Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 10, 2007

FERNANDO GABEIRA The book is on the table


O ENCONTRO Bush-Lula precisa ajustar alguns desequilíbrios. Como os casais, de vez em quando, é preciso discutir a relação. Será que nossa parceria na produção de etanol é uma proposta além do petróleo? Se fosse, não estaríamos discutindo apenas como tornar o álcool mercadoria internacional. Estaríamos discutindo também as cláusulas sociais e ambientais desse processo.
Da parte de Bush, sou pessimista quanto ao salto para além do petróleo. Ele queria explorá-lo no Alasca. Nem sequer assinou o Protocolo de Kyoto. Está profundamente ancorado na fase da história que se esgota.
No caso do nuclear, temos que discutir. O Brasil faz tudo direito.
Defende e respeita o Tratado de Não-Proliferação. Foi um dos primeiros países do mundo a adotar as restrições da ONU ao Irã.
Bush acaba de lançar uma nova geração de ogivas nucleares. Fez acordo com a Índia, dentro de sua política "good boys podem, bad boys não podem". O que vemos com essa ambigüidade é a Rússia tentando modernizar seu arsenal, e a China aumentando em quase 20% suas despesas nucleares. Estamos remando contra a corrente?
Se vamos ao Haiti, então, vemos o Brasil fazer tudo certo. Nossas tropas trouxeram uma paz possível e instável ao Haiti, controlando os focos de tensão em Bel Air e agora em Cité Soleil. Mas, sem verbas para recuperar o país, os esforços vão se perder.
O aquecimento global pode jogar milhares de "boat people" na costa americana. Será que Bush não percebe que num país devastado ecologicamente como o Haiti há uma bomba social a ser desarmada?
Uma das únicas decisões importantes de Bush é ampliar o ensino de inglês. Países como o Chile e a China consideram isso tão positivo que o tornam uma política nacional.
Houve um tempo em que os americanos enviavam Louis Armstrong ou o Modern Jazz Quartet correr o mundo. Logo, não ignoram o potencial do softpower, da influência através de seus valores éticos e culturais.
Isso poderia ser um fermento para o encontro dos presidentes.
Não é apenas um recurso natural, o petróleo, que começa a declinar. É toda uma visão de mundo. Plantadores de milho acham que os EUA devem taxar nosso álcool porque estamos adiantados no setor. Vão privar seus consumidores de nossos avanços como um dia tentamos privar os nossos dos avanços americanos na informática?
Bom aprender inglês, para mostrar que falamos línguas diferentes, num mundo nuclearmente armado, potencialmente aquecido, socialmente explosivo, carente de uma diplomacia preventiva para competir com ogivas e canhões.


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