Foi importante o enfoque de pesquisa em tecnologia que os dois presidentes deram ao memorando de entendimentos, que não é o enfoque simplista de que o Brasil pode ser o maior produtor de etanol, pois tem vastas extensões de terra para plantar cana-de-açúcar. Esse é apenas um dos aspectos positivos para nossa liderança nesse setor, mas o importante é que o Bush salientou muito a intenção de pesquisar a tecnologia da produção do etanol em conjunto com os técnicos brasileiros, com o Brasil no papel de líder dessa tecnologia.
O número que o presidente dos Estados Unidos anunciou sobre pesquisas é avassalador: U$ 1,6 bilhão nos próximos dez anos.O investimento em biocombustíveis previsto para o Brasil é da ordem de R$ 17 bilhões, com a meta de se atingir, em 2010, 23,3 bilhões de litros de etanol. Nós só podemos competir com os Estados Unidos utilizando nossa capacidade técnica, reconhecida publicamente pelo presidente americano. Um fato curioso foi a citação, pelo presidente Bush, da ignorância da maioria dos americanos sobre a existência do carro flex, cuja tecnologia foi desenvolvida no Brasil, onde o consumidor pode escolher o tipo de combustível que vai usar.
A linguagem populista que Bush usou nas primeiras entrevistas sobre a viagem à América Latina, claramente querendo disputar espaço com Hugo Chávez, não lhe caía bem e, pelo menos para o Brasil, não atendia às nossas necessidades. O Brasil quer é abrir o comércio internacional para ganhar espaço, não apenas com as commodities, mas com tecnologia também nesse campo dos biocombustíveis.
Mas para isso é preciso que o país decida querer ter uma relação comercial com os Estados Unidos à altura do maior mercado do mundo.
Nesse momento, há uma divisão clara: enquanto Lula recebe Bush para tratar de um assunto que, como bem disse Lula naqueles seus arroubos patrióticos que quase sempre são apenas arroubos, pode abrir uma nova era na História da humanidade, pelas ruas do Brasil os chamados “movimentos sociais” de que tanto se gaba Lula protestam em sintonia com as manifestações comandadas por Chávez a partir da Argentina.
Houve um momento na solenidade da visita da fábrica da Petrobras em que o presidente Bush caminhou lado a lado com o assessor especial para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, o cérebro por trás da estratégia sulamericana da política externa brasileira. Bush não imaginava que estava lado a lado com o maior interlocutor chavista do governo brasileiro.
Essa união de Chávez com o presidente da Argentina, Nestor Kirchner, e o da Bolívia, Evo Morales, num movimento antiamericano, traz de imediato um prejuízo enorme para o Mercosul que, tendo incluído a Venezuela como membro permanente e convidado a Bolívia a participar, perde a capacidade de negociar acordos econômicos tanto com os Estados Unidos quanto com a União Européia.
Que, aliás, ontem, numa decisão histórica, aprovou uma redução de 20% na emissão de gases, em 2020, em relação a 1990, com a possibilidade de subir esta redução para 30% se outros países desenvolvidos se juntarem a este objetivo. A decisão abre um novo caminho para os biocombustíveis, tanto etanol quanto o biodiesel.
O Brasil é o líder mundial de produção de etanol através da cana-de-açúcar, e a Europa é o maior produtor de biodiesel, sendo a Alemanha responsável por mais da metade da produção.
A decisão da comunidade européia tem base na proteção do meio ambiente, com o objetivo de manter o aumento global das temperaturas médias no limite dos 2ocentígrados até 2050. Mas tem também objetivos políticos, na mesma direção dos Estados Unidos: não ficar dependente de produtores de petróleo que politizam suas decisões de abastecimento, sejam os governos populistas da América do Sul, como a Venezuela, a Bolívia e o Equador, que estatizam o petróleo e o gás, quanto pelo crescente nacionalismo que se registra nesses países, e também na Rússia.
Problemas como o atentado a gasoduto no Cáucaso em 2005, e interrupções de suprimento por questões políticas com a Ucrânia, traumatizam até hoje não apenas os países do Leste Europeu, como toda a Europa Ocidental, que depende do fornecimento do gás russo, e fizeram com que vários países europeus começassem a repensar seus programas de energia alternativa.
Pelo fato de que as energias renováveis não cresceram a um ritmo suficiente na Comunidade Européia nos últimos anos, as importações de petróleo deverão aumentar cerca de 20% entre 2005 e 2020, e as de gás natural, cerca de 90%. A participação das energias renováveis não ultrapassará os 10% em 2010, valor bem inferior ao objetivo de 12% fixado pela União Européia desde 1997.
Os biocombustíveis duplicaram sua participação em apenas dois anos, passando de 0,5% em 2003 para 1% em 2005, um crescimento insuficiente para uma meta de 2%.
Este crescimento se deve mais ao biodiesel, que alcançou 1,6% do mercado em 2005, pois o etanol apenas representa 0,4% do mercado da gasolina. A política da União Européia tem também um objetivo de participação mínima de 10% dos biocombustíveis nos mercados de gasolina e diesel até 2020.
Os técnicos europeus consideram que os biocombustíveis são único meio para diminuir a dependência do petróleo no setor dos transportes nos próximos 15 anos. Além do mais, querem enviar um sinal claro sobre a dimensão provável, a médio prazo, do mercado para os biocombustíveis, para que os fabricantes de automóveis possam equipar os motores com as modificações que são necessárias.
Como se vê, é um mercado que se abre tanto para a tecnologia de automóveis, que o Brasil domina, quanto também para o etanol e também o biodiesel, que já está mais difundido na Europa que nos Estados Unidos.
(Continua amanhã)
Entrevista:O Estado inteligente
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