Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, setembro 07, 2007

André Petry

Nas mãos do PT

"Ainda que se diga que cada um vota com
sua consciência, já está demonstrado que não
há consciência que resista a tantas
e tão
claras evidências das bandalheiras
de Renan"

O mensalão não foi uma obra criminosa do PT, mas um "erro" cometido por "algumas pessoas" que integram o PT. Há tempos essa catilinária está em público, inclusive na boca do presidente Lula. Virou mantra dos que até topam perder companheiros mensaleiros para preservar o partido. Relevemos que as "pessoas" que cometeram o "erro" pertenciam à cúpula do PT e até hoje têm controle de parte robusta da máquina partidária. Admitamos, para efeito de raciocínio, que o mensalão não foi cria do PT, mas de um punhado de petistas prematuramente aloprados.

Nesta semana, quando o Senado votar sobre a cassação de Renan Calheiros, o PT pode tirar a prova dos noves. Os petistas terão a oportunidade de mostrar se o argumento que separa o partido dos filiados tem alguma base real – porque o voto sobre Renan será voto de partido, e não de "algumas pessoas". Ainda que se diga que nesses assuntos cada parlamentar vota segundo sua consciência, e não conforme a orientação partidária, já está exaustivamente demonstrado que não há consciência que resista a tantas e tão claras evidências das bandalheiras de Renan Calheiros. Portanto, o voto desta semana é de partido, de bancada.

E o que fará o PT?

As sondagens de plenário dão como certo que, dos doze senadores petistas, quatro honrarão o passado, que já parece tão longínquo, no qual o PT desfraldava a bandeira da ética na política. São eles: Eduardo Suplicy (SP), Delcidio Amaral (MS), Flávio Arns (PR) e Augusto Botelho (RR).

E o que farão os outros oito senadores do PT?

No fundo, a votação do caso Renan colocou nas mãos desses oito petistas dois destinos graves. O primeiro é o destino do próprio PT. Mesmo que o PT represente hoje, no plano ético, menos do que um vago espectro do que representou um dia, talvez os oito petistas, cassando o mandato de Renan, indiquem que ainda existe alguma energia vital no partido capaz de reconduzi-lo a certas trilhas da decência. Absolvendo Renan, o PT estará a despedir-se do último resquício de sua própria história. E, desta vez, definitivamente não como "pessoas", mas como partido mesmo.

O outro destino que caiu nas mãos dos oito, embora também esteja nas mãos de todos, diz respeito ao próprio Senado. Há 100 dias, o Senado sangra com seu presidente afundando na lama. Com a absolvição de Renan, o sangramento pode evoluir para hemorragia – que, em vez de explosiva e barulhenta, tende a ser silenciosa, num misto de indiferença e desprezo. Afinal, o Senado dirá ao país que tudo pode: falsificação, mentiras, laranjismo, sonegação, lobismo... Com a cassação de Renan, o Senado ganha uma cicatriz, é verdade, mas terá o direito de apresentá-la como medalha de guerra.

A trapaça do destino colocou essas questões nas mãos de oito petistas. Entre eles, há gente grande como Aloizio Mercadante (SP), Tião Viana (AC), Ideli Salvatti (SC) e Paulo Paim (RS). Se eles se decidirem pela cassação, e mais três indecisos de quaisquer outras legendas fizerem o mesmo, Renan será banido da política até 2018. Nesta semana, esses petistas resgatarão um pedaço – ou enterrarão por completo – da bandeira ética que, um dia, pareceu ser levantada com orgulho pelo PT.

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