Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 04, 2006

Delegado diz que houve interferência para abafar o caso

"Era para dar um jeito"

Delegado confirma operação da PF para
isolar o governo do escândalo do dossiê

Clayton de Souza/AE
Edmilson Bruno: a PF tenta destruir sua credibilidade para livrar-se de acusações

O PT e o governo vêem no delegado federal Edmilson Bruno, responsável pela prisão de petistas que negociavam a compra de um dossiê falso contra tucanos, um homem de muitas facetas. Quando forneceu à imprensa as fotos do 1,7 milhão de reais apreendido, Bruno foi acusado por parte da cúpula petista de ser um solerte agente tucano infiltrado na PF. Outros sugeriram tratar-se de um mercenário que vendera as fotos para alimentar repórteres ávidos por sabotar a candidatura do presidente Lula. Como a Justiça Federal inocentou Bruno, arquivando o inquérito policial sobre o vazamento das fotos do dossiê, essas duas visões caducaram. Por isso, quando os jornais divulgaram na semana passada o teor de um depoimento de Bruno ao Ministério Público Federal, o governo e o PT apressaram-se em criar outros dois personagens para Bruno. Era mesmo preciso – na lógica petista, é claro.

Nesse depoimento, o delegado confirmou a operação abafa denunciada por VEJA em sua edição de 18 de outubro. Essa operação, deflagrada na PF em São Paulo, consistiu em afastar do escândalo do dossiê o nome de Freud Godoy, ex-assessor especial do presidente Lula. De acordo com Bruno, o governo não só interferiu na condução do caso como os chefes da Polícia Federal em São Paulo cercearam a investigação. Pouco antes das prisões, o diretor da PF em São Paulo, Severino Alexandre, chegou a fazer a seguinte recomendação: "Olha bem o que você vai fazer. Está mexendo com peixe grande". Quando soube que duas pessoas (e não apenas uma) haviam sido presas, o mesmo Severino teria ido à loucura. "Olha o problema que criou para o governo, como vou costurar isso? Era para dar um jeito." Explica-se. Segundo Bruno, não estava nos planos de Severino prender Gedimar Passos – ex-policial federal que entregou o nome de Freud e revelou que a operação de compra do dossiê fora determinada pelo PT. As declarações de Bruno também deixam patente toda a articulação da cúpula da polícia e do governo para evitar que o caso respingasse no presidente Lula.

Segundo depoimento, a prisão do petista Gedimar Passos não estava nos planos da PF

A PF reagiu ao teor do depoimento, sugerindo que Bruno sofre de algum distúrbio mental – eis aí o terceiro personagem, o maluco beleza. "Eu não sei o que está acontecendo com Bruno. Espero que ele se recupere logo e volte a seu estado normal", disse o superintendente da Polícia Federal em São Paulo, Geraldo José Araújo. Já o ex-petista Gedimar Passos, aquele que foi preso sem querer, criou um quarto personagem para o delegado. Em depoimento prestado na quarta-feira passada, no inquérito da PF que finge apurar a "operação abafa", Gedimar disse que Bruno é um policial maquiavélico, capaz de selecionar o nome de Freud numa pesquisa rápida na agenda de celular apreendido. Depois, numa "coação psicológica", Bruno teria forçado Gedimar a dizer que Freud fora o responsável por tudo, para implicar o presidente Lula. Fica difícil acreditar que existam tantos personagens num homem só.

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