Relatório preliminar sobre o acidente
do vôo 1907 mostra que houve falhas
no controle aéreo
Dida Sampaio/AE |
O coronel Rufino Ferreira durante a apresentação do relatório: problemas de comunicação e nos radares |
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O que, afinal, derrubou o Boeing da Gol? A principal questão que o desastre envolve – como foi a seqüência de erros que colocou os dois aviões na mesma altitude e na mesma rota – permanece sem resposta. A divulgação do relatório preliminar da Aeronáutica sobre o acidente, na semana passada, oferece um quadro um pouco mais claro do que aconteceu no céu da Amazônia no dia 29 de setembro. O documento detalha as dificuldades de comunicação no espaço aéreo entre Brasília e Manaus, tanto por rádio quanto por radar. De acordo com os dados levantados pelos investigadores, o controle aéreo do Cindacta 1, em Brasília, tentou falar com o Legacy por sete vezes. Da parte dos pilotos, a tentativa de estabelecer comunicação foi ainda mais frenética. Por dezenove vezes os pilotos americanos Joe Lepore e Jan Paladino tentaram se comunicar com os controladores aéreos em terra. Entre 15h51 e 16h26, meia hora anterior ao acidente, não houve nenhuma tentativa de contato por parte do Legacy ou do controle aéreo em Brasília. O relatório não explica os motivos, mas VEJA apurou que nesse intervalo de tempo ocorreram dois fatores que podem ter contribuído para o acidente.
Pouco depois das 16 horas, houve troca de turno entre os controladores. O controlador responsável pelo Legacy, ao deixar o posto, teria advertido o colega que o substituía dos problemas no transponder – o aparelho instalado nos aviões que indica para o controle em terra sua altitude precisa. Mas o novo controlador acabou enganado por um detalhe técnico: nesse meio-tempo, os computadores do controle aéreo corrigiram automaticamente a indicação de altitude do avião, informando na tela os 36.000 pés previstos no plano de vôo original, e não os 37.000 em que ele voava de fato. Assim, o controlador que assumiu o monitoramento do avião teria julgado que, embora o transponder estivesse inoperante e não informasse a altitude exata do Legacy, ele deveria estar trafegando a 36.000 pés. Na verdade, estava a 37.000, na mesma altitude do Boeing. O Cindacta 1 só conseguiu se comunicar com o Legacy três minutos antes da colisão. Avisaram os pilotos que eles passariam a se reportar ao controle aéreo da região amazônica, o Cindacta 4, e deveriam chamá-lo por rádio. Os pilotos do Legacy não entenderam direito a mensagem e continuaram tentando falar com o controle de Brasília, sem sucesso. Só conseguiram falar com o Cindacta 4 dezessete minutos depois do acidente.
Sebastião/AE |
Destroços do Boeing da Gol na Serra do Cachimbo: relatório final pode demorar mais de um ano |
O relatório da Aeronáutica não é conclusivo sobre as causas do desastre, mas deixa entender que ele ocorreu por uma conjunção de fatores. O documento diz que o plano de vôo inicial previa que o Legacy deveria voar a 37.000 pés até Brasília, depois descer a 36.000 pés e cerca de 500 quilômetros adiante, num ponto virtual conhecido como Teres, subir a 38.000 pés. O relatório, porém, omite o fato de que o plano de vôo foi alterado antes de o Legacy decolar de São José dos Campos, no início da viagem. Nessa etapa do vôo, como VEJA revelou com exclusividade, os pilotos Lepore e Paladino receberam autorização da torre de controle para realizar todo o vôo até Manaus a 37.000 pés de altitude. O relatório revela também que os controladores de Brasília não mandaram o Legacy sair do caminho do Boeing, assim como não instruíram o piloto do Boeing a sair da rota de colisão com o jatinho.