Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, março 13, 2007

Jean-François Revel revisitado- Jarbas Passarinho

Jornal do Brasil
13/3/2007

Foi ministro, senador, governador e é escritor


O notável escritor francês escreveu um livro que provavelmente não passou da primeira edição: A obsessão antiamericana. Em geral, a esquerda domina o campo da comunicação social e livros dessa natureza devem ser boicotados, como me parece ter acontecido com Os camaradas, em que o insuspeito William Waack transcreve oportunos documentos por ele obtidos nos arquivos de Moscou, após o colapso da União Soviética. Um deles desmascara a campanha que os comunistas e companheiros de viagem fizeram para desmoralizar a denúncia de que o ouro de Moscou era fruto da calúnia da direita. Prova, usando a fonte moscovita, que existiu.


Outra patranha é, até hoje, divulgar que os anticomunistas diziam que os comunistas comiam criancinhas. Pois, no livro Leaders, de Nixon, há uma passagem que mostra a origem dessa versão para ridicularizar os que não rezam o evangelho por Marx e Lênin, basta o de Saramago. Konrad Adenauer visitou Moscou, que lhe devotava grande aversão. Ao recebê-lo, grosseiramente, Krushev lhe disse: "Vocês capitalistas, fritam os comunistas e os comem e - o que é pior - sem sal"...


Ao tempo da guerra fria, a reunião da trilateral em Tóquio, Brzezinsk desenvolveu a tese do determinismo geográfico: à Ásia caberia a influência da União Soviética, e à América Latina a dos Estados Unidos. O terrorismo que atacou Nova York e Washington em 11 de setembro de 2001, com mais de três mil mortes de civis no desmoronamento das torres gêmeas de Nova York, levou Bush a declarar os Estados Unidos em guerra contra o terrorismo onde quer que ele estivesse localizado.


Escreve Revel, a respeito, que passado o momento da primeira emoção e de condolências formais, os europeus começaram a descrever os atos terroristas como justa resposta ao mal que os Estados Unidos fazem ao mundo. Há dias, o presidente Lula disse para o presidente Bush que o terrorismo só acaba quando acabar a fome. Como há 854 milhões de famintos no mundo, segundo a ONU, o terrorismo ainda vai durar muito, na melhor das hipóteses.


O terrorismo conseguiu progressivamente influir nas eleições na Espanha e na Itália, onde os vencedores prometeram retirar suas tropas da coalizão liderada pelos Estados Unidos no Iraque. Quem não quer ver seus parentes amados livres da guerra? Eleitores americanos repetiram os espanhóis e os italianos. Bush, que foi reeleito por um colégio eleitoral com mais de três milhões de votos que os dados ao competidor, tornou-se responsável por mais de três mil militares americanos mortos na luta contra os terroristas, sem contar os mortos da Otan no Afeganistão, onde Bush esteve certo, pois lá estavam os centros de treinamento de Osama bin Laden. Culpam-no de ter estendido a guerra a Saddam, mas não culpam a CIA e o Pentágono, cujos serviços de inteligência, incompetentes, asseguraram que Saddam tinha armas de destruição em massa. Sujaram o currículo do general Colin Powell ao fazê-lo mostrar, no Conselho de Segurança, como prova de transporte de armas biológicas simples caminhões.


A França tinha grandes interesses no Iraque, no seu petróleo, e a Rússia cultivava objetivos geopolíticos. Dispondo do direito de veto, no Conselho, deixaram na guerra os Estados Unidos quase só com os britânicos. No Parlamento britânico, Tony Blair, também enganado, repetia: "As armas vão aparecer". A CIA garantia que os xiitas, que viviam submetidos à minoria sunita no governo do monstro Saddam, receberiam os americanos como salvadores deles. Deu-se o contrário. Bush é chamado de lame duck. Mesmo nos países que visitou, houve passeatas e bandeiras americanas queimadas. Se a visita fosse de Fidel, as bandeira seriam de Che Guevara. O fato, porém, é que para os Estados Unidos o que vale é a teoria de Brzezinsk: o determinismo geográfico. Somos o quintal da América. Nele, cacareja o "democrata" coronel e presidente Hugo Chávez, distribuidor de enxofre como antídoto para o Lúcifer dos Estados Unidos, enquanto lê Marx em russo...

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