Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 04, 2006

Islâmicos dominam o Conselho de Direitos Humanos

O conselho dos direitos islâmicos

Domínio muçulmano leva órgão de direitos
humanos da ONU a defender ditaduras


Thomaz Favaro

Criada em 1946, a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas foi tomada pelos representantes das piores ditaduras e virou uma farsa. "Uma sombra na reputação das Nações Unidas como um todo", na definição do secretário-geral Kofi Annan. Em junho, o órgão desprestigiado foi substituído pelo Conselho de Direitos Humanos, cujos membros devem, em tese, respeitar os tais direitos para manter o mandato. A emenda saiu pior que o soneto. Tomado pelos representantes de países islâmicos, o novo organismo é ainda mais desastroso do que seu antecessor. Em vez de fiscalizar o respeito aos direitos humanos, o conselho transformou-se numa tribuna em que árabes e muçulmanos em geral exercitam o ritual dos discursos antiisraelenses. Quem deu o tom nas quatro reuniões do conselho realizadas até agora – a primeira foi em junho – foi a Organização da Conferência Islâmica, um grupo de países árabes que detém dezessete das 47 cadeiras da entidade.

Anwar Amro/AFP
A cantora pop libanesa Haifa Wehbe: apoio ao Hezbollah para escapar da ameaça dos mulás


Como as vagas foram distribuídas proporcionalmente por regiões do globo, sem levar em conta os critérios de respeito aos direitos humanos, o conselho tornou-se um simulacro, na esfera diplomática, do conflito global. De um lado estão as democracias – Japão, Canadá e países da União Européia –, com onze cadeiras. Do outro lado, os países muçulmanos, que somam seus votos com Cuba e outras ditaduras da África e da Ásia para barrar qualquer resolução que condene atos de desrespeito aos direitos humanos, exceto, evidentemente, aqueles cometidos por Israel. Como as decisões são tomadas por maioria simples, não há possibilidade de um resultado honesto. O grupo majoritário tem como objetivo proteger seus próprios membros e aliados. Donos de péssimos prontuários no que se refere aos direitos humanos, eles não querem abrir precedentes que poderiam acabar sendo usados contra eles mesmos.

Entre as resoluções que já foram barradas está a que condenava a guerra em Darfur, no Sudão, país governado por fanáticos islâmicos, que matou 200.000 pessoas desde 2003. A resolução contra a guerra civil no Sri Lanka, que já dura mais de duas décadas, também foi derrubada. Os membros europeus do conselho têm tentado colocar em discussão as denúncias de tortura no Uzbequistão e a dupla pena de morte no Irã – punição que consiste em enforcar um condenado, retirá-lo da corda pouco antes de morrer e depois enforcá-lo de vez. O grupo islâmico já avisou que vetará todas essas discussões.

O conselho tem-se mostrado mais eficaz em atazanar Israel. O país esteve na pauta de todas as reuniões da entidade até agora. Duas delas foram convocadas especialmente para aprovar resoluções condenando os israelenses por violações de direitos humanos nos territórios palestinos e no Líbano. O documento final sobre a guerra no Líbano omitiu o fato de que o conflito começou como uma resposta de Israel a ataques do grupo terrorista libanês Hezbollah. Aderir ao mantra antiisraelense é a melhor forma de fazer amigos entre os países islâmicos – e isso serve até para a bela cantora libanesa Haifa Wehbe. Ameaçada pelos mulás que não gostam de suas roupas ousadas e namoros escandalosos, Haifa foi perdoada depois que passou a defender o Hezbollah. Mais difícil é entender por que países como Argentina, México e Brasil votam em bloco com as ditaduras. "Essa posição baseia-se em uma visão ultrapassada de que os países em desenvolvimento devem se unir contra as nações ricas", disse a VEJA a canadense Anne Bayefsky, especialista em direitos humanos do Instituto Hoover, em Washington. É, pode ser.

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