O Globo |
17/11/2006 |
A costura política que o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, já começa a fazer antes mesmo de assumir o segundo mandato, mostra bem o apetite com que está encarando uma candidatura à Presidência da República em 2010. Tanto ele quanto o governador eleito de São Paulo, José Serra, parecem vacinados contra cooptações políticas vindas do Palácio do Planalto, e ambos tratam de montar seus grupos políticos dentro do próprio PSDB, descartadas, por inviáveis, outras soluções menos ortodoxas, como a criação de um novo partido, ou a mudança, no caso de Aécio Neves, para uma outra legenda que o acolhesse de imediato como candidato natural à Presidência, evitando assim um embate interno com José Serra. Um novo partido, a exemplo do PSOL, não teria tempo de TV suficiente para deslanchar uma candidatura e dificilmente aceitaria um candidato "natural" de fora. Como em política nada acontece nem por acaso nem como se planeja com muita antecedência, pois o imponderável sempre pode dar o ar de sua graça, pode ser que no caminho surjam novas opções tucanas para a sucessão de Lula, ou alternativas viáveis ao aparente favoritismo do PSDB para suceder a Lula. O fato é que hoje tanto Serra quanto Aécio montam seus esquemas políticos coadjuvados, o primeiro pelo PFL e o segundo pelo PMDB. Mais adiante, será a vez de Serra passar a freqüentar mais outros estados, especialmente o Rio, para "despaulistizar" sua imagem política. Aécio costura acordos com governadores e políticos do eixo Sul-Sudeste na tentativa de neutralizar a hegemonia dos paulistas no PSDB, situação que traz naturalmente para o seu lado lideranças regionais tucanas como o presidente do partido, o cearense Tasso Jereissati, o amazonense Arthur Virgílio, a gaúcha Yeda Cruisus, além de governadores do PMDB como Sérgio Cabral, do Rio, e Paulo Hartung, do Espirito Santo. Sua pregação tem que ser cuidadosa para não transformá-lo no anti-paulista, pois ninguém consegue se eleger presidente do Brasil sem uma base forte em São Paulo e em Minas. Mas a história parece estar do lado de Aécio. O professor Romero Jacob, cientista político da PUC do Rio de Janeiro, lembra que o único momento da história do Brasil em que tivemos um período tão longo de paulistas na Presidência foi logo depois de Floriano Peixoto, quando foram eleitos sucessivamente Prudente de Morais, Campos Salles e Rodrigues Alves, representando doze anos de poder paulista. Para Romero Jacob, grande parte desses problemas não aconteceria se o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao aprovar a reeleição, não reproduzisse o comportamento de Washington Luiz tentando fazer um outro paulista, Júlio Prestes, seu sucessor, quando a vez seria de um mineiro, pela política do "café com leite". "Na história brasileira, de 1930 a 1994, foram 63 anos em que os paulistas não comandaram a Federação, com exceção dos nove meses do Jânio. Foram então pouco mais de 63 anos em que o poder rodou entre os gaúchos, os mineiros e os militares. Nós estamos vivendo a volta de um novo ciclo de hegemonia", afirma o professor da PUC. Ele lembra que havia uma briga entre mineiros e paulistas na República Velha, e depois os gaúchos ficaram no poder por 21 anos - 15 com Getúlio do primeiro governo, depois mais três de Getúlio de 1951 a 1954 e mais três de Jango -; os militares ficaram 21 anos no poder e agora os paulistas estão indo para 16 anos. "Acho que chega a um ponto em que se instala um certo cansaço no país em relação ao hegemonismo. Voltando a 1929, era a vez do Antônio Carlos e Washington Luiz lançou o Júlio Prestes como candidato. Aí os mineiros se aliaram aos gaúchos e, durante todo o período de 1930 a 1964, houve uma aliança permanente de mineiros com gaúchos contra os paulistas, o que impediu os paulistas de chegarem ao poder, a não ser com o Jânio". Para Romero Jacob, a questão regional é muito forte na vida brasileira, e ele tem uma visão peculiar para as movimentações políticas recentes, colocando-as sempre pela ótica dos interesses regionais: "O ex-presidente Itamar investiu em dois ministros para sucedê-lo: Antonio Brito, da Previdência, e Fernando Henrique, da Fazenda. Ele preferia o Antonio Brito, para reeditar a velha aliança dos mineiros com os gaúchos e impedir o hegemonismo de São Paulo". Tendo dado Fernando Henrique, diz Romero Jacob que a expectativa de Itamar era de que os paulistas não reproduzissem 1929 e de que voltaria a velha política do café com leite. "A reeleição envenenou essa relação". Ele acha que, apesar de o núcleo duro inicial do governo Lula ter sido paulista, a composição do ministério foi mais representativa do país, com ministros gaúchos, mineiros e cariocas. Para Romero Jacob, "como quem, na verdade, trouxe problemas para o governo foram os petistas paulistas, (Palocci, Gushiken, Dirceu) hoje, quem manda no governo Lula são mineiros e gaúchos: Dilma Roussef, Tarso Genro, Patrus Ananias, Luiz Dulci". "João Goulart, entre a memória e a história", é um livro da editora da Fundação Getúlio Vargas que está sendo lançado com a intenção de resgatar a trajetória desse político gaúcho, que a historiadora Marieta de Moraes Ferreira, coordenadora do livro, lamenta ter sido "relegado ao esquecimento". O livro tem trabalhos sobre as diversas facetas de Jango e de seu período como ministro do Trabalho, as reformas de base, a mobilização anticomunista que levou ao regime militar e sua atuação na Frente Ampla, contra esse mesmo regime. A historiadora Alzira Alves de Abreu analisa o papel da imprensa na derrubada de Jango. |
Entrevista:O Estado inteligente
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