Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, março 14, 2007

PT submisso a Lula


editorial
O Estado de S. Paulo
14/3/2007

Há quem ache que o Partido dos Trabalhadores (PT) está revelando um antes insuspeitado prazer masoquista, um certo gosto de apanhar, em seu relacionamento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Que o partido fundado pelo líder sindical - que com ele chegou ao poder máximo - tem acumulado um já pesado estoque de desfeitas, não há dúvida. Não bastasse o atestado de incompetência que lhe foi estrepitosamente passado pelo chefe de Estado e governo, quando escolheu como seus líderes do Parlamento não um nem dois, mas todos de outros partidos - a saber, Romero Jucá, José Múcio e Roseana Sarney -, a cada nova reunião com seus companheiros Lula intensifica as broncas que deixam os petistas encolhidos, cabisbaixos e inteiramente submissos, como se fossem crianças dos velhos tempos do autoritarismo pedagógico, prestes a passar pela palmatória de seus preceptores ranzinzas.

Na última dessas reuniões, ocorrida no Palácio do Planalto, demonstrando o máximo de irritação - no que tinha toda a razão, seria bom salientar - com as cobranças públicas do PT por cargos no primeiro escalão, o presidente Lula devolveu as sugestões de nomes ainda em disputa entre as facções internas do partido, mandando que, antes de sugerir quem quer que fosse, as correntes dirimissem suas divergências (não deixando para o presidente dirimi-las). E, aproveitando a bronca, espinafrou a conduta de seus companheiros no Legislativo, que "comeram mosca" ao não matarem no nascedouro a iniciativa de constituição de uma CPI do Apagão Aéreo, obrigando-se ao desgaste de abortar a CPI em plenário.

Aqui não cabe discutir as razões do pragmatismo presidencial, que engendra as estratégias eticamente mais discutíveis - para dizer o menos - na montagem da tão almejada governabilidade. O sistema de distribuição de agrados entre os componentes dos partidos da chamada coalizão - levando sempre em conta os carinhos dispensados à suas respectivas (e inconciliáveis) facções internas - já adquiriu sofisticação capaz de merecer a designação de neofisiologismo político, um pouco distinto e certamente mais eficiente do que táticas de arregimentação do tipo valerioduto e mensalão. O problema é que a cúpula petista não se vê considerada, pelo presidente Lula, nem quanto ao respeito a suas divergências internas, pois o presidente não se dispõe a distribuir espaços na Administração às diferentes correntes petistas - como Campo Majoritário, Democracia Socialista, Movimento PT - da mesma forma como aceita, por exemplo, as sugestões - ou pretensões - divergentes da bancada do PMDB na Câmara dos Deputados (aliada de Temer) e da bancada do PMDB no Senado (do grupo da frustrada candidatura Jobim).

Se, com a reeleição de Lula, o PT sentiu-se "absolvido" e plenamente recuperado nas urnas, a ponto de pretender multiplicar seu espaço no Ministério, nas direções de estatais e nos escalões inferiores da Administração federal, agora parece não pretender mais do que ser tratado, pelo menos, com as mesmas regalias proporcionadas aos aliados mais importantes da base parlamentar de sustentação ao governo. Mas como sabe ser, ele próprio, a última bandeira que restou ao partido, que de campeão da ética na política se tornou igual - se não muito pior - do que os partidos que tanto criticava, em termos de métodos de chegar ao Poder e mantê-lo, Lula também sabe que terá no PT, de agora em diante, um partido inteiramente submisso, subserviente, do que a melhor - e até derrisória - ilustração está nas palavras do deputado Luiz Sérgio (RJ), líder do partido na Câmara, que disse: "O PT deixou o presidente à vontade para ele fazer a reforma que quiser, com ou sem Marta Suplicy. Se ele (Lula) achar conveniente perdermos espaço, vamos compreender e apoiar incondicionalmente." Isso é que é espírito partidário, mais é bobagem!

Quanto a Marta Suplicy, afirma petista que a conhece bem que o prêmio de consolação que é o Turismo seria aceito se "o convite fosse feito com muito jeito". Em termos de ambição política tudo é possível - até aceitar um ministério fazendo beicinho de muxoxo e tentar virar o jogo, com novas idéias. Vejamos.

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