Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, março 20, 2007

Celso Ming - O inimigo errado




O Estado de S. Paulo
20/3/2007

O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues não entende por que ecologistas, industriais e sindicalistas abrem fogo contra a expansão da produção do álcool.

Dia 13, esta coluna (Os inimigos do etanol) reuniu os argumentos de crítica à força que está sendo dada pelo governo Lula à produção de biocombustíveis. Rodrigues responde: “Essa idéia de que a cultura da cana-de-açúcar ampliará o desmatamento e destruirá a floresta amazônica só pode estar sendo espalhada por quem não entende do assunto.”

Ele pega um bloco de papel amarelo e rabisca os números que sabe de cor: a agricultura brasileira ocupa 62 milhões de hectares, dos quais só 6 milhões (menos de 10%) vão para a cana-de-açúcar. Há outros 200 milhões ocupados com pastagens. Desse segmento, cerca de 90 milhões de hectares são aptos para a agricultura, sem ter de entrar em outros ecossistemas, como o da Amazônia. Nos últimos 15 anos, a área usada para a produção de grãos cresceu só 23%, enquanto a produção avançou acima de 110%. O boi não será despachado para a Amazônia porque a criação moderna exige confinamento ou semiconfinamento.

“É uma bobagem técnica sem tamanho afirmar que a cana vai invadir o Pantanal e a Amazônia”, prossegue. “A cana é um canudo que chupa água no tempo da chuva e a devolve para o solo no tempo da seca, que é quando concentra a sacarose. No Pantanal ou na Amazônia a cana não completa esse ciclo porque enfrenta umidade o tempo todo. Lá, a cana não serve para produção de açúcar ou álcool porque o caule se enche de água, apodrece e da touceira nascem outros brotos, que depois também não conseguirão concentrar sacarose.”

Ele também refuta a argumentação de que a cana vai invadir a área da produção de alimentos. “Por uma questão puramente técnica, a cada seis anos, a área ocupada pela cana tem de passar por rotatividade, quando a terra precisa ser ocupada com outra cultura, em geral a soja, que vai fixar nitrogênio no solo: sai uma gramínea (cana) e entra uma leguminosa (soja). Logo, se aumenta a cultura da cana, aumenta também a de alimentos.”

Ele também rejeita a idéia de que o agronegócio vai asfixiar a cultura familiar. “Há espaço tanto para as grandes plantações como para as menores. Os pequenos fornecedores de cana-de-açúcar são vitais para qualquer usina de açúcar e álcool.”

Entre os adversários do etanol estão dirigentes da indústria que temem a rápida expansão das exportações, que trariam dólares demais e causariam maior valorização do real (baixa do dólar), que, por sua vez, tiraria competitividade da indústria. Para esses, um forte aumento da cultura do etanol favoreceria a desindustrialização (enfraquecimento e/ou transferência da indústria para o exterior). Sindicalistas ligados à CUT e à Força Sindical também temem o desemprego que daí pudesse provir.

Rodrigues ri desse argumento. “A expansão da agricultura aumenta muito a procura por produtos industrializados. São tratores, implementos agrícolas, colheitadeiras, fertilizantes, defensivos. Além disso, a expansão da cana vai criar 1,2 milhão de empregos e não desemprego, como têm dito os sindicalistas. É um poder aquisitivo novo que vai reverter-se em compras de comida, roupa, móveis, aparelhos domésticos, material de construção... O avanço da agricultura fortalece a indústria e não o contrário

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