Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 17, 2007

Trinta anos de dietas: o que aprendemos com elas?

Dietas
A ciência da nutrição
faz 30 anos

As três décadas de estudos sobre os alimentos,
o metabolismo humano e a fisiologia do esporte
mostram que as dietas radicais não funcionam.
Na busca do corpo saudável e esbelto,
a melhor dieta é a do bom senso


Anna Paula Buchalla

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O Brasil nunca foi tão gordo. Os brasileiros com massa corpórea superior à considerada normal já somam 43 milhões – o equivalente a 43% da população adulta, quase três vezes mais do que o contigente de meados da década de 90. Por conseqüência, a quantidade de homens e mulheres em dieta para emagrecer também é enorme: um quarto deles e metade delas estão em luta contra a balança. É um público propenso a acreditar em regimes que se vendem como capazes de operar metamorfoses na silhueta do dia para a noite, sem prejudicar a saúde. Mas será que esse tipo de milagre existe? Passados trinta anos de ciência da nutrição, a resposta é "não". Hoje, o que se sabe com certeza são as razões pelas quais fracassam as dietas, em especial aquelas que prescrevem a redução ou a total privação de grupos alimentares. Elas fazem mal ao organismo e são insustentáveis no longo prazo. A melhor dieta é mesmo a do bom senso. Todos os alimentos podem ser consumidos, mas com parcimônia. A chave para ganhar a guerra do peso segue um raciocínio matemático elementar: a quantidade de calorias ingeridas por dia não pode ser maior do que a quantidade de calorias gastas no mesmo período. Simples assim.

A vitória do bom senso sobre a lei do menor esforço é resultado dos avanços científicos em três frentes: a própria ciência da nutrição, o estudo sobre o metabolismo humano e a fisiologia do esporte. A medicina já dispõe de instrumentos eficientes para determinar com precisão o equilíbrio calórico de cada um, levando em consideração sexo, idade, altura, peso e rotina de exercícios físicos (veja tabela). Por exemplo, o organismo de uma mulher de 40 anos, que tenha 1,65 metro e pese 70 quilos, gasta diariamente 1 436 calorias para manter suas funções básicas – a temperatura corporal, a respiração, os batimentos cardíacos e a pressão arterial, entre outras. É a chamada taxa de metabolismo basal. Se essa mulher praticar uma ginástica moderada, de três a cinco vezes por semana, poderá ingerir até 2.225 calorias por dia. Caso essa jovem senhora queira emagrecer, só há duas alternativas: ou ela come menos – 500 calorias a menos por dia – ou se exercita mais. Se passar a correr uma hora a mais por dia, poderá perder meio quilo a cada três dias. "Para quem não é obeso, o ideal é perder 1 quilo por semana", diz o endocrinologista Alfredo Halpern, chefe do grupo de obesidade do Hospital das Clínicas de São Paulo. "Nesse ritmo, o organismo mantém-se em equilíbrio e praticamente é eliminado o risco de a pessoa voltar a engordar." Halpern é o criador da "dieta dos pontos", em que se pode comer de tudo, desde que não se ultrapasse o limite de calorias permitidas por dia. Quer feijoada? Pode. Quindim? Tudo bem. Batata frita? O.k. Moderação é o lema da dieta que faz bem à silhueta e à saúde também.

Quando publicou, em 1825, a primeira obra sobre a relação do homem com a comida – o tratado de gastronomia A Fisiologia do Gosto –, o francês Jean Anthelme Brillat-Savarin antecipava que a causa da obesidade estava no excesso de açúcar e de amido nas refeições. Cristalizava-se, então, a idéia de que só os carboidratos engordavam. Essa concepção permaneceu mais ou menos intacta até a década de 70 do século passado, quando o governo americano, preocupado com o aumento alarmante nos índices de obesidade e doenças crônicas como o câncer, o diabetes tipo 2 e os distúrbios cardiovasculares, decidiu financiar estudos mais aprofundados sobre alimentação e saúde. Nascia, assim, a ciência da nutrição. Num primeiro momento, as pesquisas levaram a que se estabelecesse uma oposição inconciliável entre carboidrato e gordura. Daí surgiram as dietas que recomendavam a eliminação total de um ou de outro. A que mais angariou seguidores foi a do cardiologista Robert Atkins. Ele incentivava o consumo indiscriminado de gorduras e proteínas, ao mesmo tempo em que recomendava a abolição de carboidratos. O seu pressuposto – verdadeiro – é que, quando um organismo é privado de carboidratos, ele acaba queimando gordura para obter energia. Os adeptos de Atkins podiam comer à vontade carne, ovos, bacon, queijo amarelo e, mesmo assim, emagreciam. A questão é que a dieta do doutor Atkins pode fazer um mal danado a longo prazo, ao comprometer as funções hepáticas e renais. Para não falar dos riscos de entupimento arterial.

