Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 16, 2006

CHÁVEZ, MUSA INSPIRADORA por Alberto Dines

CHÁVEZ, MUSA INSPIRADORA
no Observatório da Imprensa

Governo esquece a República e investe contra a imprensa
O tal "complô da mídia" contra o candidato Lula rendeu duas edições de CartaCapital. Depois, evaporou. Foi regiamente pago com a presença do presidente reeleito no evento comercial em que o semanário escolheu as empresas mais admiradas do país.
E enquanto não cumpre a promessa de conceder uma verdadeira entrevista coletiva, na segunda-feira (13/11), na fronteira Brasil-Venezuela, o presidente Lula escancarou sem qualquer pudor, meias palavras ou metáforas futebolísticas o real objetivo da campanha encomendada à CartaCapital [ver abaixo a íntegra do discursos presidencial].
Igualando-se a Hugo Chávez, o caudilho militar fascistóide, o presidente Lula confirmou plenamente as hipóteses de que para continuar engabelando a sociedade brasileira será indispensável desacreditar a imprensa, intimidá-la permanentemente e, assim, impedir que assuma um papel efetivamente esclarecedor e moderador.
Muito antes dos aloprados do PT tropeçarem no Dossiê Vedoin, quando toda a mídia reconhecia que Lula seria reeleito facilmente no primeiro turno, o candidato Lula já deblaterava nos palanques contra "a imprensa e as elites".
O real propósito do Dossiê Vedoin, divulgado pela revista IstoÉ (meia-irmã de CartaCapital) pouco antes das eleições, não era destruir o fragilíssimo e incompetente candidato da oposição, Geraldo Alckmin. A jogada era mais sofisticada, de longo prazo: além prejudicar o quase-eleito José Serra para colocá-lo fora do baralho em 2010, pretendia-se neutralizar a imprensa no primeiro ano de governo.
Os primeiros 365 dias de um novo governo são marcantes, vitais, sobretudo em mandatos de quatro anos, interrompidos no primeiro biênio com as eleições intermediárias – as mesmas que acabam de desmoralizar Mr. Bush –; em nosso caso, para eleger prefeitos, vereadores e parte do Senado.
É preciso não esquecer que nos primeiros 365 dias do mandato anterior, a imprensa também foi silenciada, mas de outra forma: com as promessas de uma linha de crédito especial no BNDES, generosa iniciativa do então Comissário de Assuntos Políticos, José Dirceu. Naqueles tempos a imprensa não era golpista nem elitista, sua sobrevivência era uma "questão de Estado". A imprensa continua sendo uma questão de interesse nacional, só que o Estado brasileiro, de olho no calendário, começa a mostrar impaciências que o levam na direção contrária.
Maquinações abjetas
Neste segundo mandato, os primeiros 365 dias já começaram a ser contados desde o dia 30 de outubro. Significa que a imprensa deve ser encostada na parede desde já, antes que as conexões entre o "apagão aéreo" e a tragédia do Boeing da Gol fiquem visíveis, antes que se confirme o pífio crescimento do PIB, e antes que os afiados facões dos tecnocratas comecem a cortar os gastos públicos.
O surto chavista antiimprensa exibido pelo presidente Lula na segunda-feira, às margens do rio Orinoco, não se deve ao forte calor ou ao estresse da campanha eleitoral. Deve-se à presença de outros aloprados ao lado do presidente Lula, convencendo-o de que a imprensa deve ser enquadrada e mantida sob suspeição.
O que irritou esses estrategistas não foi a estúpida capa de Veja tentando denunciar o filho do presidente, duas semanas antes do segundo turno. Ficaram fulos com um artigo de uma coluna apenas, publicado em página interna da Folha de S.Paulo (24/8/2006) e assinado por seu diretor de Redação, Otavio Frias Filho, exigindo o segundo turno para legitimar estas eleições [ver "Anistia para Lula", link disponível para assinantes do UOL e/ou da Folha].
Os aloprados da mídia não irritam os aloprados palacianos. O que os deixa furiosos é a sensação de se sentirem iguais aos gorilas dos anos 1960-80 produzindo as mais abjetas maquinações para comprometer esta senhora decente chamada República, às vésperas do seu 117º aniversário.

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