O Globo |
20/3/2007 |
Comecemos olhando a situação com as lentes da boa-fé: o Brasil oficial, residente nos Poderes da República, zela, com permanente e denodado empenho, pela Família. Note-se o uso da inicial maiúscula para mostrar encantamento e respeito. E não se veja na constatação inveja ou - traço marcante, dias atrás, num caminhão de cartas de leitores - ironia disfarçando asco. Embora asco, vamos reconhecer, bem poderia ser a expressão adequada para definir a reação de uma verdadeira legião de indignados cidadãos: tanto significa repugnância como tédio. Define adequadamente, portanto, um fenômeno já conhecido e detestável. No Legislativo, em todos os níveis, são raros os gabinetes sem a quota da parentalha. Não espanta, considerando-se que prevalece no país oficial a extraordinária concepção de que a própria representação popular é uma forma de emprego. Como se funcionários contratados fossem, vereadores, deputados e senadores equiparam subsídios a salários - e acham que merecem ganhar tanto quanto os mais altos servidores dos dois outros poderes. A distorção permite até (não contem isso lá fora, por favor) a aposentadoria de parlamentares. Um veterano ex- deputado pode ganhar até R$8 mil e trocados todo mês. Ora, se o mandato legislativo é equiparado a emprego público, e dá direito a pensão, acaba sendo natural - pelo menos, previsível - que, no seu exercício, o representante do povo lote seu gabinete com o que poderia chamar de "o povo lá de casa". No Judiciário - onde, claro, as aposentadorias são legítimas -, o risco de abuso está presente nos concursos para a magistratura. Em muitos casos, obviamente, pai desembargador e filho juiz pode ser natural e saudável conseqüência de estímulo familiar, comum em qualquer ofício. Mas nem tudo é sempre transparente e explicável. No último concurso para juízes no Rio, por exemplo, são fortes os indícios de mutreta. Parece difícil explicar de outra forma, por exemplo, que uma candidata tenha reproduzido textualmente, palavra por palavra, o gabarito de uma das provas. Nenhum representante da magistratura se opôs a uma investigação séria e urgente. Parabéns - inclusive porque, se mutreta existe, membros do Judiciário certamente estão envolvidos -, mas não poderia ser diferente: é o único tipo de apuração do caso que a opinião pública aceita. Resta torcer para que, nos próximos capítulos dessa novela triste, fique provado que o pessoal do Judiciário deixa a família em casa quando sai para trabalhar para nós. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, março 20, 2007
Luiz Garcia - Deixar a família em casa
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