A proposta de criação de uma televisão do Poder Executivo não seria, em princípio, uma idéia má. Ainda mais quando se tem o exemplo das televisões dos Poderes Legislativo e Judiciário. Criticadas no início, principalmente a pioneira TV Senado, as emissoras, há que se reconhecer, prestam um bom serviço ao cidadão.
Se, de um lado, alimentam vocações exibicionistas, de outro permitem que a população acompanhe em tempo real, e sem cortes, algo antes só possível a quem tivesse trânsito permitido nas dependências daquelas instituições inacessíveis à maioria.
Há que se reconhecer, em penitência, o equívoco de avaliações da época, que levaram em conta apenas os custos, sem considerar os benefícios.
As transmissões de julgamentos importantes, sessões de votações de interesse público, comissões parlamentares de inquérito, discussões em comissões permanentes, exposições de ministros e mesmo os debates do dia-a-dia no Congresso são politicamente educativos. Para o bem ou para o mal. Ajudam a sociedade a formar juízos.
A TV do Executivo poderia se inserir nesse cenário e é com o argumento desses exemplos que o governo defende a proposta de criar uma estrutura para dar conhecimento de seus atos 24 horas por dia a todo o território nacional.
O problema não é a proposta, mas o que está (ou pode estar) por trás dela e o histórico de quem a faz.
A idéia gerou imediata desconfiança. Plenamente justificada pelo insistente flerte com o autoritarismo e o gosto pelo modo publicitário de governar.
Quem enxerga nas críticas conspiração, vê excessos na liberdade de expressão, não disfarça a preferência pela interlocução via propaganda e desvaloriza a mediação institucional não pode reclamar quando é alvo da suspeita de que esteja querendo criar uma rede de televisão para ter nas mãos um instrumento que lhe permita ignorar todas as demais instâncias da democracia.
Se não é isso o que o governo Luiz Inácio da Silva pretende, é preciso haver uma explicação convincente o bastante para desarmar os espíritos armados não por suposições, mas por fatos objetivos.
Além do quê, o Poder Executivo já tem vários instrumentos à disposição: emissoras estatais de rádio e televisão, A Voz do Brasil, a Radiobrás, o programa semanal do presidente no rádio, a prerrogativa de convocação de rede a qualquer tempo e mais a preponderância do noticiário sobre o governo nos veículos privados.
Se isso não basta é de se perguntar o que, então, bastará para satisfazer a necessidade do governo de se comunicar com a população.
Da onça
Em princípio, soaram esquisitos os salamaleques dos partidos de oposição nos apartes ao discurso de Fernando Collor no Senado, chamando de levianos todos aqueles que contribuíram para seu afastamento da Presidência da República. Vários deles estavam na platéia. Nenhum reagiu. Pareceram culpados ou desmemoriados.
Pensando bem, porém, sobre o teor das manifestações de senadores como Tasso Jereissati e Arthur Virgílio; relembrando o silêncio do PT à exceção do aparte de Aloizio Mercadante, cheio de dedos para não transpor o tênue limite entre a boa educação parlamentar e a autocrítica por ações do passado, é possível enxergar a estratégia por trás dos gestos de reverência.
Usaram Collor para, com ironia, impor constrangimento e ressaltar a viravolta ética na posição dos petistas. Tasso Jereissati lembrou que as denúncias contra Collor “foram vistas com absoluto rigor” até por artistas e intelectuais que hoje “toleram a corrupção no governo Lula”.
Arthur Virgílio, a pretexto de se solidarizar com o tribuno que se apresentava como vítima, considerou “alto” o preço pago por ele, “num país onde ninguém paga”.
Os petistas não passaram recibo, mas entenderam.
Estica e puxa
Estão mal paradas as posições na direção da Câmara em relação ao aumento dos subsídios e da verba de gabinetes dos deputados. O segundo secretário, Ciro Nogueira, dá detalhes sobre a proposta de reajuste de 28% e diz que o assunto será posto em votação ainda em março.
O presidente, Arlindo Chinaglia, desmente, diz que o tema não está em pauta.
Há, aqui, duas possibilidades: ou o segundo secretário está atropelando o presidente querendo impor uma proposta por sua conta e risco, ou o assunto está mesmo em discussão e Ciro Nogueira falou cedo demais.
A segunda é a mais provável. Chinaglia quer votar os reajustes sim. Entre outros motivos porque assumiu o compromisso com seus eleitores, obrigados a recolher os flaps quando da reação negativa àquele aumento de 91%.
Só que Chinaglia não quer fazer isso agora. Primeiro pretende firmar a imagem de presidente laborioso, colecionar elogios na imprensa pelo ritmo que imprime à Câmara, reduzir com isso a animosidade em relação ao Legislativo, amaciar a opinião pública, e, só então, propor o aumento.
O problema é a pressão interna.