O Estado de S. Paulo |
21/3/2007 |
Oficialmente, é cedo para discutir a eleição de 2010. Assim reza o discurso politicamente correto adotado por partidos, aspirantes e interessados em geral. Na prática, porém, não há, atualmente, conversa política que resista a mais de cinco minutos de correção e distanciamento. Com o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, não é diferente. Arruda fala da viagem que fará à Colômbia neste fim de semana com os governadores de Minas Gerais e Rio de Janeiro para ver de perto o resultado do projeto de recuperação urbana de Bogotá e Medellín, financiado pelo BID, defende a unificação das polícias Civil e Militar como ponto essencial no combate à criminalidade, discorre sobre seus dois primeiros meses de governo, o modelo de gestão enxuta que implantou e pronto: já estamos em 2010, com rápida passagem em 2008. O governador tem uma tese. Na opinião dele, a sucessão do presidente Luiz Inácio da Silva será uma disputa entre o populismo na política e a eficiência na gerência administrativa, com vantagem para quem vestir o figurino da eficácia. O embate entre esses dois conceitos de certo modo foi ensaiado na eleição de 2006, com a vitória do populismo. “Geraldo Alckmin não soube fazer o contraponto do discurso liberal e, além disso, concorria com um mito.” O “mito”, na visão de Arruda, não se aventurará a alterações constitucionais para tentar um terceiro mandato - “as instituições não permitiriam” -, o PT não abrirá mão do legado eleitoral das políticas assistencialistas e sobrará à oposição fazer o discurso da boa gestão. Estaria ele falando de si, já que pouco antes ressaltara a economia de R$ 158 milhões aos cofres do DF com extinção de 20 das antigas 36 secretarias, a demissão de 33 mil servidores não-concursados e a junção de toda a estrutura administrativa num grande galpão na cidade-satélite de Taguatinga? Não. Refere-se à geração dos atuais governadores que estão preocupados em gerenciar seus Estados sob critérios de iniciativa privada, entre outros motivos porque descobriram que isso dá voto. Cita os exemplos de Aécio Neves e Paulo Hartung, reeleitos em primeiro turno em Minas Gerais e Espírito Santo, respectivamente, depois de terem feito pesados ajustes administrativos, sem medo de demitir, enxugar e pôr a máquina para andar, não raro em detrimento de alguma conveniência política. Arruda refere-se mais especificamente a Aécio, cuja entrada em cena como postulante à disputa pela sucessão de Luiz Inácio da Silva - em debate para 300 empresários paulistas, na última segunda-feira - é, segundo ele, a demonstração de sua tese. Admite que segue o modelo do mineiro. Não para entrar na disputa presidencial. Seu plano é voltar ao Senado em 2010 para refazer a história interrompida em 2001, quando ajudou Antonio Carlos Magalhães a violar o painel eletrônico de votação, mentiu publicamente sobre sua participação, renunciou ao mandato, desceu ao fundo do mais escuro poço e voltou à tona eleito governador disposto a recuperar o tempo perdido. Sua obsessão agora é com o quesito qualificação. Administrativa e política. O salto, na visão dele, vai começar na eleição municipal de 2008, quando acredita que o grupo de governadores gestores vai influir na escolha de candidatos com o mesmo perfil para comandar cidades de médio e grande porte. Será a preparação para o novo modelo de candidaturas presidenciais. “Isso junto com a recuperação da cláusula de barreira e a conseqüente redução do número de partidos vai fazer da eleição de 2010 um marco na elevação do padrão da política brasileira.” Quanto a candidaturas, que é o que interessa a todos os debatedores, Arruda acompanha de perto o desenrolar dos acontecimentos em sua área afim: o PFL (só fala em “democratas”, para “ir acostumando” com o novo nome) e o PSDB. Em seu partido não vê muita chance de surgirem candidatos presidenciais. A aposta imediata é na continuidade da mudança do perfil - antes nordestino, agora mais próximo do Sudeste e Centro-Oeste - na eleição municipal de 2008. Na opinião dele, um “teste” importante para PT e PSDB mostrarem se são bons mesmo de aliança e podem, ou não, ser parceiros confiáveis em 2010, para o PMDB do lado governista e para o PFL (ou democratas) na seara da oposição. Ultrapassado esse obstáculo, a tendência é a repetição da aliança com os tucanos. E, se falou que segue o modelo de Aécio, deve ser ele o seu predileto. “Aécio faz uma movimentação mais ampla, tem construído uma liderança entre os governadores, mas Serra tem a primazia na máquina partidária.” Guardadas as diferenças de épocas e situações, Arruda compara os dois a Ulysses Guimarães e Tancredo Neves. “Ulysses, como Serra, tinha o partido. Tancredo, como Aécio, correu por fora e foi buscar apoio na sociedade. O desafio dos dois, o segredo do sucesso do projeto presidencial é, a exemplo de Tancredo e Ulysses, ficarem juntos em qualquer hipótese.”
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Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, março 21, 2007
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