Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 04, 2006

Vietnã Crescimento recorde e redução da pobreza

A Suíça do sudeste asiático

A dupla façanha do Vietnã: a economia cresce
rápido e a pobreza diminui no mesmo ritmo


Denise Dweck

Nguyen Huy Kham/Reuters
Loja de carros em Hanói: novas leis e acordos comerciais atraem investimentos

O Vietnã está virando de cabeça para baixo um padrão dos países emergentes da Ásia: o de que o crescimento econômico acelerado tem como contrapartida a lentidão nas melhorias sociais. Os vietnamitas vêm conseguindo as duas façanhas ao mesmo tempo. Nos últimos quatro anos, o PIB do Vietnã cresceu a uma taxa anual de 7,8%. No ano passado, o crescimento foi de 8,4% – só a China teve um desempenho melhor entre os asiáticos. A redução da pobreza é igualmente espantosa. Na última década, a parcela de pobres na população caiu de 58% para 19%. A taxa de mortalidade infantil já é mais baixa que a do Brasil. Na semana passada, o Vietnã acertou alguns últimos detalhes necessários para ser aceito na Organização Mundial do Comércio (OMC). Quando entrar na instituição, poderá exportar sem limites de cotas e com tarifas menores. Para isso, o Vietnã teve de ajustar suas leis, cortar subsídios a determinados setores e fazer acordos com a União Européia, o Japão e os Estados Unidos.

O sucesso socioeconômico e a chegada às portas da OMC são o fruto de reformas profundas e abertura econômica. Trinta anos atrás, o país saiu devastado de uma guerra entre o norte comunista e o sul capitalista – com a participação de tropas americanas do lado derrotado – que deixou 3 milhões de mortos. Nos anos 80, os vietnamitas perceberam que o isolamento, comum aos regimes comunistas asiáticos, não trazia nenhum benefício. Ao contrário, causou miséria e hiperinflação. Para sair da pobreza, o governo vietnamita adotou o capitalismo em quase tudo, exceto no governo, que continua formalmente comunista. As fazendas coletivas foram divididas em pequenas propriedades agrícolas, e os camponeses ficaram livres para escolher o que queriam plantar, sem preços definidos. Com a concorrência, foi preciso melhorar a produção. "Em apenas dois anos, o Vietnã passou de importador de arroz para a terceira posição no ranking mundial de exportação do grão", diz a economista americana Regina Abrami, professora da Escola de Negócios de Harvard, em Boston, nos Estados Unidos.

O crescimento da economia vietnamita começou para valer na metade da década de 90. O país assinou acordos comerciais com os vizinhos asiáticos e fez as pazes com o inimigo americano. Novas leis permitiram a estrangeiros instalar empresas sem a necessidade de um parceiro estatal. O resultado foi uma enxurrada de investimentos americanos, japoneses e coreanos, criando empregos para o contingente de quase 1 milhão de jovens que entra no mercado de trabalho anualmente. Empresas de artigos esportivos como Nike, Puma e Adidas correram para aproveitar a mão-de-obra barata e disciplinada. O Vietnã também recebeu investimentos no setor automotivo e de eletrônicos. Com leis mais flexíveis para a abertura de empresas, só no ano passado os vietnamitas criaram 40.000 novos negócios. "Por dar a mesma prioridade ao acesso à terra, à educação e a empregos a seus cidadãos, o Vietnã conseguiu crescer de forma bem distribuída, reduzindo a pobreza", disse a VEJA o economista americano David Dapice, professor da Universidade Tufts, nos Estados Unidos. Da economia comunista, evidentemente, ninguém tem saudade.

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