Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 16, 2006

O COMPANHEIRO JADER



Não tivesse o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) voltado ao noticiário, por ter-se tornado réu em ação criminal no Supremo Tribunal Federal (STF), com certeza o público estaria alheio ao fato de que, mais do que um importante assessor, ele é um guru do presidente da República. Afinal, o notório político, com inúmeros processos na Justiça, há muito vinha mantendo um low profile, na esperança de que o público esquecesse o seu passado cheio de episódios que nenhum político gostaria de inscrever em seu currículo.

Desde que renunciou ao mandato de senador em 2001, para evitar a cassação por falta de decoro - no que não agiu com nenhuma originalidade -, Jader Barbalho se afastara dos holofotes da mídia, passando a atuar nos bastidores e procurando reconstruir sua carreira política por meio de uma aproximação com a liderança maior do mesmo partido (o PT) que tanto o execrara. Tornou-se parceiro do PT e conselheiro político e interlocutor preferencial do presidente Lula a ponto de ter mais reuniões com ele do que com o presidente interino do partido, Marco Aurélio Garcia - e aí até se entende a opção presidencial, visto que Garcia parece mais propenso a estimular atritos que alianças. Também se entende que, tendo perdido no bojo dos escândalos de seu governo e de seu partido sua trupe inteira de conselheiros - como José Dirceu, Duda Mendonça, Genoino, Palocci, Gushiken e Berzoini -, o presidente Lula tenha escolhido alguém calejado nas barganhas da politicalha para apontar-lhe o caminho das pedras.

Tendo coordenado a vitoriosa campanha de Ana Julia ao governo do Pará, Barbalho credenciou-se para as negociações de cargos que o PMDB pretende abocanhar no segundo governo Lula. Mas a grata ternura, digamos, que o presidente demonstra em relação ao deputado paraense tem por base úteis conselhos. Foi ele, por exemplo, que, em meio ao pânico na campanha petista em razão da surpresa de o adversário ter conseguido o segundo turno, disse a Lula: “Presidente, desculpe a franqueza. Se o senhor não mudar seu modo de se relacionar com a mídia, se não fizer as pazes com a TV Globo, o senhor pode até vencer a eleição. Mas não governa. O senhor errou ao não ir ao debate da Globo. Não pode repetir isso. Dê um jeito de se aproximar de todo mundo, pare de fugir, dê o máximo de entrevistas.”

E ante a argumentação de Lula, de que as perguntas seriam sempre as mesmas, sobre dossiê Vedoin, mensalão, sanguessugas, Jader rebateu: “Responda a todas. Diga que não tem nada a ver com isso.” O conselho funcionou.

Tendo o presidente prometido apoiar Jader para presidente da Câmara ou do PMDB, ouviu dele outro conselho: “Presidente, vamos encarar a realidade. Posso ser muito útil ao governo atuando nos bastidores. Mas não posso assumir ainda nenhum papel institucional. Haverá especulações a respeito de minha presença e o prejuízo será todo do governo.” O deputado sabia bem do que estava falando. Além do processo que acabou de entrar no Supremo, relativo ao tempo em que era ministro da Reforma Agrária (em 1988, no governo Sarney), no qual responde à acusação de ter determinado o pagamento de uma indenização de CZ$ 313 milhões, correspondente a terras em Parintins (AM) com valor estimado de CZ$ 7,5 milhões (portanto, 59 vezes menor), Jader Barbalho responde a vários outros processos, entre os quais o de fraude na extinta Sudam e aplicações irregulares no Banco do Estado do Pará.

O apreço que o presidente demonstra por esse novo conselheiro - cuja proximidade política até seus pares costumam evitar, e que ele mesmo admite que traria “prejuízo para o governo” - não deve constituir surpresa para quem se lembra de quanto a colaboração do então deputado Roberto Jefferson, do PTB, era altamente apreciada por S. Exa. A diferença é que Lula podia alegar ignorância das coisas em que Jefferson estava metido ou do quanto andava aprontando, uma vez que era tema de comentários intramuros. Mas as façanhas de Jader Barbalho no terreno das irregularidades administrativas e do menosprezo à ética e ao trato do dinheiro público fazem parte de grossos inquéritos policiais e processos judiciais, de amplo conhecimento. Não dá para alegar que “não sabia”.

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