Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 03, 2007

CELSO MING Álcool de celulose


O interesse mundial pelos biocombustíveis está acelerando os projetos de produção de etanol (álcool) a partir de celulose.

No fim de janeiro a PetroChina, maior empresa produtora de petróleo da China, anunciou que tem planos para produzir etanol a partir de pedaços de madeira ou palha. A Range Fuels promete construir, ainda este ano, a primeira fábrica americana de etanol em escala comercial, obtido a partir de resíduos de madeira. O Departamento de Energia dos Estados Unidos anunciou quarta-feira que vai investir US$ 385 milhões em seis projetos de refinaria para produção de álcool de celulose a ser obtida a partir de matérias-primas baratas, como cavacos, palha de trigo e gramíneas nativas (switch grass).

O Brasil parece ainda melhor situado para avançar nessa área, dada a enorme disponibilidade de bagaço e palha de cana, que também são celulose. Para obter o combustível, a molécula de celulose precisa ser quebrada em açúcares, o que pode ser feito por meio de substâncias químicas (hidrólise ácida) ou por enzimas (hidrólise enzimática).

Em princípio, para que uma usina de álcool possa produzir etanol a partir de celulose, basta que seja instalada junto a ela uma planta capaz de executar a operação de hidrólise. Os açúcares provenientes da quebra da celulose seriam misturados ao caldo da cana e, em seguida, passariam pelos processos de fermentação e destilação.

A tecnologia ainda está em fase de desenvolvimento. O vice-presidente de Operações da Dedini Indústrias de Base, José Luiz Olivério, avalia que a adoção do sistema exigiria um investimento de cerca de 20% do valor de uma usina inteira. Como aposta o gerente de desenvolvimento estratégico do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Jaime Finguerut, em 2015 cerca de 10% do álcool produzido no Brasil já deverá provir desse processo, sem que para isso seja necessário aumentar a área plantada de cana.

A Unidade de Demonstração do Processo (UDP), na Usina São Luís, em Pirassununga, interior de São Paulo, desenvolvida pela Dedini, já opera em fase experimental. Tem capacidade de produzir, por meio da hidrólise, açúcares suficientes para gerar até 5 mil litros diários de etanol.

Alguns obstáculos, no entanto, ainda precisam ser transpostos para viabilizar o negócio. Um deles tem a ver com aumento da eficiência. A unidade da Dedini já produz cerca de 100 litros de álcool por tonelada de bagaço, mas o objetivo, como explica Olivério, é atingir pelo menos 180 litros.

Outra questão ainda a ser respondida é se não valeria mais a pena usar o bagaço como combustível para produção de energia elétrica. Isaías Macedo, consultor da área de energia da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), acredita que essa situação é mais uma oportunidade do que um problema: “Há bagaço mais do que suficiente tanto para produção de álcool como para produção de energia elétrica. É uma questão de preço final do produto e de opção”, afirma.

De todo modo, se os Estados Unidos não vacilam em começar sob condições substancialmente mais adversas (em suprimento de matérias-primas e custo), por que o Brasil se conforma em ficar para trás?

COLABOROU DANIELLE CHAVES

Arquivo do blog