O Estado de S. Paulo |
20/3/2007 |
A repetição dos atrasos nos vôos, a longevidade do mistério a respeito das causas da desorganização do sistema de tráfego aéreo de outubro para cá e a evidência de que ao presidente da República só ocorre abordar o assunto quando o caos é notícia de jornal justificam plenamente que o Congresso se mobilize para esclarecer à população o que aconteceu com a antes festejada aviação comercial brasileira. A proposta de instalação de uma CPI para explicar o apagão aéreo e outros males que acometem os aeroportos é, por si só, absolutamente pertinente. A oposição tem razão de querer esmiuçar o tema, e o governo levanta suspeitas quando não quer deixar o Parlamento utilizar seu mais poderoso instrumento de fiscalização para tentar desvendar o enigma. Dada a enormidade do problema, o desconforto que impõe à população e os prejuízos (ainda não contabilizados) que provoca, seria natural que houvesse pressão da opinião pública pela instalação da CPI. Mas não há. E por que não há? Porque seus proponentes andam sem autoridade moral para se apresentarem à população como combatentes de causas investigativas. Dizem uma coisa e fazem outra. Antes de nos remetermos a exemplos do passado recente, atinemos ao presente: há uma semana, o PSDB e o PFL, parceiros no comando da oposição, impediram a realização de uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Câmara para discutir as causas do desastre em obras do metrô paulista. Isso na tarde de um dia em que, pela manhã, os dois partidos tinham se engalfinhado com a maioria governista na Comissão de Constituição e Justiça em defesa da CPI do Apagão. Não ficou esclarecido se a ojeriza dos oposicionistas ao debate sobre o metrô dizia respeito ao fato de a obra que desabou ser da responsabilidade de um governo tucano, ou se interditaram a discussão porque consideram que o assunto é da alçada exclusiva do Executivo paulista e ninguém tem nada a ver com isso. Mais provável é que a obstrução tenha a ver com a conveniência política do governo de São Paulo. Se é assim, deve-se também creditar as ações contra a CPI do Apagão a desconfortos políticos que o governo federal não estaria disposto a enfrentar. E ficaria tudo por aí no zero a zero, se a oposição não tivesse em seu histórico recente outros fatos que lhe subtraem moral para lutar por investigações no Parlamento. A conduta dos oposicionistas ao final das comissões de inquérito dos Correios, dos Bingos e dos Sanguessugas foi, sob todos os aspectos, lamentável. Quando as apurações chegaram perto de políticos ou de governos de partidos da oposição, deram-se acordos explícitos que, ou prejudicaram as conclusões, ou impediram as punições recomendadas. Por essas e por outras que podem vir a fazer suas excelências desistirem do trabalho no meio do caminho se os obstáculos lhes forem ética e politicamente inconvenientes, é que não se observa apoio popular às causas levantadas pela oposição. Mesmo quando são justas, consistentes e pertinentes como é o caso agora do pedido de comissão de inquérito para apurar as razões pelas quais há cinco meses os aeroportos se transformaram em legítimas sucursais do inferno, fazendo do ato corriqueiro de viajar de avião um fator de estresse digno de catálogo em consultório médico. Pátrio poder Os processos de atribuição de paternidade das indicações de ministros são reveladores da competência de políticos no quesito dom de iludir. Quando o nome de Odílio Balbinotti foi levado ao presidente Lula, quarta-feira passada, atribuiu-se a escolha a um gesto “pessoal” do presidente do PMDB, Michel Temer. O governador do Paraná, Roberto Requião, entrava na história como um mero avalista a posteriori. Do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, nem se ouvia falar o nome. Na sexta-feira, descobertas as pendências na Justiça, Balbinotti já bombardeado, ele virou - no dizer público do PMDB - afilhado de batismo de Maggi e Requião. Ontem, o ex-futuro ministro, usuário de “laranjas”, já constava no noticiário como produto da vontade exclusiva de Lula, que teria manobrado para fazer valer sua vontade dando a impressão de fazer a vontade do partido. No caso do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, ocorreu o contrário. Rejeitado pela bancada do PMDB na Câmara - tido como muito profissional e pouco partidário -, o que era defeito virou qualidade depois da boa aceitação do nome do novo ministro. Temporão foi assimilado como “cria” do partido, que deixou de lado o fato (a imposição do presidente) e assumiu a versão da paternidade compartilhada. Uma de duas: ou Temer se apropriou das indicações indevidamente ou fez isso em combinação com o presidente, que fatura nas duas pontas, assumindo o que é bom e relegando Mateus ao embalo do alheio quando as coisas dão errado. Seja como for, tem sobrado esperteza (no mau sentido) e faltado nobreza (no bom) ao modo lulista de governar. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, março 20, 2007
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