A verdade é que o corpo necessita tanto de carboidratos quanto de gordura e proteína. Até mesmo a malfadada gordura saturada tem sua utilidade. Serve para a formação de membranas celulares e de hormônios, ajuda a absorver vitaminas e melhora as funções intestinais. Ela também não é assim tão perversa quanto se imaginava, se consumida com moderação. Sabe-se, ainda, que a alimentação muito escassa em carboidratos não é boa, porque leva à carência energética. Além disso, a glicose proveniente deles é o alimento preferido do cérebro – mantém funções como cognição e memória em estado de equilíbrio.

A única gordura que deve ser eliminada totalmente dos cardápios, sem a menor sombra de dúvida, é a trans – aquela das bolachas de pacote, dos sorvetes e dos lanches de fast-food. Acredita-se que, por ser uma gordura modificada quimicamente, o organismo não saiba como digeri-la a contento, ao contrário do que acontece com as gorduras vegetais e animais. O resultado é que o corpo a "guarda" na região da barriga, como se fosse um estoque inútil. "A gordura abdominal triplica o risco de infartos ou derrames, afeta o colesterol, aumenta em cinco vezes a probabilidade de diabetes e faz subir, em 30%, os riscos de câncer, em especial os de mama, útero e cólon", diz o cardiologista e nutrólogo Daniel Magnoni, do Hospital do Coração de São Paulo. Para os homens brasileiros, a circunferência da cintura deve manter-se em 94 centímetros ou menos e para as mulheres, em até 80 centímetros – à exceção dos descendentes de japoneses, cujas medidas são de 85 centímetros para homens e 90 centímetros para mulheres.

As descobertas sobre a gordura trans são o exemplo mais recente dos progressos na ciência da nutrição. Graças a elas, termos como colesterol, gordura saturada, poliinsaturada, monoinsaturada, polifenóis, aminoácidos, carotenóides, fibras e ômega-3, além da trans, ganharam destaque nas embalagens. Tudo muito favorável à saúde do consumidor. Mas é preciso tomar cuidado para não cair na "paranóia alimentar". Em um extenso artigo publicado recentemente na New York Times Magazine, cujo título é "Tristes refeições", o jornalista e escritor americano Michael Pollan alerta para o fato de que a comida se transformou numa extensão da farmácia. Sob a ótica do que ele chama de "nutricionismo", peixes e legumes transformaram-se única e exclusivamente em transportadores de nutrientes isolados. O salmão, por exemplo, parece ter virado um amontoado de ácido graxo ômega-3 – como se o peixe se resumisse a apenas isso (veja quadro). Já a carne vermelha foi vilanizada de tal forma que passou a ser vista como um passaporte para a UTI. Além de representar uma visão incompleta dos alimentos, perde-se, com isso, o prazer à mesa.

Há uma diferença entre as conclusões da ciência da nutrição e a forma como elas são divulgadas, no mais das vezes. "O nutriente, em tubo de ensaio, tem determinado poder. Mas o que conta é a sua interação com os demais nutrientes do mesmo alimento ou da combinação com outros", afirma o bioquímico Julio Tirapegui, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Apesar de todo o conhecimento acumulado até hoje, os estudiosos têm muito a descobrir nesse campo específico. Acostumou-se a divulgar que a dieta do Mediterrâneo, composta de azeite, vinho tinto, peixes e grãos, é de longe a mais saudável. Mas há que considerar, como alerta a nutricionista Marion Nestle, da Universidade de Nova York, que os estudos sobre as benesses desse tipo de alimentação foram feitos na década de 50, com os habitantes da ilha grega de Creta. Naquele tempo, eles se mantinham sobretudo à custa de trabalho braçal no campo. Ou seja, exercitavam-se muito mais do que a média da população mundial. Essa população consumia, ainda, bem menos calorias do que as consumidas atualmente. E da sua dieta não faziam parte misturas com alimentos industrializados ou importados de outras partes do mundo.

