Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 16, 2006

CLÓVIS ROSSI O clássico ataque ao elo fraco

SÃO PAULO - A linha dura adotada em relação aos controladores de vôo é um clássico do poder público brasileiro, em todos os tempos: em caso de dificuldade, crise ou equivalente, a ordem é desapertar para cima dos mais fracos.
"Militarizar" os controladores, submetendo-os ao aquartelamento, é uma falsa solução. Pode até minimizar ou eliminar provisoriamente o caos aeroportuário, mas não ataca nenhum dos três problemas reais, a saber: baixos salários, más condições de trabalho e equipes reduzidas.
O salário de controladores de vôo nos Estados Unidos pode chegar a ser dez vezes superior ao de seus companheiros brasileiros. Os conformistas dirão: ah, mas a economia norte-americana tem uma tamanho mais de dez vezes superior à do Brasil. Logo, os salários estão ajustados à distância que existe entre um país rico e um país eternamente emergente, em desenvolvimento, que nome se queira dar à pobreza tupiniquim.
É um argumento a ser considerado. Pena que despreze o fato de que, seja qual for o tamanho da economia, cada controlador faz rigorosamente o mesmo tipo de trabalho, cá como lá. E as vidas que ajuda a preservar valem a mesma coisa, cá como lá, sejam as de norte-americanos, de tanzanianos, de brasileiros, de bengaleses, a nacionalidade que você quiser. A menos que a gente aceite abertamente a tese que já vigora na prática, de maneira encoberta, de que a bugrada tem menos direitos que os brancos do Norte.
Dá para resolver o problema de outra forma que não seja confinando os controladores? Não dá, porque aumentar salários e contratar mais gente, o que mudaria as condições de trabalho, depende de dinheiro que o Estado brasileiro não encontra, a não ser quando se trata de atender os superfortes, os rentistas, que estão levando 40% do Orçamento, ano após ano, e, no momento, 8% do PIB.
crossi@uol.com.br

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