Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 04, 2006

Bush pode perder a maioria no Congresso

O presidente encolheu

O fiasco no Iraque pode levar Bush
a perder a maioria no Congresso


Diogo Schelp


Jason Reed/Reuters


As eleições para o Congresso dos Estados Unidos, na terça-feira 7, podem ser vistas como um referendo a respeito do presidente George W. Bush, que ainda tem dois anos de mandato. Se os republicanos perderem a maioria que desfrutam há doze anos na Câmara dos Deputados, como prevêem as pesquisas, será um claro sinal de que os eleitores resolveram punir Bush pelos fracassos na política externa e pelos escândalos domésticos. No Senado, onde está em jogo apenas um terço das cadeiras, o Partido Republicano também terá dificuldade em manter a maioria. Bush talvez venha a ser lembrado sobretudo pela forma voraz com que dilapidou seu patrimônio eleitoral. Reeleito com boa margem de votos dois anos atrás, seu índice de aprovação baixou a apenas 34% na semana passada. Não faltam motivos para isso. Bush revelou-se um gastador compulsivo do dinheiro público, empenhou-se numa perseguição obscurantista às pesquisas com células-tronco e consolidou a imagem de incompetente com sua apatia perante a devastação causada pelo furacão Katrina.

A insatisfação com o presidente está atrelada sobretudo ao fiasco dos Estados Unidos no Iraque. Apenas 29% dos americanos concordam com a maneira com que Bush conduz a guerra no Oriente Médio. O cenário de caos e a morte de soldados num conflito cuja lógica é cada dia mais difícil de entender inverteram um padrão da política americana: o de que as eleições são decididas em torno de questões domésticas, não de política externa. Uma pesquisa publicada na semana passada pela revista Newsweek mostra que o conflito está no topo da lista de prioridades dos eleitores. Bush até mudou seu discurso sobre o tema. Havia meses ele falava que a estratégia no Iraque era a de manter o rumo. Desde o mês passado começou a dizer que a condução da guerra deve mudar conforme a necessidade. Os candidatos republicanos para o Congresso saem prejudicados pelo mau desempenho no Iraque por dois motivos. Primeiro porque, nos Estados Unidos, a imagem do partido é praticamente indissociável do presidente e de seus acertos e fracassos. Segundo porque os republicanos, como bancada majoritária no Legislativo, negligenciaram o dever de fiscalizar as ações do Executivo.

Os republicanos nem precisariam dos fracassos de Bush para afundar perante a opinião pública. Não faltam escândalos nas fileiras do partido. O deputado Tom DeLay, líder na Câmara, perdeu o cargo por causa do uso de caixa dois na campanha. Outros dois republicanos foram pegos por corrupção. O último golpe foi a renúncia do deputado Mark Foley, por assediar os estagiários da Câmara, no mês passado. O partido de Bush venceu as últimas eleições calcado em duas pretensões: a de defender a moral e os bons costumes e a de ser o único capaz de dar segurança aos americanos. A primeira promessa foi abalada pelos escândalos envolvendo republicanos, e a segunda já tinha perdido o brilho havia mais tempo, com o atoleiro no Iraque. Não que os democratas tenham uma proposta consistente para a encrenca no Oriente Médio. Ocorre que nos Estados Unidos, diferentemente do que se vê em certos países tropicais, envolver-se em escândalos e políticas fracassadas, seja dentro, seja fora do país, tem alto custo eleitoral.
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