O Globo |
13/3/2007 |
Ao lançar a idéia de que o PMDB tem que ter um candidato à sucessão de Lula, o reeleito presidente do partido, deputado Michel Temer, colocou o partido um passo à frente, numa questão que sempre foi problemática. E nem se poderá acusá-lo de estar perturbando o mandato de Lula, se adiantando aos fatos. Na verdade, quem começou a discutir a sucessão foi o próprio PT, quando um grupo de deputados lançou a idéia de um plebiscito para testar a tese do terceiro mandato, e o próprio Lula, quando, na montagem do Ministério, tratou de tirar do centro político a ex-prefeita Marta Suplicy, alegando que não queria candidatos à Presidência perturbando o andamento do governo. Como quer ter o controle de sua sucessão, se é que não vai mesmo tentar disputar um terceiro mandato, Lula deu margem a que os políticos começassem a se movimentar. O PMDB, unido até não se sabe a que ponto, como maior partido da coalizão tem o direito de aspirar a essa posição. O deputado federal Michel Temer, reeleito com mais de 80% dos votos na convenção do último domingo, é o grande vencedor das manobras políticas para a montagem do Ministério, e pode ganhar até mais uma vaga para explicitar de vez a importância que tem no xadrez político de Lula. É um fenômeno político importante essa união do PMDB. Os dois maiores adversários de Temer na disputa pela liderança partidária, os senadores José Sarney e Renan Calheiros, estão neutralizados pelo momento, Sarney pela indicação de sua filha Roseana para líder do governo, e Renan, embora magoado, pela impossibilidade de levar adiante uma revolta que acabou deixando-o isolado no partido, ao lado do derrotado Nelson Jobim. A dificuldade para Renan recuperar a liderança do PMDB é que ele liderava pela divisão das forças políticas do partido, enquanto Temer hoje lidera pela união, o que lhe dá uma estatura maior na disputa. Essa tentativa de unir o PMDB pode vir a ser frustrada em meio a essa caminhada rumo à sucessão de Lula, e mesmo essa coalizão política que junta 11 partidos de tendências diferentes e, muitas vezes, opostas tem chance de não dar certo, bastando para isso que surjam os primeiros problemas na área econômica. Podemos constatar mais adiante que o PMDB não consegue mesmo se unir, precisa viver com essa disputa entre líderes regionais que se impõem uns aos outros num revezamento de poder. Mas aí continuará a ser um partido coadjuvante. Vai ser difícil haver uma candidatura única da coalizão, se é que a coalizão resistirá a todos os embates. O PSB, por exemplo, já tem um candidato no deputado federal Ciro Gomes, apoiado pelo PCdoB. E o PT dificilmente abrirá mão de ter a cabeça de chapa, mesmo que esse possa vir a ser o desejo do próprio presidente Lula. Os acordos políticos já estão tão avançados, num governo que ainda nem se iniciou, que já há quem diga que Lula imagina poder chegar à sucessão com dois ou três candidatos de seu grupo, que se uniriam num segundo turno. Além de todas as negociações internas na coalizão governamental, o PMDB tem o mesmo dilema do PFL. O fato de os dois partidos terem se recusado a disputar as últimas eleições presidenciais explicaria porque eles não têm uma imagem política nacional, embora dominem a política regional. O PMDB elegeu as maiores bancadas da Câmara e do Senado e tem o maior número de prefeitos. O PFL sofreu um baque, caindo de 85 para 64 deputados, e tenta se reorganizar trocando de nome para Partido Democrata e radicalizando na oposição ao governo Lula e no programa liberal. O último candidato próprio do PFL foi Aureliano Chaves, em 1989. E o PMDB "cristianizou" primeiro Ulysses Guimarães, depois Orestes Quércia, e nenhum deles passou dos 10% dos votos. Deixando que questões locais se sobrepusessem às nacionais, os dois partidos demonstravam uma vocação política restrita, assumindo o papel de coadjuvantes. Por isso, mesmo decidindo mais uma vez não lançar candidato próprio, o PMDB fez bancadas expressivas no Congresso, e o PFL manteve sua força no Senado, por que são partidos montados em torno de máquinas locais, que foram reforçadas nas eleições municipais de 2004. O PMDB continua sendo o partido com maior número de prefeitos e vereadores. E o PFL manteve-se como a terceira força municipal, atrás do PT e do PMDB. PT e PSDB, por terem "vocação presidencial", tendem a polarizar a disputa presidencial. Essa polarização entre o PT e o PSDB tem menos a ver com o que acontece nas eleições municipais, e mais com um padrão de comportamento que os partidos brasileiros desenvolveram nas eleições presidenciais. A "vocação presidencial" desses partidos, desenvolvida em quatro disputas presidenciais, os forçou a formular propostas para o país, a criar redes mais orgânicas com o mundo intelectual e a criar processos decisórios mais centralizados no plano nacional, segundo o cientista político Jairo Nicolau, do Iuperj. O ex-governador Garotinho tentou romper o controle das lideranças regionais do PMDB e se lançar candidato no ano passado, e foi alijado da disputa por um partido que não queria ter candidato próprio, e muito menos que esse candidato fosse Garotinho. Hoje, o PMDB tem no governador do Rio, Sérgio Cabral, uma força política ascendente, e no governador de Minas, Aécio Neves, uma das estrelas tucanas, objeto de consumo para unir suas forças para a sucessão. Só o tempo dirá se PFL e PMDB continuarão a ser coadjuvantes, ou se tentarão disputar isoladamente a presidência. Sem Lula na parada, o provável é que muitos candidatos se apresentem. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, março 13, 2007
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