O Estado de S. Paulo |
14/3/2007 |
A pesquisa da Fundação Perseu Abramo - insuspeita, pois ligada ao PT - mostrando que o partido é visto como a legenda onde se abrigam o maior número de corruptos pode até não retratar a realidade absoluta. Afinal, não há formas precisas de medir o índice de corruptos por metro quadrado nos partidos nem é lícito supor que o PT abrigue mais desviantes éticos que legendas há muito especializadas no ramo. Mas a pesquisa trata de imagem e, neste quesito, embora não revele novidade, consolida uma constatação ruim para quem subiu na vida por representar o extraordinário: se diferença ainda existe entre o PT e os outros partidos, é para pior. É possível também que o PT pague o preço de ser governo, um foco de atenções e cobrança bem mais vistoso que qualquer partido de oposição. Mas, se não fosse governo, o PT também não teria sido posto à prova. Ou, por outra: poderia ter exercido o poder sem dar margem a avaliações tão negativas e sem ferir de morte a imagem construída ao longo de vinte anos. Levando em conta os três governos eleitos pelo voto direto desde a redemocratização, a consulta põe a gestão do presidente Luiz Inácio da Silva como a segunda em casos de corrupção. O governo Fernando Collor ficou em primeiro, com 40%, Fernando Henrique em terceiro, com 17%, e Lula recebeu 24%. Feita no fim do ano passado e entregue ao Diretório Nacional do PT em fevereiro último, a pesquisa já pôde ser devidamente analisada nas internas e, em tese, reforça a posição dos petistas partidários de uma revisão completa de procedimentos, começando pela mudança da direção no Congresso partidário de agosto próximo. Na teoria deveria ser assim, mas a prática indica que talvez não seja bem assim. Os números são conhecidos do partido há algum tempo e, mesmo diante deles, os reformistas foram obrigados a tirar do documento que apresentarão em junho a palavra “corrupção”. Como se o banimento do termo no enunciado alterasse por si só o conteúdo do problema. No grupo que preconiza alterações radicais estão dois petistas que comentaram a pesquisa ontem nos jornais. Um tergiversou e outro foi no ponto. Tarso Genro apontou o equívoco de o partido achar que a desconfiança está superada. Em compensação, tangenciou o principal ao dizer que a associação do PT com a corrupção é “transitória” e deverá desaparecer “em dois ou três anos”. Por encanto, isso não acontecerá. Ainda mais diante da repetição dos métodos que originaram os escândalos, como tem demonstrado o critério fisiológico de montagem da maioria parlamentar e das mudanças nos ministérios. O deputado José Eduardo Cardozo comparou a situação do PT à de outros partidos de esquerda que também enfrentaram crises éticas e invocou a lição segundo a qual a boa imagem perdida só se recupera “com ações duras em relação àqueles que transgrediram no campo ético”. Nessas duas declarações estão delineadas as opções postas ao PT: tomar a iniciativa de se corrigir ou dar tempo ao tempo na esperança de que a exígua memória nacional resolva a questão. Por enquanto, tudo indica que a escolha recairá sobre a segunda. Se for isso mesmo, significa que o PT terá se adaptado bem ao ambiente da vala comum. De fato e ficção O deputado e ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci tem todo o direito de dar à sua história a versão que bem quiser. Só não pode exigir que seus leitores aceitem pacificamente a distorção da História. Em seu livro Sobre formigas e cigarras, Palocci atribui sua queda em março de 2006 à sondagem feita oito meses antes pelo secretário particular da Presidência da República, Gilberto Carvalho, para que fosse o candidato a presidente no lugar de Lula. Na interpretação dele, a partir daí a oposição não sossegou enquanto não o derrubou. Palocci briga com vários fatos, sendo o mais eloqüente deles que não caiu porque o caseiro Francenildo denunciou que mentiu para o Congresso ao negar ter freqüentado a casa de lobby do Lago Sul. Caiu porque mandou quebrar o sigilo bancário do cidadão. Esqueceu-se também de citar que no período referido falou duas vezes no Congresso e, nas duas, foi protegido pela oposição. Escalada Nada como uma revisão de posições para fazer um político prosperar. O deputado Geddel Vieira Lima é o exemplo mais notável da atualidade. Hoje praticamente ministro da Integração Nacional, no primeiro mandato de Lula recebeu de mensageiros do Planalto a oferta de indicar o diretor do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT) na Bahia. Achou pífia e desrespeitosa a proposta, para quem, no governo anterior, havia mandado e desmandado no Ministério dos Transportes ocupado pelo correligionário pemedebista, Eliseu Padilha. Na época, o PT dizia em bom som que a convicção oposicionista de Vieira Lima teria preço e prazo. Errou nos valores, mas acertou no essencial.
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Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, março 14, 2007
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