Entrevista:O Estado inteligente

domingo, março 18, 2007

IT IS A LONG WAY, IT´S A LONG WAY …por Paulo Moura,



A chegada do PT ao poder é um fato que veio para ficar. Mesmo que Lula não faça seu sucessor, sua simples permanência por oito anos à testa do Estado e a perspectiva de continuidade que tem, já permite à burocracia petista um grau de penetração nas entranhas da máquina pública cujas conseqüências e desdobramentos se farão sentir por longo tempo. A tecnologia marxista remanescente na cultura política petista migrou do modelo de Lênin (assalto violento e rápido à cabeça do Estado) para o de Gramsci (penetração gradual nos aparelhos ideológicos da sociedade e do Estado), mas mantém vivas a organização e as técnicas do profissionalismo militante que fizeram do PT uma máquina de guerra sem precedentes na política brasileira.

As oligarquias tradicionais - entranhadas no Estado patrimonialista -, se acostumaram mal ao confortável jogo das disputas políticas intra-elites. Seu palco é o dos gabinetes fechados, dos escritórios de lobby, das tribunas parlamentares, das colunas sociais, e, das hoje nem tão discretas, casas de encontro com moças e moços de vida fácil. A regra do jogo é o troca-troca entre amigos, mesmo depois de velhos. A única novidade agregada aos seus métodos limitados de disputa política é o uso da publicidade no horário eleitoral de propaganda gratuita na mídia que, sem base social militante e enfrentando um adversário que a tem, é taticamente inferior à tecnologia petista.

Não entenderam o jogo do PT, que combina os antigos métodos esquerdistas de penetração nas organizações sociais com o uso inteligente da mídia e pitadas de populismo. De posse do comando do Estado, em menos de quatro anos o PT incorporou a sua tecnologia os métodos do jogo tradicional das elites oligárquicas. Agregou, com isso, mais superioridade tática sobre seus adversários. Nem o mais qualificado dos estrategistas políticos seria tão criativo.

Os petistas levaram uns escorregões, tomaram seus tombos, mas a vantagem competitiva que adquiriram pela criativa combinação de todos esses recursos lhes permitiu comprar no atacado, com o bolsa-esmola, os currais eleitorais das velhas oligarquias. Em seguida, compraram as próprias oligarquias, que não sobrevivem sem votos e sem sanguessugar as tetas do Estado.

No fundo os petistas têm razão. A maioria – e bota maioria nisso – dos ex-adversários e hoje aliados do petismo no poder são corrompidos ou corruptíveis. A melhor forma de neutralizá-los é comprando-os. Os petistas, arrogantes que são e neófitos no comando de tanto poder, só erraram por detalhes: sua fome de poder, seus sentimentos de superioridade e sua sensação de impunidade - justificada, com se vê - são tais, que forçaram a mão na rapidez e na forma de corromper seus neo-aliados.

Tudo se resumia a uma questão de timing e calibragem do processo de compra. Com Lula reeleito e forte, renovaram-se suas perspectivas de poder e a oportunidade para corrigir os erros do primeiro mandato. Hoje suas condições de compra são melhores e os petistas podem prosseguir sua penetração lenta e gradual no aparato do Estado. De sarneystas a brizolistas, estão todos comprados.

Agora o petismo parte para conquistar raízes sólidas no tecido social de uma nação politicamente imatura, cujos segmentos democráticos são politicamente frágeis, minoritários e desconhecedores da cultura republicana. O próximo objetivo do PT é roubar as bases eleitorais do PMDB nos municípios. O primeiro passo está dado. O resto do serviço virá com o tempo e a continuidade da aliança PT/PMDB. Os pedetistas já viram esse filme. E pelo jeito gostaram.

Digo e repito: a menos que uma grave crise econômica force Lula a tomar, a contragosto, medidas econômicas em prejuízo sensível ao bolso da maioria que o elegeu, ele se manterá com plenas condições de prosseguir no poder após esse mandato, de fazer seu sucessor ou de voltar em 2014. O poder de escolher está em suas mãos e nelas deverá permanecer.

As velhas oligarquias decadentes, que no passado mandavam seus filhos estudar na Europa para adquirirem qualificação e permanecerem à testa do poder e dos negócios dos clãs, estão minguando tanto mais quanto mais perdem eleições e o acesso às tetas do Estado. Com os canais de drenagem do dinheiro público controlados pelo novo sindicalismo de resultados, comerão migalhas e morrerão à míngua em alguns anos. Seus herdeiros são jaderes, renans e geddéis; mercadantes, devanires, joãos paulos, mentores, professores luizinhos; aloprados, mensaleiros e sanguessugas. E a oposição está em frangalhos.

A social-democracia tucana - acadêmica e geneticamente murista - ameaça pular para o lado errado e se deixar seduzir pelos flertes do petismo. Os tucanos hesitam em dar combate ao que pensam ser a materialização de uma versão cabocla, impossível e fora de época de welfare state, comandado por um ex-operário que se fez político nos ombros e pelos cofres do sindicalismo CLT, inventado por Getúlio Vargas sob inspiração de Mussolini.

FHC ajudou a parir esse ornitorrinco e está atordoado com o desatino de seus filhotes. Voando como galinhas, os tucanos conformam-se com suas disputas intestinas pelas fatias menores dos poderes que lhes restam. Por enquanto. Nessa batida, seu destino é o limbo do poder. Se perderem São Paulo e Minas, seu breve sepultamento será ao lado do túmulo das oligarquias enferrujadas. Lula comparecerá ao enterro, levando uma coroa de flores e chorando lágrimas de crocodilo.

Os ex-pefelistas, geneticamente patrimonialistas, ensaiam os primeiros passos de uma estratégia de troca do eleitorado ignorante dos grotões, comprado por Lula, pela classe média dos pólos modernos da sociedade brasileira. Intuem corretamente o rumo da sobrevivência. Mas o ponteiro nervoso da sua bússola ainda não indica com firmeza o norte magnético do liberalismo na política brasileira. Os Democratas largaram na frente na busca de um rumo, mas seu aprendizado é difícil e seu caminho é longo, muito longo... Ziguezagueiam até na definição do nome da nova legenda. O que dirá na arte de fazer oposição ao PT, totalmente fora do aparato do Estado e sem uma rede de sindicatos e o apoio da Igreja para lhes sustentar.

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