Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 18, 2006

O Brasil do fim do século XIX nas lentes de Marc Ferrez

A terra, os homens, as cidades

Uma bela exposição em São Paulo
traz o Brasil do fim do século XIX
pelas lentes de Marc Ferrez


Felipe Patury


O Rio visto de Santa Teresa, em 1885: graças a um tempo de exposição muito longo, Ferrez (de calça clara) captou a si mesmo e a um amigo em diferentes momentos

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Outras imagens

Boa parte das imagens do Brasil do século XIX que conhecemos foi captada pelas lentes do fotógrafo Marc Ferrez. De 1863 a 1915, Ferrez registrou paisagens urbanas e rurais do Pará ao Rio Grande do Sul. Nesse período, cobriu boa parte do território nacional a serviço da Marinha e da Comissão Geológica do Império. Metade de seu trabalho mostra o Rio de Janeiro. São dele muitos dos primeiros cartões-postais da capital imperial e um dos retratos mais conhecidos do escritor Machado de Assis. Sua obra constitui o mais importante acervo de imagens brasileiro nos primeiros anos da fotografia. Graças ao arquivamento cuidadoso de negativos e reproduções, das 5.500 imagens que ele deixou, 80% estão em perfeitas condições.


Copacabana, em 1890, vista do Leme: uma visão idílica e totalmente selvagem

Filho caçula de um escultor francês, Ferrez nasceu no Rio em 1843. Aos 7 anos, ficou órfão. Presume-se que seus pais tenham sido envenenados pelo lixo químico de uma fábrica de papel vizinha à sua casa. Os irmãos de Ferrez o enviaram a Paris, onde foi educado. Aos 20 anos, ele voltou para o Brasil. Nada se conhece do que produziu de 1863 a 1873, quando um incêndio destruiu seu ateliê. O que chegou a nossos dias abrange a quadra que vai de 1875 a 1915, ano em que Ferrez abandona a fotografia e passa a se dedicar a uma nova técnica – a do cinema. Nesse arco de quarenta anos, ele captou cenas que revelam as transformações sociais e econômicas por que passava o Brasil. Na semana passada, o Instituto Moreira Salles, proprietário do legado de Ferrez, e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) inauguraram a maior exposição já realizada sobre sua obra. Nas 350 imagens expostas na sede da Fiesp, percebe-se que Ferrez via o país simultaneamente como um estrangeiro curioso e um brasileiro apaixonado. Fascinavam-no a natureza indômita, os tipos humanos e as cidades que pareciam erguer-se do nada. Seu apuro técnico continua a impressionar. Um dos negativos, de 18 por 24 centímetros, recebeu uma ampliação de 5 por 7 metros. Mesmo assim, a imagem não sofreu nenhuma distorção.

A CONSTRUÇÃO DE UM PAÍS


Obras da ferrovia no cais de Santos, em 1880, num momento de efervescência da economia cafeeira. Como os mastros dos navios estão nus, presume-se que o porto estava sob quarentena



A Igreja de São Francisco em Ouro Preto, em 1880. Nessa imagem, Ferrez acentua o contraste entre a jóia barroca e a aglomeração de tropeiros na paisagem agreste



Largo da Sé de São Paulo, com a antiga catedral, também em 1880



Pequenos jornaleiros cariocas retratados em 1899



Avenida Central (atual Rio Branco), no Rio. Em 1910, ela era repleta de construções em estilo neoclássico

SEM CRISTO, SEM BONDINHO,
SEM FAVELAS NOS MORROS


As casas da Praia de Botafogo, em 1875, com o Corcovado intocado ao fundo



Antigo Cais Pharoux, em 1880, um dos locais preferidos de Machado de Assis. Nove anos depois dessa fotografia, saíram de lá os ferry-boats com os 5 000 convidados para o Baile da Ilha Fiscal, o último do Império



Encarapitado no alto dos 710 metros do Corcovado, Ferrez usou uma câmera panorâmica para captar a Enseada de Botafogo, em 1885, quando o Pão de Açúcar ainda estava longe de ter bondinho



Praia de Ipanema vista do Arpoador, em 1895. Ao longe, o Morro Dois Irmãos e a Pedra da Gávea

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