O presidente Bush nunca escondeu seus compromissos com o lobby do petróleo. Desse duto escorreu generoso combustível para as campanhas eleitorais. Tanto eram importantes essas ligações que gente séria não achou explicação convincente para a eclosão da guerra do Iraque senão a de que foi gerada por interesses do governo Bush no petróleo então controlado por Saddam Hussein.
Apesar dessas amarras, em 31 de janeiro de 2006, na fala à nação, o presidente Bush não vacilou em denunciar: os americanos estão viciados em petróleo (addicted to oil). Foi uma estocada e tanto nos negócios do setor.
Doze meses depois, Bush foi além. Apresentou um plano para, até 2017, substituir por etanol nada menos que 20% da gasolina queimada pelos veículos americanos. Isso exigirá 132 bilhões de litros de etanol por ano. Hoje os Estados Unidos consomem 21 bilhões de litros de etanol.
O súbito engajamento do presidente Bush na guerra ao vício petrolífero ainda está para ser explicado. O que dá para avançar é que o Brasil teve algo a ver com essa conversão.
Tudo começou em novembro de 2005, quando, de volta da reunião de cúpula de Mar del Plata, o presidente Bush se encontrou com o presidente Lula, que lhe ofereceu um churrasco na Granja do Torto, em Brasília. À mesa estavam, além de Bush e Lula, Condoleezza Rice, Celso Amorim, Luiz Furlan e Roberto Rodrigues. Antes do almoço, Lula chamou Rodrigues de lado e soprou-lhe: “Fale tudo sobre o álcool.”
Durante uma hora, o ministro Rodrigues fez uma explanação sobre o etanol brasileiro. Entre garfadas de picanha, Bush ouviu, fez perguntas e foi embora.
Dois meses depois aconteceu o discurso do “addicted to oil”. Em seguida, o interesse americano foi manifestado pelo secretário da Agricultura, Michael Johannes, e pelo irmão do presidente americano, Jeb Bush, ex-governador da Flórida. Em abril de 2006, após tricotagens com o Brasil, Jeb enviou uma carta formal ao presidente Bush na qual propôs a adoção de um plano de fomento do etanol nos Estados Unidos. Deu no que já sabemos.
O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luís Alberto Moreno, também se entusiasmou no contexto da inserção do Continente no desenvolvimento de um programa do etanol. Em dezembro passado, foi criada a Comissão Hemisférica pró-Etanol, da qual Jeb Bush, Moreno e Rodrigues são co-presidentes. O BID está agora trabalhando num projeto que prevê o engajamento de todos os países das Américas.
A amarração internacional não parou aí. Em sua visita ao Brasil em setembro de 2004, o então primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi, também mostrara curiosidade pelo Programa do Álcool brasileiro. Koizumi fez uma vista à Usina São Martinho, em Pradópolis (região de Ribeirão Preto), e pareceu impressionado com a capacidade de moagem de cana e de destilação de etanol. Em maio de 2005, quando da visita do presidente Lula ao Japão, Koizumi anunciou que decidira criar uma comissão governamental cujo objetivo é analisar a inserção do etanol na matriz energética do Japão.
Agora, fora do governo, Koizumi manifestou interesse de integrar com os demais a que deve se tornar uma comissão internacional que não se limitará a questões da produção. Incluirá um grande consumidor potencial fora dos Estados Unidos.
A ponte com Koizumi está sendo feita pelo assessor especial do Ministério da Agricultura, Isidoro Yamanaka