejam retomadas.

O atual volume de reservas, de R$ 162 bilhões, parece satisfatório porque é superior ao total da dívida externa (pública e privada) e deixa o Brasil na condição de credor líquido no exterior.

Também é improvável que o Banco Central se disponha a comprar moeda estrangeira apenas para segurar as cotações. Seria uma operação de alto custo fiscal com baixa possibilidade de sucesso, na medida em que nenhum banco central pode reverter uma tendência firme do câmbio.

Além disso, há uma razão conhecida para que o Banco Central deixe o real voltar a se valorizar: o dólar mais barato contribuiria para o ataque ao novo foco de inflação e deixaria espaço para a retomada da queda dos juros.

Há, é claro, a gritaria da indústria e da agricultura, incomodadas com a queda do dólar, que não se conformariam com o maior uso do câmbio para combater a inflação. Mas esta é uma conjuntura desfavorável para quem conta com o enfraquecimento do setor produtivo. A indústria está crescendo acima do PIB; as vendas do setor automobilístico avançam a 27% ao ano; o emprego industrial está crescendo; a agricultura se prepara para o início do plantio da nova safra, que, de acordo com as projeções da consultoria Agroconsult, deverá alcançar 142 milhões de toneladas, 7% maior do que a anterior; e as exportações de manufaturados crescem a 29,8% ao ano.

Finalmente, o dólar está em franca desvalorização em relação às outras moedas fortes. Ontem, o euro fechou a US$ 1,407. É inevitável que se desvalorize também em relação ao real.


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