Não se está, aqui, desmerecendo a dieta do Mediterrâneo. A intenção é deixar claro que não se pode radicalizar ou seguir certas recomendações às cegas, porque tudo depende das circunstâncias em que cada um vive. Quem comer como um habitante da Ilha de Creta na década de 50, nas quantidades habituais de hoje em dia, sem realizar grande esforço físico diário, provavelmente será apenas isto: um gordinho que faz a dieta do Mediterrâneo. Também não está claro se a combinação desse regime com alimentos estrangeiros a ele surtiria um efeito positivo. Provavelmente, não. Outro equívoco comum diz respeito à eficácia dos suplementos alimentares. Atualmente, para cada nutriente descoberto, cria-se um equivalente em cápsulas. As pesquisas mais sérias, porém, mostram que esses aditivos não têm serventia nenhuma. Se seus consumidores parecem mais saudáveis do que a média, os especialistas argumentam que isso não se deve aos suplementos, mas a uma questão comportamental: eles se cuidam mais, em todos os aspectos.

Descontados os exageros e interpretações errôneas, é fato que a alimentação constitui uma aliada e tanto na manutenção da boa saúde. Pode, inclusive, reverter e prevenir doenças. Das dez doenças que mais matam no mundo, cinco estão diretamente associadas a uma dieta de má qualidade: obesidade, infarto, derrame, diabetes e câncer, sobretudo o de mama, o de próstata e o de intestino. "Uma dieta com altas concentrações de óleos vegetais, grãos, sementes, gorduras na medida certa, frutas frescas e vegetais em abundância evita inflamações crônicas do organismo e, portanto, doenças arteriais", diz o cardiologista Carlos Alberto Pastore, do Instituto do Coração, de São Paulo.

Dito assim parece fácil. Quem já fez dieta uma vez na vida sabe que existem "forças engordativas", como define Alfredo Halpern, jogando contra o peso que se deseja atingir. Por uma questão de sobrevivência, o corpo humano foi programado para se rebelar contra o emagrecimento. "Há cerca de 3 milhões de enzimas e genes produzidos pelo organismo que o fazem querer engordar", explica ele. Essa característica remonta aos tempos de nossos ancestrais, quando a espécie vivia sob a égide da penúria alimentar – estocar gordura era uma forma de resistir a privações que podiam prolongar-se por dias. Ou alguém imagina que, entre uma pintura rupestre e outra, o artista pré-histórico em questão mandava vir uma pizza? A boa notícia é que, quando uma dieta saudável passa a ser a rotina de todos os dias, o metabolismo se adapta à nova realidade. Mas isso só acontece se a perda de massa corpórea for gradual e o novo peso se mantiver pelo número de meses equivalente à quantidade de quilos perdidos. Ou seja, se alguém perdeu 6 quilos em uma dieta, é importante manter esse mesmo peso por seis meses. Descobriu-se que essa correspondência exata é essencial para que o metabolismo se adapte à silhueta mais enxuta – e a pessoa não caia num dos principais problemas de quem perde peso, o "efeito sanfona".

Ser gordo ou magro é uma questão muito mais complexa do que se imaginava até pouco tempo atrás. Uma série de fatores influencia o metabolismo de uma pessoa: entre eles, sexo, idade, composição corporal (quantidade de gordura e músculos) e nível de atividade física (veja quadro). Sabe-se que a velocidade do metabolismo diminui a partir dos 30 anos, caindo em média 2% por ano. Para não engordar, é nesse mesmo ritmo que se deve reduzir a ingestão de calorias. Para não falar, é claro, da necessidade de tentar acelerar o metabolismo via ginástica. "Com exercícios regulares, é possível dobrar o ritmo metabólico, mantendo-o 25% mais rápido por até dois dias consecutivos após a atividade física", diz o especialista em metabolismo Roberto Carlos Burini, da Universidade Estadual Paulista.

