Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, março 13, 2007

Celso Ming - Inimigos do etanol




O Estado de S. Paulo
13/3/2007

O álcool é um genuíno produto brasileiro ("energia verde-amarela"), mas bastou que o presidente dos Estados Unidos manifestasse interesse por ele para que, dentro e fora do Brasil, um grande número de forças reagisse com indignação, medo ou desconfiança.Alguns inimigos (como protecionistas, ambientalistas, sindicalistas e nacionalistas) têm sido francos. Outros preferem agir ou reclamar na moita.

O etanol de cana-de-açúcar enfrenta lobbies poderosos. O do petróleo é o principal deles. Alguns dos seus capitães já haviam mostrado contrariedade quando o presidente Bush denunciou, há 14 meses, que os americanos são viciados em petróleo (addicted to oil). Agora parecem preocupados com a promoção que o governo americano faz do etanol. O segundo lobby é o dos produtores de etanol de cereais. Políticos dos Estados americanos produtores de milho têm se pronunciado contra a nova força dada ao etanol de celulose ou de cana-de-açúcar.

Um terceiro lobby é constituído pelos protecionistas europeus que defendem os interesses da cultura da beterraba. Essa gente armará uma resistência ferrenha à entrada em seus mercados de etanol de cana-de-açúcar do Brasil ou de onde provenha.

Outra lista enorme de inimigos do etanol é formada por ambientalistas de todos os matizes. Preparam o ataque com uma ampla argumentação. Há os que denunciam que a expansão das plantações de cana-de-açúcar vai multiplicar o desmatamento e destruir a floresta amazônica; outros, que vai despejar milhões de toneladas de substâncias tóxicas que contaminarão os rios e os aqüíferos; outros dirão que a cana vai se tornar monocultura; outros, ainda, que a corrida à redução de custos tenderá a desenvolver variedades transgênicas de cana e, com isso, destruir a biodiversidade. Basta conferir na internet o que as ONGs ambientalistas estão falando do etanol.

Uma terceira lista de adversários está ligada à indústria. É gente que teme que o Brasil lidere a formação de uma "Opep do etanol", cuja principal conseqüência será a entrada maciça de dólares, primeiro como investimentos de risco e, depois, como receitas de exportação. Esses dólares concorrerão, argumentam eles, para derrubar ainda mais a cotação do dólar no câmbio interno e para desindustrializar o Brasil.

Sindicalistas de várias tendências se deixaram impressionar pelo argumento da desindustrialização e também vêem o avanço do álcool com suspeição. Acrescentam que a inevitável mecanização (exigida em São Paulo por lei, para eliminar a queima da cana e a poluição do ar) provocará desemprego no campo.

A esses grupos ainda é preciso acrescentar alguns nacionalistas que taxam a expansão do etanol como imposição de interesses da potência hegemônica, como projeto neocolonialista ou, então, como "coisa do agronegócio, que está armando a destruição da agricultura familiar".

Alguns desses argumentos são honestos; nenhum deles está certo. A expansão do setor do etanol não está livre de inconvenientes, todos eles contornáveis, desde que enfrentados com determinação, bom senso e realismo.


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