O Globo |
9/11/2006 |
Mesmo que, para efeitos eleitorais, o presidente Lula tenha inovado na teoria econômica, afirmando que o Brasil não deve ser comparado a outros países, mas consigo mesmo, ele sabe perfeitamente que, num mundo globalizado, é impossível não se comparar, pois a competição internacional é intensa. Com a confirmação de que o crescimento do PIB brasileiro este ano será menor que 3%, com a redução da atividade industrial em setembro, já é possível fazer uma comparação do primeiro governo Lula com a economia mundial no mesmo período: cresceremos 2,7% em média, enquanto o mundo cresce a 4,8%.
Outras comparações servem para esclarecer por que estamos perdendo a corrida contra nossos competidores internacionais. Se pegarmos um estudo da Economist Intelligence Unit, órgão da revista inglesa "The Economist", veremos que existe uma relação direta entre o crescimento econômico e as taxas de poupança nacional e a de investimentos. Como vimos ontem, Brasil e México têm os mesmos problemas de crescimento medíocre, embora tenham conseguido - o México um pouco mais à frente que nós - bons resultados macroeconômicos. De 1994 a 2005, o Brasil cresceu em média 2,7% e o México, 2,9%. E tiveram praticamente as mesmas taxas de poupança interna em relação ao PIB (Brasil, 19%; e México, 20,1%) e de investimento (Brasil, 19,4%; e México, 19,4%). Países que cresceram mais que o dobro que nós pouparam e investiram muito mais também. O Chile teve uma taxa média de poupança interna nesse período de 22,1% do PIB; a Índia, de 24,3%; e a China, 41,4%. Com relação aos investimentos, o Chile aplicou 23,1% de seu PIB; a Índia 23,7%; e a China 36,1%. Em compensação, tiveram um crescimento médio espetacular no período: Chile 5,1%; Índia 6,5%; e China 9,6%. A capacidade de investir e de poupar tem a ver com o tamanho do gasto do Estado. No Brasil, o Estado tem aumentado seus gastos em cerca de 10% ao ano nos últimos dez anos. Outros exemplos internacionais com os quais podemos aprender: Irlanda e Suécia fizeram fortes ajustes fiscais em anos recentes, mas o primeiro terminou com um gasto público pequeno, o que levou ao crescimento econômico, enquanto a Suécia ainda tem um gasto público elevado, incompatível com crescimento econômico rápido. Ambos os países estavam entre os mais pobres da Europa no início do século XX, sendo que a Irlanda se mantinha nessa situação até 30 anos atrás. A Suécia tornou-se um dos países mais ricos do mundo, em 1973 era o segundo mais rico per capita da Europa e terceiro do planeta. Existem hoje pelo menos 20 países mais ricos que a Suécia, per capita, e ela vem se esforçando, com êxito, para recuperar a competitividade em nível internacional. No último ranking do World Economic Forum, ela pulou do sétimo para o terceiro lugar, enquanto os Estados Unidos caíram do primeiro para o sexto lugar. A Suécia vem reduzindo a carga fiscal, que é das mais altas do mundo - era de 50,8% em 2005 e a previsão é que em 2009 chegue a 47,5% -, e fazendo um superávit fiscal muito alto, aumentando de 2,8% do PIB, nos anos de 2005 e 2006, para 3,1% do PIB em 2009, dentro dos critérios da Comunidade Européia, que são mais rigorosos que o utilizado pelo Brasil, pois incluem os juros da dívida. A combinação de redução de impostos com superávit fiscal tem como objetivo um corte de despesas públicas de cerca de 3% do PIB por ano nos próximos três anos. |
Entrevista:O Estado inteligente
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