A realidade cotidiana conspira para que todos fiquem rechonchudos. A oferta de comida industrializada é uma brutalidade. No cardápio ocidental, estima-se, são introduzidos 17.000 novos produtos a cada ano. Muitos deles criam a miragem de que são saudáveis e que podem ser consumidos em quantidades pantagruélicas. Há desde carne de porco com baixos teores de gordura até salgadinhos de pacote livres de gorduras trans e macarrão com baixos índices de carboidratos. Claro que esse tipo de comida é melhor do que suas versões antigas. Mas está longe de ser sinônimo de poucas calorias. Só para se ter uma idéia, em que pesem as preocupações da indústria alimentícia, um americano ingere atualmente 2 700 calorias por dia, em média – cerca de 700 a mais do que consumia nos anos 70. Esse extra calórico veio sobretudo sob a forma de lanchinhos entre as refeições – muita batata frita, balas, bolachas e snacks. Além disso, o tamanho das porções consumidas no café-da-manhã, almoço e jantar aumentou escandalosamente – e não só nos Estados Unidos. Basta dar uma olhada nos pratos montados nos bandejões das empresas e nos restaurantes por quilo brasileiros. Comer certo não significa passar fome. Significa, apenas, comer menos e com mais qualidade.

A restrição calórica é capaz de aumentar a longevidade. Um dos exemplos mais fascinantes dessa relação vem da Ilha de Okinawa, no Japão. Lá, a expectativa média de vida é de 78 anos para os homens e 86 para as mulheres. Na tentativa de entender o que os levava a viver tanto, pesquisadores americanos deram início, em 1976, a um trabalho batizado de Estudo dos Centenários de Okinawa. A chave estava no prato de comida. Uma refeição típica de Okinawa – verduras, tofu, sopa de missô e um pouquinho de peixe ou carne – é menos calórica do que um hambúrguer pequeno. Tem mais. Os homens e as mulheres de Okinawa sabem a hora de cruzar os talheres – perdão, os pauzinhos. Eles nunca saem da mesa empanturrados. Só comem até o limite de 80% do volume do estômago (porcentual atingido intuitivamente, é claro). Comer pouco e bem, essa é a melhor fórmula para manter-se saudável e esbelto. Parece óbvio, e é. Assim como a roda.

Com reportagem de Paula Neiva

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O cálculo abaixo tem por objetivo determinar quantas calorias cada pessoa pode consumir diariamente, sem o risco de engordar.

Para saber de quantas calorias seu organismo necessita diariamente para manter as funções básicas, digite os dados abaixo

HOMENS

PESO EM QUILOS
ALTURA EM CENTÍMETROS
IDADE
TAXA DE METABOLISMO BASAL

Veja em que nível de atividade física você se enquadra:

SEDENTÁRIO
FISICAMENTE ATIVO NÍVEL 1
(exercícios leves, até 3 vezes por semana)
FISICAMENTE ATIVO NÍVEL 2
(exercícios moderados, de 3 a 5 vezes por semana)
FISICAMENTE ATIVO NÍVEL 3
(exercícios intensos, 6 ou 7 vezes por semana)
FISICAMENTE ATIVO NÍVEL 4
(atletas)

Total de calorias

O resultado é o total de calorias que você pode consumir diariamente, sem alteração no peso

MULHERES

PESO EM QUILOS
ALTURA EM CENTÍMETROS
IDADE
TAXA DE METABOLISMO BASAL

Veja em que nível de atividade física você se enquadra:

SEDENTÁRIO
FISICAMENTE ATIVO NÍVEL 1
(exercícios leves, até 3 vezes por semana)
FISICAMENTE ATIVO NÍVEL 2
(exercícios moderados, de 3 a 5 vezes por semana)
FISICAMENTE ATIVO NÍVEL 3
(exercícios intensos, 6 ou 7 vezes por semana)
FISICAMENTE ATIVO NÍVEL 4
(atletas)

Total de calorias

O resultado é o total de calorias que você pode consumir diariamente, sem alteração no peso

Fonte: Harris Benedict, que elaborou a fórmula
para cálculo das necessidades nutricionais

Fotos John Jelly/Getty Images, Stockbyte/Royalty Free/Getty Images, Claudio Pinheiro, Mauro Holanda, Priscila Prade, Lang e divulgação
Fotos Alfredo Franco, Stills, Getty Images, Roberto Setton, J.Valpereiro/divulgação, Pedro Rubens e Claudio Pinheiro
Fotos Alfredo Franco, Luis Roberto Pereira, Mauro Holanda e Marcelo Zocchio

COLUNISTAS

Homo obesus
Obesidade, hormônios, nutrição e diabetes

Geraldo Medeiros
Médico endocrinologista
Professor da USP
E-mail: medeiros.dr@gmail.com

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Quarta-feira, 14 de Março de 2007
Respostas

As perguntas abaixo foram selecionadas pela redação entre dezenas de e-mails enviados ao colunista desde a publicação do texto "Diabetes: um mal silencioso e muito perigoso". Todas as questões selecionadas foram respondidas por Geraldo Medeiros.

