Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 16, 2006

Míriam Leitão - Alta velocidade


Panorama Econômico
O Globo
16/11/2006

As telecomunicações estão em pleno terremoto, com compras e fusões. Isso no mundo. No Brasil, há tremores localizados. A reestruturação da Telemar; a venda da TIM; compras que cruzam a fronteira da regulação, como a Telefônica na TVA. Novos produtos e desafios surgem, e a Anatel está há um ano desfalcada. Tem três conselheiros, e um está numa viagem de trabalho. Com dois, não há quórum nem para se reunir.

A última novidade que pode provocar uma revolução: a IPdrum, um líder emergente no setor de voz sobre IP, desenvolveu a possibilidade de conexão entre celular e skype dando mobilidade total em comunicação mundial: basta um cartão, não é necessário nem estar em área coberta por internet sem fio. Simplesmente skype via celular, sem pagar.

- Como é que fica agora se o serviço puder ser usufruído sem custo? - pergunta Raul del Fiol, da Trópico.

Lembra a crise da queda das ações das telecom na Bolsa de Nova York em 2001? Esqueça; aquilo foi há um milhão de anos, de tão rápido que este mundo se move.

- Na área de produção de equipamentos, Alcatel e Lucent se fundiram. Quem vai mandar? Talvez a Alcatel, algo impossível de se pensar tempos atrás, porque a Lucent vem da Bell System, um ícone do mercado americano. Siemens e Nokia se fundiram. Quem vai mandar? Talvez a finlandesa sobre o ícone alemão - conta Raul.

Tudo isso, diz, é reação preventiva aos chineses:

- Os chineses, através da empresa privada Huawei e da estatal ZTE, estão com uma política agressiva de invasão de mercados europeu e americano. Usam para crescer o mercado interno, e avançam com preços arrasadores, que conseguem pelo custo da mão-de-obra, moeda artificialmente desvalorizada e nenhuma legislação trabalhista.

Só para lembrar alguns casos dos últimos dois anos: nos Estados Unidos, a SBC pagou US$16 bilhões pela AT&T e depois foi engolida pela BellSouth. Sua rival Verizon comprou a MCI. Na Europa, a espanhola Telefônica comprou a operadora de celular O2 por US$31 bilhões. A NTL, operadora de cabo britânica, comprou a Virgin Mobile. A Vodafone, a maior operadora de celular, recuou e vendeu sua parte japonesa. Isso sem falar na ampliação das empresas de internet, como Google, Yahoo! e MSN. A Skype, líder do mercado de ligações grátis via internet, foi comprada pela eBay. Ufa!

No Brasil, a TIM vai vender seu serviço de celular porque precisa se concentrar em casa, onde decidiu investir em três áreas: telefonia, banda larga e distribuição de conteúdo (ou seja, na área das televisões). A dúvida é: quem comprará a TIM aqui? Os potenciais compradores são Vivo ou Claro. Mais a segunda que a primeira, pela avaliação de empresários do setor.

- Com a compra que a Telefônica fez na Europa, ela se comprometeu com os credores a não comprar mais nada por algum tempo. A Claro está com mais chances, mas antes é preciso ver se a Anatel concordaria com a concentração em São Paulo, única região onde só tem três operadoras - avalia Otávio de Azevedo, da AGTelecom, um dos controladores da Telemar.

A Brasil Telecom teria interesse, mas só na parte sul, pois a operação em todo o Brasil fica muito cara. A TIM, porém, só vende tudo junto. A decisão acabará sendo do Cade e da Anatel, mas aí só se saberá daqui a 18 meses, prazo para tramitar a discussão de um negócio como esse.

A Anatel está envolvida em questões como: pode o consumidor levar seu número de telefone de uma operadora fixa para outra? E de um celular? Se tudo der certo, a agência pode fazer duas reuniões este ano ainda, e decidir.

- Mais que isso não se conseguirá fazer. O conselheiro José Leite está há duas semanas na reunião da União Internacional de Telecomunicações, e temos dois desfalques. Até o fim do ano, devem ser nomeados os outros dois conselheiros - diz Plínio de Aguiar Júnior, presidente da Anatel.

Hoje ele e Pedro Ziller são "a" agência. Quando estão todos os três no Brasil, só se pode tomar decisão se os três concordarem porque se exige o mínimo de três votos para a aprovação.

Há questões pendentes que parecem simples, mas são mudança da regulação brasileira: a Telefônica comprou parte da TVA. Pode uma operadora de telefonia entrar em cabo? A Oi comprou a Way, uma pequena operadora de cabo de Minas.

- São atos de concentração e de convergência de uma concessionária numa área onde há restrição de atuação. Isso pode só ser resolvido no ano que vem - diz o presidente da Anatel.

O mercado acha que uma das razões da fraqueza da Anatel é a falta de recursos. Plínio de Aguiar diz que o Fistel recolhe anualmente R$2 bilhões e a Anatel só fica com 10%. Ficaria satisfeito com 30%.

- O setor tem mudado de forma frenética e a competição só vai aumentar - acredita Otávio Azevedo.

- Há muita coisa nova. A Deutsche Telecom e a Verizon querem investir para ampliar a capacidade e a velocidade do tráfego de internet, mas cobrar por ela. Quem quiser uma auto-estrada teria que pagar; quem não quiser pagar usa estradas laterais e congestionadas - conta Raul del Fiol.

- Os modelos de negócios estão mudando rapidamente - constata Plínio de Aguiar.

A dúvida de todos é se a regulação brasileira consegue acompanhar este ritmo da era da comunicação.

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