Panorama Econômico |
O Globo |
17/11/2006 |
O Brasil muda; lentamente, mas muda. A riqueza do país está menos concentrada hoje no Sudeste que há 20 anos, ainda que a região continue respondendo por mais da metade do PIB nacional. Em duas décadas, o Sudeste perdeu 5,3 pontos percentuais de participação no PIB. Se tivesse hoje a mesma participação de 1985, a região teria R$93 bilhões a mais. Ou seja, é como se o Sudeste tivesse perdido um país do tamanho do Equador. O IBGE divulgou ontem os dados do PIB por estados em 2004, mas deu também um balanço de 20 anos da evolução dessa divisão das fatias do bolo. O Brasil ainda é muito desigual: o Sudeste representa 54,9% de toda a produção de riqueza do país. Norte e Nordeste foram as regiões que mais aumentaram sua participação no PIB em 2004, enquanto Sul e Sudeste perderam espaço. A agropecuária vem perdendo sua força nacionalmente, com exceção do Centro-Oeste, que aumentou a participação no PIB com o avanço da fronteira agrícola. Isso parece contraditório com o crescimento do agronegócio e o volume de divisas que o setor produz para o país. Mas parte do que é exportado de alimentos já é considerada produto manufaturado. Os números foram coletados em conjunto com as Secretarias de Planejamento dos 26 estados e do Distrito Federal. Os dados mostram que, em 2004, as regiões que praticamente garantiram a reeleição do presidente Lula já estavam vivendo dias melhores. O Nordeste passou a responder por 14,1% do PIB nacional (era 13,8% em 2003) e o Norte por 5,3% (era 5%). Em 2004, o Estado do Amazonas foi o que mais cresceu: 11%. O Sul do país já estava em recessão, situação que persistiu nos anos seguintes. Olhando mais para trás, desde 1985, a série mostra que o que vem ocorrendo é uma leve desconcentração da riqueza do Sudeste. Em 1985, 60% da produção vinham da região. Hoje o número é de 54,9%. Essa perda de participação na economia nacional é principalmente do Estado de São Paulo. O estado continua crescendo, mas perdeu parte da sua enorme fatia. Em 1985, era 36% do PIB nacional, hoje é 30,9%, ou seja, ainda é um terço da geração de riqueza brasileira! Entre 1985 e 2004, o Rio de Janeiro, o segundo maior estado em PIB, e Minas Gerais, o terceiro, praticamente mantiveram a mesma participação. O único movimento que houve foi que, no início dos anos 90, o Rio chegou a perder relevância, quando sua agropecuária diminuiu e a indústria também ficou menor. Naquela época, o PIB fluminense ficou bem próximo do de Minas, mas, logo após, com o investimento maciço da Petrobras na exploração de águas profundas, o estado retomou sua participação relativa. A estatal é 28% do PIB do Rio. O estado produz 80% do petróleo nacional e é ele quem garante que o Rio continue crescendo. O petróleo está fazendo também alguma diferença em Sergipe, estado que já foi o quarto maior do Nordeste, passou para penúltimo, e agora volta a crescer. Esses números do IBGE, sobretudo na série de 1985 para cá, contam muito das mudanças, problemas, boas novas em cada região ou estado. A Bahia, por exemplo, caiu muito de 1985 até 1990, e só agora está voltando a ter o tamanho que tinha na economia brasileira. Foi o peso da crise do cacau. A agropecuária continua sendo muito importante nacionalmente - principalmente na exportação -, mas diminuiu sua participação de 11% da economia total para 9,5%. O país é hoje bem mais industrial. No Norte, a agropecuária era 18,1% e é hoje 12,5%. No Sudeste, onde tem a menor participação proporcional, saiu de 6,9% para 5,5%. No caso, foi a agropecuária de Minas Gerais que perdeu força mas, mesmo que a participação do campo seja pequena para a região, São Paulo é tão importante nacionalmente que continua responsável por um quinto da produção agropecuária do país. No Nordeste, a importância do campo caiu muito: de 17% para 9,8%, com tendência de alta. A Região sofreu com a seca do fim dos anos 80, mas descobriu alternativas de produção que já estão tendo impacto na economia, como as fruticulturas do Vale do São Francisco. Para o Sul, a agricultura continua importante, ainda que tenha saído de 19,7% para 16,4%. A única região que se tornou mais agrícola foi a Centro-Oeste, puxada pela soja e pelo gado. Hoje a agropecuária responde por 20% da economia regional. A soja também explica parte do crescimento do Norte. - A agropecuária tende a perder participação e os serviços é que têm ganhado espaço. No Norte e no Nordeste, ainda se mantem um peso enorme do setor público; em Roraima, por exemplo, ele é 58% do PIB do estado - destaca Frederico Cunha, economista do IBGE. Na comparação entre 2004 e 2003, o peso do setor público aumentou no Norte e no Nordeste. No primeiro, ele equivale hoje a 19,2% do PIB regional e, no segundo, o peso do Estado é ainda maior: chega a 21,6%. A desconcentração é saudável, porque torna a Federação um pouco menos desigual, mas o ideal é que todos os estados cresçam - de preferência, diminuindo a grande dependência que os menores estados têm do setor público - e que cada região consiga encontrar sua vocação. Se os próximos anos mostrarem a Região Norte crescendo puxada pela soja e a pecuária, pode ser uma péssima notícia para o Brasil. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, novembro 17, 2006
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