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Dr. Geraldo, tenho 43 anos e sou pré-diabética. Que dieta o senhor recomenda no meu caso? Estive pensando na dieta das Calorias, que é semelhante à contagem de carboidratos. O que acha? Existe algum livro que possa me recomendar?
(Janete)
A melhor dieta para o seu caso seria mesmo a de contagem de carboidratos. Esse tipo de dieta tem por objetivo reduzir a ingestão de açúcar, doces, massas, batatas, arroz e pão.

• • •

Gostaria de saber a necessidade de tomar o remédio glifage para uma pessoa com 103 de glicose e 64 anos?
(
Eliane)
O metformin (glifage) reduz a resistência à ação da insulina e pode ser útil no seu caso. Mas a melhor coisa a fazer é falar com seu médico.

• • •

Em casos de diabetes tipo ll a genética é soberana ou podemos evitá-la? Além da alimentação e exercício físico existe algo que posso agregar?
(Arlete)
A genética é fator permissivo e podemos evitar o diabetes pela dieta adequada, exercícios físicos e mudança de hábitos de vida.

• • •

Qual a relação entre a obesidade, diabetes e tireóide??
(Ana Paula)
Não há relação direta entre as três síndromes apontadas, mas o hipertireoidismo (excesso de tireóide) pode levar a diabetes no futuro, pelo menos em termos estatísticos. O hipotireoidismo (falta de tireóide) aumenta o peso.

• • •

Qual a zona limítrofe para se entrar no quadro do diabetes? Qual a alimentação ideal para o diabetes tipo 2?
(Sueli)
Existem regras bem definidas para se falar em diabetes e pré-diabetes, dependendo de valores de glicemia (açúcar sanguíneo) bem como outros fatores. A alimentação ideal é aquela que parcialmente elimina carboidratos.

• • •

Gostaria de saber o melhor método para acabar com a gordura abdominal. Faço exercícios físicos seis vezes por semana, não descuido da alimentação, pois tenho diabetes, e não consigo diminuir a barriga e a cintura. Minha mãe tem aquele tipo de barriga avental, e diabetes. Morro de medo de ficar com a barriga caída como ela.
(Laice)
A gordura abdominal é dependente de genética e possivelmente induzida por vários fatores hormonais. O melhor que se pode fazer é: manter exercícios físicos, fazer contagem de carboidratos, evitar açúcar (doces, sorvetes, etc) e eventualmente mensurar insulina e tomar remédios. Fale com seu médico sobre essas providências.

• • •

Dr. Medeiros, tenho um filho diabético tipo 1. Tenho esperança a médio ou curto prazo de ver meu filho livre dessa doença?
(Flavio Maraes)
Já existe a insulina inalável que facilita muito o tratamento do diabetes infanto juvenil. Transplante de pancreas é outra alternativa. Mantenha a esperança que outras novidades virão.

• • •

Até que nível de glicemia se pode controlar apenas com dieta e exercícios físicos? O portador de Diabetes Tipo 2 consegue controlar a doença apenas com esses dois recursos?
(Pedro Arake)
Sem dúvida. Dieta adequada e MUITO execício podem, em conjunto, controlar a doença.

• • •

Qual é a diferença entre a isolina com efeito após 6 horas e a insulina com efeito imediato; seu período de efeito é de quantas horas?
(Roberto)
A insulina rápida, ou regular é de efeito imediato e dura poucas horas. Existem outras insulinas de ação muito lenta, lenta, e semilenta. O seu médico saberá indicar qual a melhor para cada caso.

• • •

Minha esposa sofre de hipotireóidismo e apresenta quatro nódulos, que vêm sendo acompanhados por ultrassom e pulsão, pois dois nódulos continuam a crescer. Há risco de ser câncer? É necessário a cirurgia para retirada completa da tireóide?
(Alexandre)
Para responder esta questão o médico precisa saber a descrição detalhada dos nódulos pela ultra-sonografia e o resultado do exame citológico após a punção. Fale com seu endocrinologista que poderá lhe orientar de forma mais precisa.


