O Estado de S. Paulo |
16/3/2007 |
O PT sempre pode argumentar em sua defesa que, no balanço das ondas, continua navegando no conforto da posse do maior número de ministérios da Esplanada. Ainda dependente de um ajuste aqui e ali, o partido não fica com menos de 15 pastas, entre as quais Fazenda, Planejamento, Casa Civil e Justiça. É bom, mas não é ótimo do ponto de vista do que interessa aos partidos num quadro em que a eficácia dos planos e o conjunto do projeto de administração estão fora do debate. Excelente mesmo ficou o ambiente para o PMDB. Em termos de possibilidades de manuseio político, os pemedebistas saíram da reforma ministerial com muito mais do que recomendava a encomenda. São agora poderosos como não foram nem no governo anterior, cuja base parlamentar o partido integrava desde os primórdios. A bordo dos ministérios da Saúde, Minas e Energia, Agricultura, Integração Nacional e Comunicações, em termos de poder o PMDB só teve mais espaço no governo José Sarney, onde fazia o sol nascer e a chuva cair ao sabor de suas conveniências. O quinhão do PT ou não tem peso, ou o que pesa está sob controle direto do presidente da República. O restante é fonte de conflito, como os ministérios do Trabalho, Desenvolvimento Agrário, Defesa e Meio Ambiente. Os outros partidos da aliança ficaram, no máximo, com uma pasta cada um. Quem concentra instrumental político é o PMDB. Na Agricultura está no setor que mais cresce na economia; a Integração Nacional abriga o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco; na pasta de Minas e Energia está toda a parte de infra-estrutura do setor elétrico do PAC; na Saúde, um orçamento de R$ 50 bilhões; nas Comunicações, o projeto de televisão para produzir notícias do Poder Executivo. Juntos, representam um montante de recursos estimado entre R$ 75 e R$ 90 bilhões. Sob a ótica vigente, o presidente cumpriu a sua parte. Entregou pastas nada desprezíveis ao PMDB e, agora, espera a contrapartida. Esta deverá ir a ele na forma de apoio nas votações do Congresso, na interdição de comissões de inquérito, mas também passa por arranjos eleitorais com vistas às eleições de 2008 e 2010. O presidente não obteve, com isso, o PMDB por inteiro. O partido continuará dividido. Mas, desta vez, Lula foi realmente pragmático e pagou a quem costuma entregar as mercadorias. Até porque as tem em estoque. Durante todo o primeiro mandato, o presidente viveu a ilusão de que compartilhando o poder com os senadores José Sarney e Renan Calheiros alcançaria o seu intento. A última tentativa, Lula fez na eleição para a presidência do partido. Pulou fora antes de a canoa de Nelson Jobim, conduzida por Sarney e Calheiros, afundar. Se insistisse, perderia como perdeu todas as batalhas travadas pela poderosa dupla dentro do partido. A experiência nos assuntos de maioria governista está do lado que Lula agora conquistou. O grupo prestou competentes serviços a governos anteriores no quesito tropa de choque e certamente os prestará a Lula. Cirandinha De fato, como afirmou o presidente Lula ao dizer que não entregará os ministérios da Educação e Saúde aos partidos, com essas áreas “não se brinca”. O ideal, contudo, seria que não fizesse brincadeiras com as demais. Aos fatos O senador Fernando Collor de Mello apresentou, em seu primeiro discurso da tribuna, sua versão sobre o processo de afastamento da Presidência da República, de que foi alvo 15 anos atrás. Atribuiu o episódio ao radicalismo e à intolerância gerais. Mas não explicou por que, então, renunciou e não enfrentou o processo de impeachment durante o qual poderia derrubar, uma a uma, as acusações. Sendo a principal delas (com prova documental), a de que tinha suas despesas pessoais pagas pelo ex-tesoureiro de sua campanha, Paulo César Farias, preso por comandar um esquema de coleta de propinas na administração pública. Citou, como exemplo de isenção e inocência, a falta de mobilização de sua base para barrar a CPI do PC ou mesmo atrapalhar as investigações na Polícia Federal. Deixou de lado, mais uma vez os fatos. Tentou, sim, interferir no processo. Mas só quando era tarde, pois inicialmente a soberba o fez incorrer no erro de cálculo fatal de imaginar que a CPI não daria em nada. Ontem, porém, no discurso de estréia, deu uma demonstração de força na recuperação. Recebeu reverências dos ex-aliados e tratamento respeitoso dos ex-adversários. No mais, apresentou-se o mesmo de sempre: um ás na arte do marketing pessoal, que não dispensou voz embargada, a iminência da lágrima estudada, a postura marcial, o linguajar elaborado e o poder retórico de convencimento. Mostrou-se cordial na forma, mas no conteúdo, a agressividade de sempre estava lá. Contida, mas presente, como que a esperar que o País e o Congresso depois de tudo ainda lhe peçam desculpas. O tempo passou, o Brasil mudou, mas Fernando Collor de Mello continua o mesmo. Obstinado, tentará a remissão por meio de vôos mais altos na política. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, março 16, 2007
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