O apagão aéreo no país continua, e o
governo, atônito, não produz soluções
Rosana Zakabi
Filipe Araújo/AE |
Aeroporto de Cumbica, na semana passada: atrasos e cancelamento de vôos |
Viajar de avião tornou-se um tormento no Brasil e nada indica que a situação vá melhorar no futuro próximo. Na semana passada, cenas de perplexidade e indignação voltaram a ocorrer nos principais aeroportos, onde se registraram atrasos de em média quatro horas nas decolagens e dezenas de cancelamentos de vôos por dia. Tudo em conseqüência da greve branca deflagrada em 26 de outubro pelos controladores de vôo de Brasília, que orientam os vôos na Região Sudeste – a de maior tráfego aéreo no Brasil. Com a greve, cada um dos controladores passou a monitorar simultaneamente, diante do radar, catorze aviões – antes, cada um cuidava de vinte. Como isso significa ter menos aviões no céu, as decolagens passaram a sofrer atrasos em efeito cascata. Os controladores alegam que, para garantir a segurança no tráfego aéreo, resolveram seguir à risca o que manda o regulamento a que estão submetidos. Na prática, sabe-se que eles aproveitam a notoriedade adquirida pela profissão após o desastre do Boeing da Gol para reivindicar melhores salários e condições de trabalho. Os controladores são, em sua maioria, militares. Portanto, não podem fazer greves nem movimentos de reivindicação. A greve branca – a princípio chamada de operação-padrão – é uma forma de driblar esse impedimento.
Embora o movimento dos controladores não vise apenas à segurança dos vôos, ele é o sinal mais evidente do colapso do controle aéreo no Brasil. Havia tempos essa crise já se anunciava, sem que o governo desse atenção ao assunto. Desde 2004, o tráfego aéreo no país cresce em ritmo mais acelerado do que a média mundial. No ano passado, a demanda de passageiros cresceu 19%. Neste ano, a previsão é de 15%, contra 5% no resto do mundo. Na base de controle de Brasília, o chamado Cindacta 1, trabalham 149 controladores, mas calcula-se que seriam necessários 200. "Os investimentos em infra-estrutura aeroportuária, equipamentos e mão-de-obra deveriam ter aumentado na mesma proporção do tráfego aéreo, o que não aconteceu", diz André Castellini, consultor da Bain & Company, que atua no setor de aviação civil. Segundo uma análise dos dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), feita pela ONG Contas Abertas, o investimento do governo em segurança do tráfego aéreo diminuiu 36% nos últimos dois anos.
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