Segunda-feira, 12 de Março de 2007
Diabetes: um mal silencioso e muito perigoso

É muito difícil que exista um clínico geral, um médico da Unidade Básica de Saúde e muitos outros de diversas especialidades que, em sua atividade diária, jamais tenha atendido um paciente com a seguinte informação: "meu açúcar no sangue está um pouco alto, doutor". Logo após a primeira declaração, a imensa maioria desses pacientes usa de vários artifícios semânticos para dizer que "não há ninguém na família com diabetes, doutor". Mas o inquérito rigoroso da genealogia familiar indica parentes próximos com a doença. "Meu avô tinha um pouco de açúcar mas não tomava insulina" ou "minha avó era só um pouco diabética, mas morreu com 89 anos" e assim vai a tendência da maioria de tentar ocultar a genética do diabetes, de evitar a possibilidade de ser candidato à doença, de minimizar o risco de tê-la. E o pior é que o diabetes é uma moléstia muitas vezes de início lento, com poucos sintomas e quase sempre negligenciada pelos pacientes.


Essa doença é sempre genética?


Hoje sabemos, pela Organização Mundial de Saúde, em relatório de 2006, que 1,1 bilhão de pessoas no mundo está com excesso de peso e que 312 milhões sofrem de obesidade (Índice de Massa Corporal acima de 28 kg/m2). Vários países em desenvolvimento, como o Brasil, com regiões onde a renda anual por pessoa é de cerda de 3.000 dólares anuais (ou 6.600 reais por ano) registram alto risco para a obesidade o que, fatalmente, leva a maior incidência de diabetes tipo 2 (aquela que não usa insulina).


A chance de uma pessoa tornar-se diabética é maior quando a gordura se acumula na "barriga", a chamada de obesidade andróide - mais comum no sexo masculino. Este tipo de obesidade (andróide) está ligado a fatores genéticos familiares e leva a maior risco de diabetes e outras moléstias. As mulheres tendem a acumular gordura no abdômen inferior, coxas, região glútea, com o "clássico culote", apresentando a obesidade ginoide, de menor risco para doenças vasculares e diabetes.


O que ocorre nos países emergentes?


Nos últimos 20 anos os níveis de obesidade triplicaram nos países em desenvolvimento, cujas populações adotaram padrão de vida e estilo nutricional copiados de países industrializados. Passaram a consumir exageradamente alimentos baratos (fast-food, muita gordura, muito carboidrato), com alto teor calórico, simultaneamente à rotina sedentária. Ainda mais assustador é constatar que a obesidade infantil está em patamares de 2 a 10% das crianças em idade escolar e em pré-adolescentes.


A obesidade tanto infantil como adulta ocorre com mais freqüência nas classes média e média baixa. O enorme consumo de doces, refrigerantes, sorvetes, chocolates, biscoitos de todas as formas, pães, bolos de todos os estilos é mais comum nestes segmentos populacionais. Resultado: a prevalência de diabetes tipo 2 é diretamente proporcional ao aumento da obesidade. E as projeções para 2030 são assustadoras (veja quadro abaixo).


Clique na imagem para ampliar


Diabetes abre portas para várias doenças.

A obesidade, principalmente a andróide, leva a maior risco de doenças cardiovasculares. O risco de pressão alta (hipertensão) cresce de 5 a 6 vezes nos obesos. Hoje, de acordo com as estatísticas, admite-se que 1,56 bilhão de indivíduos terá hipertensão passível de tratamento médico em 2025. Outro agravante: a tríade obesidade, diabetes e hipertensão irá afetar o funcionamento e a estrutura dos rins. A chamada "Doença Renal do Diabetes" também conhecida como Nefropatia diabética surge em cerca de 30 a 40% dos diabéticos.


Na China e na Índia, a nefropatia diabética subiu de 17%, em 1990, para 30%, em 2000. Na Índia, onde se estima um total de 30 milhões de diabéticos a previsão é de que ao menos 6,6 milhões terão doença renal crônica necessitando de cuidados hospitalares, diálise, transplante de rim, etc. Conclusão: países emergentes, como o Brasil, devem investir no controle efetivo da obesidade populacional. Autoridades precisam indicar rumos para mudanças no estilo de vida, com alimentação saudável, exercícios regulares e freqüentes. Só assim a prevenção da hipertensão e do diabetes será eficiente.



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