Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, março 05, 2007

Integração energética da América Latina



Artigo - Norberto de Franco Medeiros
Jornal do Brasil
4/3/2007

vice-presidente do Conselho Mundial da Energia para a América Latina e o Caribe


A evolução do consumo de energia na América Latina e no Caribe é altamente dependente do cenário político. Apesar das muitas diferenças existentes entre os diversos países, estes têm seguido um padrão similar de desenvolvimento político.


O cenário energético seguiu esta evolução histórica. Do laissez faire para o government owns all e assim, de novo, da reforma do Estado e privatização para algo entre o governo e setor privado, embora estes limites não sejam claramente definidos.


A América Latina e o Caribe são caracterizadas pelas grandes taxas de demanda de energia (acima de 5% anualmente), forte quota hídrica (cerca de 60%) e importante presença de oportunidades de interconexão energética (gás e eletricidade) entre os países. Tem um grande potencial energético disponível relativamente barato.


Nos últimos 50 anos a integração econômica latino-americana deu um grande passo, especialmente no Cone Sul. Porém, ainda, persistem alguns pontos fracos como a frágil conexão entre as infra-estruturas dos países envolvidos.


Enormes recursos, difíceis de comercializar no mercado global (usinas hidrelétricas e gás natural) com baixo custo de oportunidade, poderiam ser mobilizados, livrando o petróleo produzido na região para exportação, principalmente, nos preços atuais.


Na década de 90, com o desregulamento dos mercados de eletricidade e gás natural, criou-se a expectativa que investidores privados iriam desenvolver as interconexões energéticas.


As poucas interconexões realizadas trouxeram, no entanto, outros benefícios como a diminuição das tensões políticas entre países em conflito. O gasoduto Argentina-Chile, que quase foram a guerra na década de 70; as inversões do Brasil na Bolívia que contribuiram para a estabilização da economia boliviana, a interconexão da América Central (Siepac, o Sistema de Interconexão Elétrica para a América Central) que criou um mercado comum de eletricidade entre países que estavam em guerra (Honduras e El Salvador).


No final dos anos 90, passou-se a trabalhar o modelo de mercado para o setor energético. No entanto, do lado da eletricidade, crises de suprimento no Brasil, Argentina e Chile levaram ao questionamento do mesmo em promover novos e necessários investimentos. Em 2004, uma grave crise de suprimento de gás na Argentina criou sérios desentendimentos com o Chile e interrupção das exportações de eletricidade para o Brasil e Uruguai. Por outro lado, as recentes mudanças políticas havidas na Bolívia prejudicaram o suprimento de energia, afetando principalmente a Argentina.


Devido a estas mudanças, ao ambiente de desconfiança e de acusações mútuas, o futuro das interconexões energéticas parece incerto. Neste contexto, os governos terão que criar condições favoráveis para investimentos em energia. Eles terão que adotar políticas e condições atrativas para os investidores, criando novas estruturas legais e reguladoras para diminuir as barreiras existentes.


É bom lembrar que a Europa há 60 anos estabeleceu a Comunidade Européia para o Carvão e o Aço, que virou o Mercado Comum Europeu. Os países da América Latina e do Caribe, devido a complementariedade dos seus mercados, seus parques industriais e recursos energéticos, terão muito a ganhar com uma agenda supranacional para o desenvolvimento econômico e social. A integração energética parece ser o caminho mais simples para tal objetivo.

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