editorial |
O Estado de S. Paulo |
20/3/2007 |
Desta vez, a intuição de que tanto se gaba o presidente Lula lhe falhou estrepitosamente - e não adianta ele culpar o PMDB por não ter tido “mais cuidado” antes de incluir o nome do deputado federal e grande empresário rural Odílio Balbinotti na sua lista de ministeriáveis para a Agricultura. A responsabilidade do presidente pela precipitada e desastrada escolha é intransferível, ainda mais se for verdadeira a versão segundo a qual Balbinotti não fazia parte da relação preparada pelos cardeais do PMDB, mas nela foi incluído à última hora para atender a um pedido que Lula fez chegar ao deputado Michel Temer. Em sentido estrito, o vexaminoso episódio terminou no sábado, 48 horas depois da escolha, quando Balbinotti desistiu da Pasta, depois de o jornal O Globo revelar que - além de ser réu em vários processos, notadamente o que corre em segredo de Justiça no Supremo, por falsidade ideológica - o segundo mais rico dos 513 integrantes da Câmara dos Deputados usou empregados seus como laranjas para garantir empréstimos bancários. Mas, expressão acabada do jeito lulista de nomear, a história continua a pairar sobre o Planalto. Começa com a intenção do presidente de ter na condução da Agricultura não só um conhecedor do setor, mas também um político que, além de tudo, fosse benquisto pelo governador do Paraná, Roberto Requião, a quem Lula queria fazer um agrado, e tivesse o aval dos governadores dos Estados ruralistas de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Obtida a aprovação dos três, Lula achou que só faltava um ato para consumar a nomeação de Balbinotti - um tête-à-tête com o agropecuarista a quem não conhecia pessoalmente. Ao ouvir dele a trajetória que percorreu, de “pé vermelho” (bóia-fria) a principal produtor de sementes de soja do Brasil, o presidente se desmanchou por dentro: tinha à sua frente o tipo de brasileiro pelo qual sente atração irresistível - um homem que se fez por si, chegou ao topo na atividade que escolheu, sem perder o jeitão original jamais. Em suma, numa esfera inteiramente diferente, um outro Lula. Confiando no próprio faro, o presidente deve ter achado desnecessário mandar levantar a folha corrida do seu mais recente alter ego. Se chegou aonde chegou, vindo de onde veio - decerto há de ter pensado, por analogia consigo mesmo -, só pode ser um poço de atributos positivos. E bateu o martelo. Esse não foi o único tropeço grave do chefe do governo na formação da equipe para o segundo mandato. Mais preocupante tem sido o seu presumível pouco-caso com o foco da atividade dos Ministérios, exceção feita à Educação e à Saúde, com as quais, disse, “não se brinca” (dando margem a que se comentasse que com os outros se poderia brincar). De tudo o que se publicou das tratativas presidenciais com os partidos da coalizão, para escalar o seu time, em momento algum veio à luz qualquer indício de ter ele tratado com os seus interlocutores das metas administrativas que os indicados teriam de cumprir. (Só teria fugido à regra quando descartou a ida da ex-prefeita Marta Suplicy para a Educação, invocando o programa para o setor a cujo preparo se dedicava o ministro Fernando Haddad.) O próprio Lula deu a demonstração mais ostensiva desse inadmissível dar de ombros ao que espera dos seus novos auxiliares. Ao empossar os novos ministros da Justiça, Tarso Genro; da Saúde, José Gomes Temporão; e da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, o seu silêncio sobre o que espera deles foi, como se diz, ensurdecedor. Festivo, fez piadas, recorreu ao futebol e lamentou os baixos salários pagos aos ocupantes do primeiro escalão - ao menos não se queixou de sua paga, comparando-a, indelicadamente, à dos torneiros mecânicos. E deu vazão à mitologia que criou sobre a excelsa, imutável qualidade de sua equipe, comparando os seus membros a astros como Didi, Garrincha e Zico. No papel de técnico, deliciou-se: “Você tira um bom e tem outro bom para entrar. Você não piora a qualidade do time, mas aperfeiçoa.” A proverbial sorte de Lula o poupou de ser lembrado disso se as denúncias contra Balbinotti só espoucassem depois que entrasse em campo. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, março 20, 2007
O jeito lulista de nomear
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