O triunfo da mediocridade
Ao acolherem críticas da oposição, porta-vozes dos policiais federais revelaram a preocupação com a escolha do senhor Tarso Genro para ocupar a pasta da Justiça. De acordo com esse reparo, o novo ministro teria perfil muito político para o cargo. Tarso respondeu que a pasta é política, e poderia dizer mais: que é assim, desde o primeiro a ocupá-la, ainda antes da Independência, o jurista Caetano Pinto Montenegro, marquês de Vila Maior da Praia Grande.
Ao Ministério da Justiça cabe zelar pela paz interna, ao manter a ordem política no país. Mesmo durante os regimes de exceção, como o do Estado Novo e o sistema militar de 1964-1985, os ministros da Justiça atuaram politicamente, na defesa da ordem - ou da desordem - a que serviam. Francisco Campos, ministro de Vargas, redigiu a Constituição de 1937; no segundo governo do estadista gaúcho, para o qual fora democraticamente eleito, Tancredo ocupou o ministério, confrontou-se com os golpistas e esteve ao lado de Vargas até seu instante final. Nos governos militares, os ministros Gama e Silva, Alfredo Buzaid, Armando Falcão e Ibrahim Abi-Ackel foram o braço político dos generais-presidentes. Com o jovem Fernando Lyra, Tancredo iniciou a democratização do ministério.
Ao contrário do que pensam alguns, Márcio Thomaz Bastos ocupou o cargo dentro da boa tradição democrática brasileira. Exercendo o cargo durante o primeiro mandato de Lula, revelou-se homem público de primeira grandeza e lhe deve ser creditado o estímulo à Polícia Federal para que atuasse como atuou, não tratando de forma privilegiada os ricos, como sempre ocorria no Brasil. Seriam impensáveis, no governo anterior ao de Lula, operações como a realizada em São Paulo, contra a Daslu. Márcio enfrentou as situações difíceis de sua gestão de forma política e, como costumava acrescentar, de acordo com os padrões republicanos de impessoalidade.
Sendo assim, tudo indica que o ministro Tarso Genro irá manter a instituição com o mesmo desempenho e isenção obtidos pelo seu antecessor, o que não lhe será difícil, com a biografia que tem. Mas há outros desafios. Um deles é o do controle mais estrito, mediante entendimentos com os Estados federados, dos estrangeiros em nosso país. A globalização da economia provocou a expansão da velha delinqüência internacional, com eixo no contrabando, no tráfico de entorpecentes, na exploração do lenocínio (com o ressurgimento da escravização de mulheres) e no jogo. E nova criminalidade surgiu, com o roubo de cargas e a contrafacção de produtos industriais, da qual o Brasil, com suas fronteiras terrestres vulneráveis, tem sido mercado preferencial.
O país está infestado de bandidos de fora, e cabe ao Ministério da Justiça promover sua identificação e expulsão sumária. O Ministério da Justiça poderia estabelecer normas mais rigorosas nas fronteiras. Pelo menos - e já tratamos aqui do assunto - que se exija dos estrangeiros o que dos brasileiros estão exigindo na Europa e nos Estados Unidos. Não é preciso que neles atiremos, quando não nos for possível entender o que dizem, nem que os confundamos açodadamente com terroristas. Com a cortesia que não impede a firmeza, conviria vedar a entrada daqueles cujos documentos insinuem suspeitas.
O advogado Márcio Thomaz Bastos foi daqueles que pagaram para ser ministro. Em seu caso não cabe dizer que a sobrevivência, tendo em vista os vencimentos modestos, lhe tenha sido difícil, posto que dispõe, graças ao desempenho profissional anterior, de bons recursos poupados. Ele pôde, assim, prestar inestimável contribuição política à República, mais do que ao próprio governo.
Cabôco Perguntadô
Informado de que o orçamento estabelecido pelo projeto original dos Jogos Pan-Americanos - R$ 177,9 milhões - já chegou aos R$ 3,2 bilhões, o Cabôco impressionou-se com a marca: 700% de aumento. Impressionou-o ainda mais a tranqüilidade dos recordistas. "Nada demais", desdenhou José Antonio Barros Alves, coordenador do projeto. Que tal incluir o salto com verba entre as modalidades olímpicas?, pergunta o Cabôco. Os atletas brasileiros certamente iriam sobrar na pista.
O repouso do bandido
Um dos mais ativos integrantes da quadrilha do mensalão, o ex-deputado José Janene (PP-PR) jura gratidão eterna aos companheiros da Câmara. Faz sentido. Cúmplices de todas as bancadas se aliaram para evitar a cassação do mandato do amigo. No ocaso de sua gestão, Aldo Rebelo aposentou-o com direito a salário integral.
Num país menos cafajeste, Janene estaria na cadeia. Como isto é o Brasil, descansa em casa, sem sustos, das canseiras dos tempos de coletor de gorjetas criminosas.
Muita pose, pouco voto
Ao deixar a presidência do STF, Nelson Jobim resolveu aposentar-se. "Não me interessa ser mais um entre 11", explicou. Melhor virar o nº 2 do Brasil, depois de escolhido vice de Lula por indicação do PMDB. Perdeu o bonde, não a pose. Não se comoveu com sondagens sobre a possível volta à Câmara ou ao Ministério da Justiça. Aceitaria ser presidente do PMDB, concedeu. O nº 1 do partido. Deu no que deu.
Tancredo Neves dizia que a esperteza, quando é muita, fica grande e come o dono.
Um pecador sem remorso
No livro de memórias ,Sobre formigas e cigarras o deputado Antonio Palocci jura que não ordenou a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Nem precisava: o país inteiro sabe que bastou ao então ministro da Fazenda encomendar o crime, executado por companheiros da Caixa Econômica Federal. Foi só o mandante do estupro.
Não há uma única vírgula sobre o que Palocci e a turma faziam na República de Ribeirão. Esse tipo de assunto é para memórias póstumas.
Yolhesman Crisbelles
Uma pesquisa encomendada pelo PT, coordenada por Gustavo Venturi, quis saber dos brasileiros qual é o partido que abriga mais corruptos por metro quadrado. Com 30% dos votos, o PT levou a medalha de ouro. Pela interpretação do resultado, Venturi leva o Yolhesman:
Ainda há um déficit na prestação de contas à sociedade em relação às denúncias de corrupção.
Para o companheiro, portanto, o problema do PT não é o excesso de ladrões. É a falta de relatórios.
18 / 03 / 2007
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